quarta-feira, 13 de julho de 2016

Video e Formação: um olhar do Summer School Sirem 2016


“Video como instrumento de pesquisa reflexiva para a formação”. Esse foi o tema do Summer School da SIREM, realizado em Cagliari, na Sardegna, entre os dias 29/6 a 01/7/2016.

 A “Análise de vídeo” foi o foco da proposta da Profa. Rossella Santagata, University of California, Irvine (USA), com intenção de pensar a formação o mais próxima possível da prática, de modo a “aprender a partir do próprio trabalho em sala de aula”. Ou seja, refletir sobre a profissionalidade docente que se constrói a partir da análise e reflexão das práticas. A professora destacou o uso do vídeo como um interessante instrumento de formação, visto que a partir dos registros audiovisuais das situações de ensino-aprendizagem é possível se perguntar sobre a aula, como foi planejada, como os estudantes participaram e construíram suas aprendizagens para reestruturar a continuidade. O interessante nessa proposta é a possibilidade : identificar os objetivos, analisar as aprendizagens demonstradas pelos estudantes e como expressam seu pensar, analisar as escolhas didáticas, e como fazer diferente do que foi feito (outra forma de perguntar, de pensar, de organizar o grupo) como alternativas para que novas escolhas possam repercutir na aprendizagem. Desse modo, a profa. Santagata adota um modelo global da análise, Lesson Analysis Framework,  como um guia para a visão (a partir do registro audiovisual da aula) de modo a permitir um trabalho sobre as evidencias para identificar o que os alunos dizem/sabem/demonstram, o que não sabem e o que falta. Ou seja, a análise facilita o trabalho de tornar a compreensão dos alunos visíveis para o professor . Aliado a isso, se faz uma análise das escolhas didáticas: quais escolhas parecem ter favorecido a aprendizagem? Quais escolhas não foram adequadas? Sobre o que baseamos nossas reflexões? Para desenvolver tal olhar, há outro modelo de análise de vídeo, a Classroom Video Analysis, que possibilita identificar e problematizar como os professores raciocinam a partir do que veem em suas práticas. Como as práticas não são estanques, há uma série de perguntas como ideias-chave que o professor pode se fazer de modo a melhorar sua prática pedagógica, ancorado não apenas em hipóteses e intuições mas sobretudo em evidências como indicadores para ajudar na (auto)formação.

“O uso do vídeo na formação inicial e continuada” foi o tema do Prof. Pier Giuseppe Rossi, Università di Macerata. Ele discutiu uma experiência desenvolvida no curso de formação  baseado no principio da alternância (no trabalho na escola e no mundo universitário),  na teoria da ação a partir do diálogo entre sujeito e situação em que o vídeo é uma possibilidade para evidenciar as intencionalidades da ação, e as capacidades de interpretar as situações de sala de aula. o olhar profissional. Nesse sentido, ele apresentou sua experiência com o uso do vídeo no currículo da formação a partir de laboratórios propostos na Didática, no planejamento e desenvolvimento do estágio e na auto-observação e reflexão na ação. Isso me lembrou uma experiência que desenvolvi com uma turma de Pedagogia na UFSC, na disciplina de Estágio nos Anos Iniciais, quando trabalhamos com o vídeo de modo a registrar as performances das estudantes em sala de aula para que posteriormente pudessem “se ver no exercício da docência ” e discutir sobre a experiência, na perspectiva da vídeo-pesquisa. Sem dúvidas, um importante instrumento para alicerçar a reflexão e pensar nas escolhas didáticas.

“O vídeo visto pelo sujeito”, foi o tema da profa. Patrizia Magnoler, Università di Macerata, que enfatizou a importância de quem faz a ação poder se ver nela. A partir de uma pesquisa sobre as possibilidades da formação continuada incidir na transformação de suas práticas, ela discutiu a cultura profissional do professor a partir de um percurso de pesquisa-formação, desenvolvida de forma colaborativa. Identificando os espaços de mudança dos atores da pesquisa no próprio percurso da investigação, ela destacou o papel do vídeo no registro das práticas como possibilidade de guiar o olhar para identificar os próprios “nós”, simular um replanejamento de modo a possibilitar mudanças articuladas no ambiente. O percurso da ação envolve: perceber, significar, antever, planejar, agir, avaliar. E mais uma vez o vídeo é entendido como um instrumento que ajuda a refletir sobre a prática, e consequentemente, aprender com ela.

Por fim, a participação da Profa Marguerite Altet, Université de Nantes, França, e seus “Aportes de pesquisa sobre Ensino-Aprendizagem a partir da observação de práticas de ensino e alunos”. O ponto de partida da reflexão foi a articulação dos três campos: relacional, pedagógico e didático na proposta de uma tabela de observação de uma sequencia de sala de aula, em que os indicadores sugerem as “dimensões de  bom professor” . Ela destaca que embora seja utilizado como instrumento de pesquisa, também pode ser usado pelo próprio professor e na formação, pois para ela, “o professor pode se auto-avaliar e assim mudar sua prática”.

Por fim, o Congresso Internacional “Video digital e formação de professores”, coordenado pelos Professores Giovanni Bonaiuti e Giuliano Vivanet, ambos da Università di Cagliari. Nesse dia, uma amostra de diversas pesquisas desenvolvidas em diferentes universidades do país sobre o tema vídeo, com a presença dos professores acima mencionados, Alberto Cattaneo, Istituto Universitario Federale per la Formazione Professionale (CH), Pier Cesare Rivoltella, Università Cattolica del Sacro Cuore di Milano, Laura Menichetti, Università di Firenze, Ettore Felisatti e Pietro Tonegato, Università di Padova, Giuseppe Tacconi e Maurizio Gentile, Università di Verona, Ira Vannini, Università di Bologna, Maria Chiara Pettenati, INDIRE – Firenze, professores que têm participado das pesquisas com/sobre vídeo na formação e outros profissionais. Uma bela possibilidade de construção de redes.


Como não poderia deixar de mencionar, os encontros informais durante o evento asseguraram não apenas uma maior possibilidade de interação com colegas como agradáveis momentos de descontração num cenário marcado pela beleza, pelos sabores e  outras peculiaridades que fazem da Sardegna um lugar tão acolhedor...

Nenhum comentário: