quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Vestígios de uma aprendizagem

Muito se discute sobre o ritmo dos trabalhos em geral, e particularmente, na universidade. E nesse momento do ano, de fechamento e abertura,  parece que o inevitável cansaço nos impele a novos propósitos. Pensando bem e apesar de tudo, foram muitas aprendizagens e em diversos níveis.

O desafio de ensinar/aprender/compartilhar/construir novos saberes nas salas de aulas, nas orientações, nos grupos de pesquisa, nos eventos, e nas bancas. Enfim, nos diferentes momentos e compromissos da vida acadêmica sempre temos a oportunidade de nos formar. E aqui gostaria de agradecer por todas essas possibilidades que deixaram seus vestígios e que de uma forma ou de outra prometem novas parcerias.

A participação na Banca de Defesa da Tese de Doutorado A constituição da docência no ensino médio no Brasil contemporâneo: uma analítica de governo, de Roberto Rafael Dias da Silva, defendida na UNISINUS, sob orientação de Eli Terezinha Henn Fabris, foi um desses momentos especiais.Tanto pela possibilidade de diálogo com o trabalho em si, como pelo diálogo a partir dos diversos olhares dos colegas da banca sobre o mesmo trabalho. Arquitetura de um trabalho primoroso, erudição sem hermetismo que captura o sujeito de si...

Encontrar colegas e amigos em eventos como INTERCOM, ANPED, SOCINE, para além das trocas científicas e acadêmicas revela a importância das trocas afetivas e as possibilidades de novos trabalhos e pesquisas em parceria, que trazem o desafio de lidar com o pensar diferente. Por isso mesmo tão instigante e enriquecedor.

Conhecer projetos e experiências que tratam de questões afins aos temas que nos mobilizam  é sempre muito gratificante. Foi assim com o Programa de Alfabetização Audiovisual, da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura de Porto Alegre, que em parceria com a FACED/UFRGS, organizou  o Painel A Presença do Audiovisual na Escola. Compromisso com a formação, sensibilidade, cultura e arte revelado no trabalho das organizadoras do evento Maria Angelica dos Santos, Andrea Merlo, Maria Carmem Barbosa com colaboração e parceria de  Giba Assis Brasil, Ana Luiza Azevedo, entre muitos outros que atuam no circuito cinema e educação.

As inúmeras aprendizagens  e experiências éticas e estéticas que são construídas junto ao grupo de pesquisa e que o trabalho de orientação também propicia. Entre os que ficam e os que estão de passagem, o desafio de configurar um trabalho coletivo assegurando a autoria de cada um nesse movimento e seus tantos deslocamentos.

Por fim, o trabalho de coordenação de um curso e a possibilidade de olhar outros aspectos que constituem o processo formativo de estudantes e professores. Para além das questões administrativas e institucionais, a possibilidade de promover um processo de avaliação de um currículo em implantação inevitavelmente coloca em jogo diversas demandas, um quebra-cabeça que  por vezes se parece mais como um cubo mágico: o lado dos estudantes e suas reivindicações, o lado  dos professores e suas questões, o lado dos departamentos e suas condições, o  lado dos servidores, da direção, das pro-reitorias, da reitoria, sem falar no lado das exigências do próprio ministério da educação e seus sistemas de avaliação. É nesse processo que situo as aprendizagens que a coordenação de um curso propicia: aprender a lidar com o avesso do avesso dos diversos interesses que constroem o próprio curso.

Obviamente muitas outras pessoas e situações fizeram parte desse processo e deixaram suas marcas... tal como cada musicista de uma orquestra que vai regendo sua própria música, como mostra este belo vídeo da Youth Orchestra of Bahia e seu Tico-Tico no fubá, que recebi de um amigo e compartilho!



sábado, 3 de dezembro de 2011

Um olhar para educação, mídia e vida cotidiana


A disciplina  Educação, Mídia e Vida Cotidiana - ministrada pela Profa. Dra. Lynn Alves  e pelo Prof. Dr. Augusto Cesar Rios Leiro  no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual da Bahia, PPGEduc da UNEB, em Salvador - trata da relação entre as categorias teóricas educação e mídia sob o olhar da vida cotidiana, estuda as diversas possibilidades midiáticas e analisa criticamente as experiências nesse campo. Como o diálogo com diversos professores e pesquisadores de áreas afins faz parte da proposta do plano de atividades da disciplina, fui convidada para participar do encerramento do semestre, no dia 2/12/2011, com a palestra Educação e Mídia: olhares e desafios.

O início do trabalhos começou com uma breve performance teatral para divulgar o espetáculo Quem é ela , que tem no elenco uma estudante da disciplina. Ao trazer fragmentos do universo feminino sobre a condição de muitas mulheres, a intenção era trazer um pouco do teatro à universidade como convite ao debate de temas como: preconceito, submissão, violência, assédio, agressão, poder e força feminina, enfatizando aspectos da Lei Maria da Penha. E isso foi feito com arte, humor, música, poesia, informação e grande presença de cena. 

Ao assistir e me divertir com certas cenas do cotidiano, representadas naquela performance artística no espaço de uma sala de aula, fiquei pensando no quanto a arte e a cultura podem qualificar nosso trabalho em educação. Nesse caso, a disciplina poderia ter sido lindamente encerrada com a leveza deste divertido momento.

No entanto, tinha que fazer a minha parte, e como planejado, iniciei minha fala  trazendo também alguns elementos de outra arte, o documentário Janela da alma (de Joao Jardim e Walter Carvalho), para pensar educação, mídia e cultura a partir da dimensão do olhar e do fazer na cultura digital. Calvino e a visibilidade como valor literário, o fotógrafo cego Bavcar e a cegueira generalizada, o diretor cinematográfico Wenders e a questão do enquadramento das imagens que devem servir às histórias, e o escritor Saramago sintetizando a possibilidade desse nosso jeito de ver que é único foram a inspiração para o estranhamento no pensar as diferentes enunciações, os diversos modos de ver e atuar na complexidade desses espaços plurais em que nos constituímos. Entre visibilidades e cegueiras, imagens, enquadramentos e possibilidades de ver, a intenção era problematizar o atravessamento da mídia na vida cotidiana buscando elementos para pensar a mediação pedagógica entre público-privado e aprendizagem formal-informal num momento em que crianças e jovens são cada vez menos espectadores e cada vez mais atores e produtores de imagens e mídias que compartilham nas redes sociais. 

Essas novas formas de práticas culturais e de consumo situam-se no contexto da sociedade multitela, onde certas tecnologias entendidas como objetos sociais podem ser vistas como verdadeiros atores sociais no entendimento de E. Goffmann. Para ele, o mundo digital é um  cenário de ação e nesse cenário,  por exemplo, o celular pode ser visto como um ator social, uma vez que também atua no espaço, faz coisas e nos faz fazer coisas também, sendo mais que uma simples ferramenta. E a partir desse exemplo, os usos de outras tecnologias também estão modificando a relação entre esfera pública, mídia digitais e educação, fazendo-nos pensar em outras relações entre a ordem da visão, ação e participação na cultura. 

O entendimento da mídia como cultura, para além da dimensão ferramenta, implica perceber também outras possibilidades em relação aos direitos civis e à construção da cidadania política, social e cultural. Entre as diversas possibilidades, estão as que a cultura digital promove sobretudo a partir das tecnologias móveis, e isso traz outros elementos para pensar a mídia-educação. Afinal, as formas da cidadania desafiada pelas novas mídias sugerem que o paradigma da leitura crítica parece ser insuficiente para pensar uma produção ética-estética responsável, levando alguns estudiosos da área a falar em new media education.

Na direção de uma abordagem ecológica e culturalista da mídia-educação, podemos redimensionar seu o entendimento para além de um campo em construção pensando em posturas mídia-educativas. Afinal, o contexto da cultura da convergencia de tecnologias e linguagens traz outras demandas para entendermos as diferentes formas e apropriação das múltiplas linguagens ou multiliteracies, dos novos letramentos e suas produções escritas, visuais, audiovisuais, musicais, teatrais, corporais, digitais, etc.  E nessa perspectiva de entender a mídia-educação também como linguagem e postura, a mídia-educação pode tornar-se a própria educação, como defende Rivoltella.

Em tal abordagem, as possibilidades de pesquisa no campo da mídia-educação nos desafiam a pensar crianças, jovens e professores e suas relações com a cultura, tais como algumas investigações sobre crianças e cinema; usos das mídias, consumos culturais e competências digitais dos professores; tecnologias móveis e seus desafios teórico-metodológicos. Aliado a isso, o desafio das dimensões educativa, política e ativista para configurar a escola como lugar de educar  sobre, com e através das mídias como possibilidade de formação de si, devir, descoberta e construção de novas formas de participação. 

No momento da discussão de algumas destas questões, a evidência de diversas inquietações de projetos de pesquisas que aproximam pessoas, e que por sua vez realizam estudos afins e configuram outras possibilidades fechar um trabalho e de fazer um outro começo de conversa...

Por fim, não posso deixar de mencionar a gentileza na acolhida, na hospitalidade do grupo e na deliciosa companhia às atividades gastronômicas e culturais, que afetivamente trazem mais sabor ao saber e aos nossos modos de ser.