segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pesquisa e formação



Nesses primeiros dois meses de ano letivo pude acompanhar  a apresentação de 5 pesquisas desenvolvidas no campo da educação e comunicação em diversos programas de pós-graduação que gostaria de compartilhar.

Começando com Khilá: (des)encontros da voz na travessia Brasil-Moçambique, Roselete F. de Aviz de Souza  analisa a voz como devir buscando compreendê-la  como “presença, silêncio, escuta, testemunho, transmissão e memória” a partir de Deleuze e Guattari, Barthes, Derrida, Zunthor, Ngwenya, Noronha e muitos outros. Trabalho profundo e sensível, o texto poético com estética singular reflete sobre a viagem educação e formação, foi lindamente orientado por Gilka Girardello no PPGE/UFSC. Sua defesa foi um acontecimento para o NICA UFSC/CNPq, grupo de pesquisa em que Roselete participa.

Da voz para televisão foi a viagem necessária para acompanhar o trabalho de Ana Gabriela Simões Borges, Televisão e educação: um estudo sobre o projeto Televisando o futuro na escola, orientado por Rosa Maria C. Dalla Costa, no PPGE/UFPR .  Ao verificar de que forma a televisão está presente no cotidiano escolar e suas possibilidades de trabalho em sala de aula a partir do projeto Televisando o Futuro, Ana Gabriela fundamenta sua pesquisa com Martín-Barbero, Soares, Citelli, Dalla Costa e outros enfatizando a perspectiva da educomunicação.

De Curitiba para Maringá, o encontro com Educação escolar e desenho animado japonês: um estudo o anime Naruto, desenvolvido por Priscilla Kalinke da Silva e orientado por Fátima Neves, no PPGE/UEM, destaca um processo de mediação pedagógica a partir da recepção do animê Naruto com adolescentes de uma escola pública. Com referências mídia-educação e dos estudos da cultura escolar, o destaque para entender como o animê participa da construção da cultura escolar também evidencia a relação entre educação e comunicação na escola.

De Naruto para O menino Maluquinho, o trabalho Meninos e Meninas: uma análise do Menino Maluquinho, o  filme, sob o olhar do gênero, de Rosânia Maria S. Bittencourt, orientado por Giani Rabelo, PPGE/UNESC, tenta compreender o olhar das crianças sobre as relações de gênero e sexualidade a partir do referido filme. A pesquisa foi cuidadosamente desenvolvida com crianças e amparada em estudos de Foucault,  Sarmento, Kohan, Fischer, Fantin e outros confirmando que na contemporaneidade certas  “verdades deixam de ser permanentes para se tornarem temporárias”.

De Criciúma para Salvador, a discussão sobre criança e cultura continua com a pesquisa Escola, criança e o mundo encantado das marcas: desafio docente em (com)texto de sedução publicitária, desenvolvida por Elizabeth Carvalho Dantas e orientada por Augusto Cesar R. Leiro, no PPGE/UNEB. Ao pensar o  imaginário infantil povoado por símbolos e marcas da propaganda em uma cultura do consumo, o trabalho problematiza o discurso publicitário dirigido à criança e discute a escola como espaço comunicante  no  contexto da “comunicação mercadológica na contemporaneidade” a partir de referências dos estudos da publicidade, da cultura e da mídia-educação .

Evidentemente, a temática de cada tese e/ou dissertação promoveria uma infindável discussão e remeteria a muitos outros aspectos que fizeram parte dos desdobramentos de cada trabalho. Questões e tensões que revelam como a construção do olhar do pesquisador pode seguir diferentes (des)caminhos e estilos que trazem importantes contribuições para pensar a pesquisa e a formação.

Por fim, entre tantas marcas que tais percursos deixam e parcerias que consolidam, a certeza de ver como é lindo aprender não apenas com os trabalhos em si, mas com os diálogos possíveis e necessários a partir dos diferentes jeitos de avaliá-los e comentá-los.  E nesse momento, a pesquisa se veste de formação...

sábado, 21 de abril de 2012

Cinema, crianças e educação na feira do livro


A ideia inicial era participar de um bate-papo informal com professores na Feira do Livro de Joinville sobre o livro Crianças, cinema e educação: além do arco-íris. No entanto, tal idéia se transformou numa palestra sobre o mesmo para um público de cerca de 300 professores, com a apresentação de Solange Coral e a mediação de Roselete Aviz de Souza, que também relatou experiências de produção de audiovisual com crianças e adolescentes.

Nessa palestra/bate-papo ficaram evidentes as diferentes possibilidades de pensar o cinema:  como arte, cultura e educação. Educação que pode ser entendida como formação, transformação e auto-formação, onde as experiências  de leitor, espectador, intérprete e “co-autor” de livros e filmes pode se transformar em práticas educativas e culturais de professores e pesquisadores.

 O cinema na escola se justifica por ser  um cruzamento de práticas sociais diversas, por ser instrumento de difusão do patrimônio cultural da humanidade, por ser documento da história e pela possibilidade de educar para e com o cinema, diz Rivoltella. Com os filmes, temos a possibilidade de interagir com diferentes culturas, representações e imaginários e ter um repertório comum a partir desse  ambiente simbólico que envolve emoção, atividade cognitiva e investimento psicológico.

Se alguns filmes se colocam ao lado de outras produções da ciência, da arte e da literatura, certos filmes tem o poder de restituir o visível da realidade sociocultural no momento em que a história está se construindo.  Por tudo isso, podemos entender o cinema como instrumento de aprendizagem e objeto de conhecimento e enfatizar a possibilidade de educar para e com o cinema.  

No entanto, na maioria das vezes, os usos do cinema e dos filmes na escola nem sempre seguem tal perspectiva. Sendo uma das mídias mais utilizadas por professores em suas aulas, seja para enriquecer ou  ilustrar conteúdos, seja para instigar a temática de certos projetos, ainda é muito evidente o uso de filmes como “substituição”, sobretudo quando falta professores.  E o significado de tal prática pode ser problematizado diante de todo o potencial que os filmes trazem para a educação.

Na perspectiva dos novos letramentos, o cinema se transforma numa bela possibilidade de trabalhar os códigos da linguagem audiovisual  e suas produções de sentido  na esfera visual  (luz, cor, campo, planos; movimento dos personagens e das máquinas; cenografia; efeitos especiais; escrita; montagem) e na esfera auditiva (sons, falas, diálogos; ruídos, música) junto com os demais  tipos de representação: escrita, visual, musical, etc.




Pensar o cinema na prática pedagógica  implica em pensar num planejamento da atividade que envolve o cenário da exibição, critérios de escolha e adequação dos filmes, informações sobre a contextualização da obra (filme e diretor) para provocar curiosidades,  momento da exibição/ fruição/ apreciação, e dependendo da intencionalidade educativa, é possível aprofundar as primeiras impressões através de possíveis análises e interpretações e de possíveis percursos de produção, situando o que é/pode ser um filme para os alunos e para o professor.

Nesse sentido,  o percurso didático para trabalhar com cinema na escola na perspectiva da mídia-educação, no livro Crianças, cinema e educação: além do arco-íris, pode ser um ponto de partida.

Afinal, são muitas as possibilidades de pensar um cinema que educa, sobretudo quando ele  emociona, diverte, transforma e faz pensar .