domingo, 24 de março de 2013

Defesas de verão



Quem trabalha com educação sabe que muito antes do início das aulas, diversos trabalhos fazem parte da vida acadêmica: a preparação das aulas, a continuidade das atividades de pesquisa, as reuniões intermináveis, as atividades da pós-graduação que parecem nunca tirar férias...

Nesse sentido, o ano letivo de 2013 começou antes de fevereiro com orientações, reuniões de consultoria sobre a pesquisa UCABASC, com avaliações e com a participação em 3 bancas de mestrado que merecem ser compartilhadas.

A pesquisa sobre Norma culta e ensino: uma dimensão lingüística possível, realizada por Maria Alice Baptista , no PPGL- UFSC, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Lopes Silva . Ela discute as diferentes variedades de usos lingüísticos nos processos de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa com alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sua dissertação traz uma análise sobre diversas atividades de produção textual realizadas no Laboratório Linguagem e Vida, do CA/UFSC, confirmando a importância da convivência com diferentes variedades lingüísticas nas atividades escolares. Na banca, a presença das professoras: Edair M.Görski e Cristine G. Severo

Comunicação e Educação: para uma abordagem política da identidade e diferença na escola, foi a pesquisa desenvolvida por Julia M. Leal,  no PPGCOM da UFSM, sob orientação da Profa. Dra. Rosane Rosa . Trata de uma pesquisa sobre os processos de construção de  identidade e diferença na escola, desenvolvida a partir da exibição de um curta-metragem Leonel Pé-de-Vento, no contexto do Projeto Cultural Vô Venâncio vai à escola, realizado nas escolas municipais da cidade. A partir dos pressupostos da Leitura Crítica da Comunicação, a pesquisa reafirma a importância de mediações críticas a respeito da temática da identidade e alteridade na práxis midiática e escolar. Na banca, a colega profa Vera Lucia Raddatz.

Do papel de avaliadora para orientadora, participei também da banca do trabalho Multissensorialidades e aprendizagens: usos das tecnologias móveis por crianças na escola, pesquisa desenvolvida por Lyana Thédiga Miranda,  sob minha orientação no PPGE/UFSC. Nessa pesquisa Lyana parte da  presença dos laptops em uma escola participante do PROUCA para investigar de que forma a multissensorialidade está presente nas aprendizagens e interações entre crianças e tecnologias móveis. Ela conclui que para haver aprendizagens significativas e dialógicas é necessário ir além de um modelo único para a inserção das tecnologias na escola. Na banca: P. C. Rivoltella, Elisa Q. Quartiero, Gilka Girardello e Giovani Pires

Três dissertações que tratam de pesquisas sobre temas que transitam pela educação, lingüística, comunicação e suas interfaces. Nas avaliações, a sutileza de olhares que atravessam os diferentes campos do conhecimento em diálogo com o trabalho.

Fazendo parte desse cenário, um sol de verão escaldante iluminava as universidades e as salas de aula quase vazias em que ocorreram as defesas. Os motivos desse “quase vazias” parecem ter sido diferentes. Para além de um calendário de reposição de aulas em fevereiro (decorrente da greve nas universidades federais em 2012), a tragédia ocorrida em Santa Maria justificava certa ausência pela dor da perda e por um luto que ainda terá seu tempo para ser elaborado na universidade e na cidade. Mas o que justificaria a pouca presença de colegas mestrandos, com exceção de amigos mais próximos, nas demais defesas?

O ritual de defesa de um trabalho acadêmico – seja ele TCC, Dissertação ou Tese – é um momento ímpar de aprendizagem e troca na vida universitária. Não apenas pela apresentação e socialização de uma pesquisa (suas perguntas iniciais, seus pressupostos e referenciais teóricos e metodológicos, suas respostas provisórias)  mas também pelos olhares e modos de argüição de cada professor da banca, seus diferentes pontos de vista sobre o mesmo trabalho, suas aproximações e seus distanciamentos. É um momento que pode ser considerado uma verdadeira aula, aula que ainda tem o privilégio de contar com a participação de outros professores conversando sobre o mesmo tema.  Parece que ainda há um longo caminho para que grande parte de mestrandos e doutorandos possam ver as defesas desse jeito...

Imagem: Corps à corps, G. Fromanger
http://www.cataloguemagazine.com/contemporary-art/magazine/selected-pieces/gerard-fromanger/ 

domingo, 17 de março de 2013

Mídia, imagem e movimento - um olhar sobre o 4 ENOME



O que temas como “Os corpos na mídia”, “Jogos digitais”, “Movimentos corporais e linguagens”, “Tecnologias em escolas do campo e em ilhas”, “Linguagem e comunicação” “Narradores e vagalumes” podem ter comum? Num primeiro momento esses temas podem ser ligados por fios que tecem reflexões sobre educação, cultura, imagem, comunicação e  movimento e em seguida podem ser ligados pelo pertencimento comum de seus autores: F. Zoboli, G. Cruz, R. Pereira, I. Munarim, F. Messa e F. Bittencourt ao Labomídia  ( coordenado por G. Pires, UFSC) e presentes no IV ENOME - Encontro Nacional do Observatório da Mídia Esportiva -realizado em São João del Rey (coordenado por  D. Mendes e M. Botti, UFSJ), em novembro de 2012. Evento que  participei apenas um dia, mas que não poderia deixar de socializar algumas questões que certos temas suscitaram no meu olhar e que ainda ecoam em mim.

Ao pensar as imagens dos corpos presentes na mídia em geral, Zoboli destaca o corpo como fetiche. Acompanhado de belas imagens da mitologia que transitam por deuses, as figuras possibilitam  ver fragmentos que nos chegam peãs imagens da mídia mostrando o corpo belo, o que vejo e como sou visto, o que tenho e modifico,  o que transforma,  morre e renasce. Imagens como rastros de corpos que a mídia elege e que acolhemos ou não.

Das imagens às experiências com jogos digitais, as possibilidades de imersão na cultura e o conceito de gamificação, através do qual Cruz destaca a importância das aprendizagens informais  que extrapolam os espaços e o conceito de gaming e que podem se construir como experiências culturais. Pistas para pensar num diálogo possível entre jogo e “letramentos digitais”.

Entre diálogos e fronteiras, Pereira e Munarim narram suas experiências no doutorado sanduíche com imagens  reveladoras das diferentes formas de participação na universidade, na escola, nas viagens de estudo, nas ilhas italianas e noutros territórios que se articulam ao pensar o movimento corporal, as tecnologias na escola e a educação física. Imagens que também comunicam  relatos de uma pesquisa em parceria desenvolvida por Messa, num belo passeio fotográfico pela Argentina.

E para finalizar essas experiências narrativas, Bittencourt traz a imaginação mais que a imagem para falar daqui e de lá, como identidades e contrastes entre Brasil e Espanha. Entre lugares e espantos, a vontade de ver vagalumes que acendem estrelas, e que o acompanham há muitos anos. Vagalumes que correm o risco de se apagarem diante dos holofotes da mídia na sociedade do espetáculo.

Diante de tantas imagens poéticas, a responsabilidade de fechar o evento com algumas considerações sobre a Mídia-educação e os desafios da escola. Para tal, três perguntas: Que crianças e jovens estamos formando no contexto contemporâneo ? A produção de subjetividades na escola permite a construção de identidades como reconhecimentos e pertencimentos? Que tipos de aprendizagens e participação na escola/cultura estamos propiciando? Um pressuposto: protagonismo e atravessamento da mídia no cotidiano e a necessidade de uma concepção ecológica de mídia-educação para entender as novas formas de aprendizagem e os novos modos de participação na escola e na cultura. E uma constatação: a crise na educação e nas instituições (instituições tradicionais não estão mais respondendo às questões identitárias de construção de sentido diante da complexidade do mundo contemporâneo). Com isso, algumas considerações sobre: contextos da mídia-educação  e cultura digital; entendimentos sobre formas de participação, produção  e aprendizagem; formas de mediação; e desafios da mídia-educação na escola e na pesquisa.

Questões e discussões para um debate que pretendia encerrar um evento, mas que ao mesmo tempo anunciava outras possibilidades de continuidade. O evento acadêmico poderia terminar aqui, mas como experiência de vínculos, de afetos e da cultura mineira continua presente nas imagens das gerais: suas cores, seus sabores, seus sotaques presentes num trem de histórias que esperam novos eventos para serem recontadas... Nesses recontos, a busca da inspiração para o ano que começa e continua!