quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mídia-educação e EAS: questões e atualizações práticas e epistemológicas

Com o objetivo de repensar os desafios da mídia-educação e as trajetórias não lineares da pesquisa, aconteceu o Seminário Internacional  Rethinking Media Education, no dia 22/10/15, na Università Cattolica del Sacro Cuore, Milão. Foi uma interessante ocasião para conhecer e discutir algumas experiências desenvolvidas na Finlândia e problematizar aspectos epistemológicos e práticos da mídia-educação.

A primeira mesa  teve como tema Current research on Media Education: from school children to senior citizen, com a participação de Heli Ruokamo e Päivi Rasi,  da University of Lapand. Heli apresentou o Centre of Media Pedagogy  e algumas abordagens teóricas das pesquisas multidisciplinares ali desenvolvidas,  com três áreas de pesquisa:  mídia e ensino e aprendizagem; mídia e sociedade; e mídia bem-estar psicológico. Nesse sentido destacou aspectos dos modelos pedagógicos, práticas e designs de pesquisa. Por sua vez, perguntando “o que precisamos repensar?”, Päivi iniciou a apresentação da  pesquisa sobre como podemos conhecer as necessidades da mídia-educação  no contexto das preferências e necessidades de cidadãos “seniores”, sobretudo em relação aos usos da mídia digital na terceira idade e as diferentes abordagens de pesquisa com esse público mais velho. Aliás, os desafios da comunicação num mundo que envelhece foi tema da RevistaComunicar n. 45 , de julho de 2015.  Paivi destacou os usos da internet das pessoas mais velhas, seus níveis de media literacy e suas competências digitais, bem como seus interesses e suas motivações. Tendo o comentário de Beat Weyland (Università di Bolzano-Bressanone) e de Roberto Farnè (Univeristà di Bologna), a discussão foi muito interessante, ora reafirmando antigos pressupostos da mídia-educação, ora problematizando-os à luz dos novos desafios, visto que a mídia-educação está cada vez mais presente em contextos extra-escolares, em diferentes ambientes, o que também a leva a mudar sua natureza, e se a mídia muda, a mídia-educação também. Por outro lado, é importante não perder de vista que quando discutimos as práticas com as novas tecnologias, o foco é/deve ser as práticas.

Essa questão teve continuidade na segunda mesa, Epistemologia e Estatuto da Mídia Educação, com P.C. Rivoltella e P. G. Rossi. Rivoltella retoma os aspectos ontológicos, metodológicos e físicos da Mídia Educação, enfatizando os processos da naturalização, da subjetivação e da socialização para problematizar a condição pos-midiática e repensar o papel da mídia educação no contexto  atual. Por sua vez, questionando o papel das tecnologias da educação hoje , Rossi problematiza a didática e pergunta qual a especificidade da tecnologia? Na sequencia, a mesa sobre as práticas  trouxe relatos das pesquisas desenvolvidas “Mídia Educação e prevenção”, “Mídia Educação,  escola e cidadania digital”, e “Percursos didáticos online e competências digitais”, apresentadas respectivamente  por Simona Ferrari,  Alessandra Carenzio e Rosaria Pace.  Mais uma vez, a discussão foi muito rica e entre algumas considerações sobre a pesquisa, “ou tornamos as pesquisa não lineares ou trabalhamos com outros não lineares, pois de outro modo dificilmente avançaremos essa discussão”.

EAS - Episódios de Aprendizgem Situados


Ainda em 2013, quando conheci a proposta metodológica Fare didattica con gli EAS, Episódios de Aprendimento Situatti, de P.C. Rivoltella (2013), me interessei pela possibilidade de realizar uma pesquisa a esse respeito em nosso contexto, e pude acompanhar a formação feita pelo CREMIT com um grupo de professores que começavam a aplicar a referida metodologia no contexto italiano, configurando uma espécie de comunidade de práticas. Logo em seguida àquela ocasião, também participei do EAS DAY de março 2014 e de outubro de 2014 - sempre na Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão-, em que se discutiram diferentes aspectos daquelas experiências que se iniciavam e que lentamente parecia consolidar novas práticas.  Um ano depois,  foi possível perceber o quanto esse trabalho se ampliou e o EAS DAY de outubro de 2015, com o tema Didattica inclusiva con gli EAS (Rivoltella, 2015), foi uma bela possibilidade de refletir também sobre alguns dos desafios que encontramos nas nossas aproximações a essa metodologia em contextos investigativos e formativos da pesquisa que estamos desenvolvendo na UFSC.

Se na primeira discussão a ênfase era na origem, nos fundamentos e na estrutura dos EAS e suas relações com o processo de ensino-aprendizagem, planejamento e avaliação, agora a relação EAS e  inclusão começa revisitando e ampliando o conceito de inclusão a partir da ideia de pessoa, território e escola.

Vale destacar que a dinâmica do EAS DAY segue uma interessante organização com atuação fortemente coletiva, em que uma breve introdução destaca os fundamentos e ou fragmentos de pesquisa sobre o EAS, seguida pelo momento da apresentação de diversas experiências com EAS desenvolvidas por professores nos diferentes  níveis de ensino, e o momento dos workshops com temas relacionados ao contexto da proposta.


Propostas, experiências e reflexões que se tornam muito inspiradoras para nossos estudos, práticas e pesquisas em andamento, que em breve esperamos compartilhar, juntamente com mais detalhes da metodologia e dos eventos EAS DAY.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Plano Nacional da Educação e Base Curricular Nacional: pano de fundo de outros temas da cultura

A partir de temas candentes como “Plano Nacional de Educação” e “Base Curricular Nacional”, diversas tensões e perspectivas para a educação pública brasileira foram discutidas na 37a. Reunião da ANPED, que aconteceu entre os dias 4 e 8/10/15, na UFSC, em Florianópolis, e foi pano de fundo de outras tantas discussões, encontros e desencontros.

O evento contou com a participação de cerca de 2.500 professores e pesquisadores  com uma diversidade de trabalhos apresentados, mesa redondas, sessões especiais e sessões de conversa e uma diversificada programação cultural que aconteceu no local do evento e em diversos espaços da cidade. Em grande parte sugerida e proposta por professores da linha ECO do PPGE/UFSC, a programação cultural pode ser traduzida nas palavras de Leandro B. Guimarães: “plural e híbrida, conversa "entre" o local e o planetário, o popular e o erudito, o samba e a bossa, o jazz/blues e o choro. Conecta expressões e espaços da universidade e da cidade. Coloca em movimento artistagens de alunos, ex-alunos e professores do nosso Centro. É vasta e variada. É muito e pouco. Não é total. Não exotiza. Não completa. Não diz o que somos, mas toca, quase como um gesto, algumas das rotas em que navegamos. Repleta de problemas, ausências: está linda!”. 

Além disso, houve os tradicionais lançamentos de livros, em que destaco particularmente dois:

Uma dobra no tempo: um memorial (quase) acadêmico, de Nelson Pretto, professor da UFBA, colega querido e parceiro de pesquisa. “Aqui encontramos uma produção que captura o leitor pelo modo de dizer, pela originalidade do que se conta, pela trajetória instigante e pelas sínteses que foram além do tempo de cada uma dessas aventuras. Uma escrita reflexiva e um jogo que coloca o leitor participante do seu próprio enredo”, como enfatiza o professor da UNEB/UFBA Cesar Leiro, na contracapa.

Projeto UCA: entusiasmos e desencantos de uma política pública, organizado por Elisa M. Quartiero, Maria Helena Bonilla e Monica Fantin. O livro resulta de uma pesquisa interinstitucional (UFSC, UDESC, e UFBA), financiada pelo CNPq e desenvolvida em SC e na BA entre 2011 e 2013, em que buscamos analisar o Projeto UCA do ponto de vista da gestão, dos professores e dos estudantes. No capítulo  “Estudantes e laptop na escolar: práticas e diálogos possíveis”, discuto as relações de crianças e jovens com o artefato na escola, suas percepções e práticas desenvolvidas, bem como as atividades de aprendizagem nos diferentes cenários investigados. A partir da perspectiva das multiliteracies, da participação, e da autoria colaborativa, destacamos a ênfase nos jogos, nas redes sociais e na questão “multitarefas”. No capítulo “Olhares sobre a prática pedagógica com o Projeto UCA”, Bonilla e eu discutimos as mediações, as tensões entre as práticas existentes e a emergência de práticas inovadoras, transversalizadas por percepções e representações dos professores.

A ênfase nas questões da cultura digital, dos dispositivos móveis na educação, e as   práticas culturais nesse contexto permearam as discussões nos trabalhos apresentados no GT Educação e Comunicação e na Sessão Especial “Arte e tecnologias: pensando politicas na educação”, que também contou com a participação de Nelson Pretto.


Obviamente que num evento dessa natureza, os encontros com amigos/as e colegas é quase um evento  a parte, que envolve interações e cenários diversos, bem como bastidores de trabalhos e pesquisas atuais e futuras, possibilidades e projetos que se desenham e que esperam novos encontros, eventos e acontecimentos, é claro.