sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Objetos da infância e caixas de brinquedos

Entre tantas formas possíveis de começar uma disciplina num curso de Pedagogia, ao lado da apresentação da ementa, por que não começar com uma apresentação da turma pedindo para cada um trazer um objeto de sua infância e contar o motivo de tal escolha? Foi assim que fizemos em Educação e Infância VI: conhecimento, jogo, interação, linguagens, onde na materialidade de cada objeto, brinquedo, livro, caderno de desenho, elástico, outras imaterialidades foram surgindo através de histórias e depoimentos da vida de criança junto a natureza, em árvores e balanços revelando pequenas apresentações de cada um no grupo.

Como as múltiplas linguagens serão objetos de nosso estudo, assistimos a um curta  feito com celular para o “Nokia 2011 Shorts", The Adventures of a Cardboard Box (As aventuras de uma caixa de papelão). Conta a história de um garoto e sua caixa de papelão que se transforma em brinquedo e companheira fiel de suas aventuras. Um filme doce, poético e cheio de imaginação que nos lembram passagens de histórias semelhantes. Então surge uma pergunta: o que cabe na nossa caixa de papelão e no que ela pode se transformar ao longo do curso?





No Canteiro de obras, Benjamin tem um texto lindo que diz: “As crianças sentem-se irresistivelmente atraídas pelos destroços que surgem da construção, do trabalho no jardim ou em casa, da atividade do alfaiate ou do marceneiro. Nestes restos que sobram elas reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e só para elas. Nesses restos elas estão menos empenhadas em imitar as obras dos adultos do que em estabelecer entre os mais diferentes materiais, através daquilo que criam em suas brincadeiras, uma nova e incoerente relação. Com isso, as crianças formam seu próprio mundo de coisas, mundo pequeno inserido em um maior”.

Resguardadas as devidas especificidades históricas do tempo em que o texto foi escrito, por volta da década de 30, e embora muitas crianças hoje nem saibam o que faz um alfaiate, elas continuam atraídas por brincar nas mais diversas construções, criando suas brincadeiras e estabelecendo os sentidos mais inusitados aos olhos dos adultos.

E entender a importância do brincar é um dos desafios para quem trabalha com crianças, pois se elas “fazem história a partir do lixo da história”, como Benjamin diz e o filme mostra, como se relacionar com esse universo? As múltiplas linguagens podem ser uma pista... (além de ser tarefa do próximo encontro!)