terça-feira, 8 de outubro de 2013

O Programa Um Computador por Aluno em discussão na ANPED


PROUCA: pesquisas sobre as políticas educacionais no Brasil e America Latina,  esse foi o tema do trabalho encomendado para o GT Educação e Comunicação da 36ª Reunião Anped, entre os dias 29/9 e 2/10/2013 na Universidade Federal de  Goiania. Apesar de inicialmente prever a participação de pesquisadores do Brasil e de países vizinhos, a Mesa Redonda aconteceu com a participação de Lucila Pesce, sobre pesquisa desenvolvida em escolas de SP, com a minha participação, a partir da pesquisa interinstitucional “Gestão e práticas pedagógicas no âmbito do Programa UCA: desafios e estratégias à consolidação de uma política pública para a educação básica”, UCABASC, desenvolvida em SC e na BA em parceria entre UFSC, UDESC e UFBA.  Compartilho algumas considerações sobre a discussão desse tema no evento.

Ao contextualizar este momento de avaliação do ProUCA, não podemos perder de vista que se trata de um piloto a respeito uma política pública de implantação de tecnologias na escola no modelo 1:1, ou seja, um computador por aluno, que envolve em torno de 320 Escolas de Ensino Fundamental, 113.385 alunos e 7.025 professores em nosso país. Entre os princípios anunciados, consta a “inclusão digital de aluno e professor na sociedade do conhecimento” e o “uso pedagógico do laptop pautado na mobilidade, conectividade e imersão a partir do modelo 1:1 melhora a aprendizagem e construção do conhecimento”.

Entre confrontos e avanços evidenciados por Lucila, o destaque para a realidade plural e suas múltiplas variáveis, em que experiências exitosas não representam a totalidade das escolas investigadas. Interessante observar certas aproximações com o que observamos em nossa pesquisa em outros contextos socioculturais sugerindo que as dimensões sociais, econômicas e culturais, a questão da formação e a especificidade das escolas podem fazer toda a diferença, tanto em relação aos “resultados esperados” como ao que se entende por “inclusão digital”.

Uma questão que apareceu no debate e que se evidencia também na maioria das pesquisas sobre o tema é o problema da qualidade do equipamento, a falta de manutenção e a precária infraestrutura em termos de conexão nas escolas. Isso demonstra que grande parte das escolas pesquisadas não estão conectadas e que os laptops não estão sendo usados (apesar de certos dados estatísticos oficiais). Nesse quadro, o modelo 1:1 está em cheque, visto que sem a manutenção e/ou reposição dos equipamentos, em alguns casos os alunos dividem o uso do laptop configurando modelos como 1:3, 1:4, 1:5. Além disso, sem entrar no mérito dos usos e na qualidade do trabalho desenvolvido, percebe-se uma ênfase na tecnologia que por vezes  desconsidera a aprendizagem, como se a tecnologia por si só assegurasse formas de apropriação e participação crítica e criativa na cultura digital.

Enfim, muito temos a discutir sobre essas e outras questões, a partir de diversos pontos de vista, político-pedagógico-econômico-cultural, suas articulações e implicações. Neste momento chamamos a atenção para o risco e o “equívoco” de se repetir políticas públicas de inserção de tecnologias nas escolas e seus modelos de formação, tal como está acontecendo com os tablets, quando se muda apenas o nome dos programas e as tecnologias, repetindo a conhecida frase “muda a tecnologia mas as práticas continuam as mesmas”.  E isso nos leva a perguntar como as políticas públicas tem dialogado com as produções acadêmicas e/ou resultados de pesquisas para contribuir de fato e/ou repercutir em “avanços” nos futuros projetos?

Diante  de certas visões deterministas da tecnologia e da naturalização  dos processos, parece difícil perceber o que de fato está acontecendo na perspectiva da transformação das práticas políticas e pedagógicas. O que realmente o ProUCA avançou nas transformações escolares, curriculares, metodológicas? O desafio de explorar o potencial pedagógico do artefato implica considerar o trabalho com as diferentes linguagens e mídias dentro e fora da escola na perspectiva cultural da mídia-educação e da cidadania, e isso nos leva a pensar o ProUCA  e sua possível continuidade articulada com outras discussões que tem interpelado nossa atuação, tais como o marco civil da internet, as leis do direito autoral, o software livre, a valorização do trabalho docente, e tantas outras questões que também foram objeto de discussão na Anped. Tanto nos momentos das reuniões formais, como nos encontros casuais...