quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Pesquisas, parcerias e redes




A sustentabilidade dos blogs em geral tem sido uma questão que me fez pensar ultimamente. Afinal, depois de um ano sem atualizar esse espaço, a vontade de compartilhar alguns momentos vividos, experiências e espaços conhecidos por meio de pesquisas e parcerias se fez mais forte.

A viagem de estudo à Itália propiciou  conhecer de perto a experiência de uma comunidade de prática sobre a metodologia Episódios de Aprendizagem Situada (Rivoltella, 2013), uma proposta para integrara dispositivos móveis na didática. Inspirada nos princípios da lição a posteriori de Freinet que hoje pode ser atualizada na flipped lesson de Mazur, na neurodidática de Rivoltella e na teoria da simplexidade de  Berthoz, o conceito de Episódio de Aprendizagem Situada origina-se no Mobile Learning  e nas atividades de microlearning, entendido como um processo de aprendizagem informal que relaciona os fenômenos das culturas de mídias atuais, suas fragmentações e recombinações a partir dos usos das tecnologias em diferentes formatos e textos transmídiáticos. A estrutura de um EAS envolve três momentos da atividade: 1) momento prévio, com um quadro conceitual e/ou uma situação-estímulo que encaminha uma atividade preparatória aos estudantes; 2) momento operativo com uma microatividade de produção do grupo e/ou resolução de problemas; 3) momento resestruturador que sistematiza o que aconteceu nos momentos anteriores - processos e conceitos ativados - para sustentar a (meta)reflexão sobre a produçao desenvolvida e fixar aspectos a serem destacados.



A partir do contato com tal proposta metodológica, um grupo de professores de diferentes regiões da Itália decide estudar a metodologia e aplicá-la em seu cotidiano juntamente com um trabalho de formação e acompanhamento do Cremit. Neste ano, a socialização de tal experiência aconteceu em dois momentos. Em março, o encontro discutiu as diferentes experiências desenvolvidas com a metodologia e suas especificidades conforme cada contexto, o que indicava a possibilidade de aprofundar alguns temas: a lógica experimental do método; a rigidez e/ou flexibilização do método em função de uma experiência significativa para adoção com crianças dos anos iniciais; e a discussão sobre como restituir a experiência didática em contextos pobres em tecnologia. E em outubro, com o EAS Day: experiências de formação com os Episódios de Aprendizagem Situada, em que após uma introdução do Prof. Pier Cesare Rivoltella os próprios professores que participam da comunidade de práticas sobre o EAS compartilharam suas experiências em workshop  que tratavam de diferentes aspectos da metodologia. Tal experiência foi muito interessante pois além de acompanhar a discussão nos diferentes momentos propiciou um contato mais de perto com os professores a fim de agendar visitas às escolas e entrevistas, visto que meu atual projeto de pesquisa envolve tal metodologia no contexto da discussão sobre multiliteracies e aprendizagens formais e informais.


Outra experiência a compartilhar foi a visita guiada ao Centro Internacional Loris Malaguzzi  e a entrevista com a coordenadora da Reggio Children, na Reggio Emília.  Além de ver de perto o trabalho, que ficou conhecido com as Cem Linguagens, as exposições dos trabalhos das crianças são absolutamente encantadoras, e tem atraído a atenção de inúmeros professores e pesquisadores do mundo todo, há muitos anos. No breve momento em que estava lá, pude ver de perto o interesse e a curiosidade em três grupos: estudantes de pedagogia de Virgínia, professores de escolas básicas do Texas, e professores e alunos de uma escola de ensino médio de Londres.  Além das exposições que são fruto de uma proposta de  trabalho de mais de 40 anos, a valorização da infância e das crianças se revela também no acervo da biblioteca, que reúne as publicações as mais diversas, nos cursos de formação e nas parcerias com escolas, instituições culturais e universidades de diversos países. Entre tantas questões instigantes, a tranquilidade de perceber que a metodologia de pesquisa com crianças que temos construído nos últimos anos está em consonância com o que tem sido discutido em diversos cenários do campo dos estudos da infância, e que também foi objeto de nossa apresentação no II Simpósio Luso-Brasileiro de Estudos da Criança: desafios éticos e metodológicos, ocorrido em agosto, em Porto Alegre.


A terceira experiência a destacar foi a possibilidade de conhecer de perto o trabalho da Nordicom/Clearinghouse, na Suécia, propiciada por outra viagem de estudo. Com um trabalho coordenado por uma referencia internacional da mídia-educação, Ulla Carlson, a organização se destaca por seu pioneirismo nos estudos da infância e na defesa dos direitos das crianças. Nos últimos anos tem atuado em três áreas: infância, mídia, e comunicação. Parceira da Unesco e da Universidade de Gothemburg, a Nordicon/Clearinghouse tem divulgado diferentes pesquisas sobre boas práticas e políticas para a infância em diferentes lugares do mundo bem como experiências diversas nas áreas acima mencionadas. Além de conhecer a maravilhosa "palheta de cores" de Estocolmo,  a entrevista com a coordenadora cientifica da Nordicon, Ilana Eleá, possibilitou conhecer de perto esse importante trabalho, bem como conhecer o anuário de suas publicações, cujo yearbook deste ano traz as experiências em mídia-educação desenvolvidas no Brasil, em Portugal e Espanha, do qual tive o imenso prazer de fazer parte e que foi lançado no 4 CEPEM, em dezembro, na Unirio, Rio de Janeiro. Entre práticas, políticas, conceitos e fronteiras da media education, media literacy e informational literacy, evidencia-se a importância da construção de redes.



E por falar em rede, não poderia deixar de mencionar a Red Interuniversitaria Euroamericana de Investigación, «Alfamed»
, Competencias Mediáticas de la Ciudadanía, coordenada pelo Prof. Ignacio Aguaded, da Universidad de Huelva, Espanha. Fruto da participação em uma pesquisa internacional (que atualmente envolve pesquisadores de mais de 12 países) e interinstitucional (com pesquisadores de 6 universidades brasileiras), coordenada pela Professora Gabriela Borges, da UFJF, o desafio de  pesquisar  as  Competências midiáticas em cenários brasileiros e euroamericanos”  de forma a articular significativamente diferentes subprojetos de pesquisa, ficou evidente no I Simpósio Internacional deLiteracia Midiática, realizado em Juiz de Fora, em setembro.


Enfim, o enfrentamento de diferentes questões que se relacionam com alguns dos fragmentos acima compartilhados requer um tipo de envolvimento que não parece ser pouca coisa para dar continuidade na perspectiva da sustentabilidade de projetos, desejos e também de posts num blog, demonstrando que o silêncio, às vezes, pode ser um indicativo de outros processos em curso…