segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Educar na era digital e alguns desafios das multiliteracies


Em recente missão de trabalho ao exterior, Itália, além de atividades de pesquisa, participei de dois eventos sobre os desafios da educação contemporânea, e compartilho  algumas breves impressões a seguir.

No encontro Scholé, evento realizado em Brescia nos dias 5 e 6/9/2013, as apresentações diziam respeito ao projeto educativo para o decênio em curso e suas possíveis revisões diante dos desafios atuais, em que foram enfatizadas questões sobre: As transformações sociais e culturais da web; O desafio educativo na condição pós-midiática; A revolução do livro digital; A psicologia da leitura do texto multimídia. Entre certas obviedades e interessantes reflexões epistemológicas, o debate girou em torno da operacionalização de certas propostas educativas tendo em vista a complexidade de certos aspectos na paisagem descrita em tal cenário. Para além das discussões do evento, a possibilidade de conhecer de perto outros olhares sobre a educação italiana e a interação com colegas que buscam trabalhar com outros valores, destaco a impressão de um olhar estrangeiro que se diferencia e reconhece na diversidade de espaços e lugares da educação.  

Nesse reconhecimento, chama a atenção às críticas que o Prof. Pier Cesare Rivoltella fez em torno da "superação" do uso de termos como “nativos e imigrantes digitais”, visto que a seu ver não conseguem explicar do ponto de vista científico a complexidade das relações que as pessoas constroem na cultura digital. Da mesma forma, o destaque para as dicotomias entre impresso e digital, que reforçam distanciamentos empobrecedores quando não entendidos na dialética de tais culturas, na maioria das vezes vistas apenas como rupturas e não em suas continuidades. Tal visão reducionista desconsidera as relações entre impresso e digital, papel e bit quando a discussão privilegia apenas a questão do suporte e não a dimensão dos diferentes modelos. Ou seja, precisamos pensar além dos suportes.

Do norte para o sul da bota, a possibilidade de aprofundar certos conceitos e discussões em torno das multiliteracies com um grupo de pesquisadores italianos, australianos e americanos em evento promovido pela SIREM, Società Italiana di Ricerca sull´Educazione Mediale, e ERID LAB (Educational Research & Interaction Design), em Foggia, nos dias 9 a 11/9/2013, coordenado pelo prof.  Pierpaolo Limone (Università di Foggia) e pelo prof. Pier Cesare Rivoltella (UCSC). O encontro entre pesquisadores sobre Multiliteracies : the school among language and languages previa um intercâmbio entre os convidados para compartilhar experiências em tornos das novas tecnologias, dos modelos de ensinos inovadores, e do desenvolvimento de aprendizagens digitais no cenário internacional. Dessa troca, a possibilidade de perceber as aproximações e os distanciamentos que transcendem as fronteiras culturais para pensar "espaços de afinidades" e possíveis diálogos e pesquisa em parceria, tal como temos desenvolvido há alguns anos.

Estar próximo de referências pioneiras no campo de estudos das Multiliteracies, como Mary Kalantzis, Bill Cope e James Gee (participantes do New London Group, grupo que ainda nos anos noventa desencadeou a discussão sobre as múltiplas linguagens e a necessidade de novas alfabetizações/letramentos), e de colegas italianos que trabalham com perspectivas afins (P. Rivoltella, P. Limone, P. Rossi, F. Falcinelli, D. Parmigiani, M. Sibilio, A. Garavaglia, M. Baldassare) permite não apenas entender a atualidade de certas discussões que orientam nossas pesquisas e seus desdobramentos em diversos contextos, como também desmistificar certos "mitos". Aqui, mais uma vez, a possibilidade de conhecimento e troca entre pesquisadores fez a diferença, e gostaria de expressar meu profundo sentimento de gratidão pelo convite e pela acolhida.


Por fim, como não poderia deixar de ser, o destaque aos aspectos (inter)culturais que permitem outros tipos de aprendizagens e relações entre as pessoas, seja nas mais diversas paisagens e na beleza de sua arte e arquitetura, seja na gastronomia e nos sabores dos novos encontros. Promessas e devires...