terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Eventos, encontros e pesquisa

Ao retomar as realizações e pensar na aberturas de novos possíveis, não poderia deixar de mencionar alguns eventos acadêmicos que participei e organizei e que foram ocasião de diversos encontros e reflexões sobre a pesquisa relacionada aos processos de ensino-aprendizagem de crianças, cultura digital e formação de professores no contemporâneo.

No SEMIEDU 2015, Seminário de Educação com o tema “Educação e seus sentidos no mundo digital”, realizado na UFMT/Cuiabá, nos dias 16 a 18/11/15, participei de uma mesa redonda  sobre “Cultura digital e subjetividades: infância, juventude e terceira idade”, juntamente com o Prof. Antonio Zuin (UFSCAR) e Mirza Toschi (UEG), mediada por  Taciana Mirna Sambrano (UFMT).  Convidada para refletir sobfre a relação subjetividade da infância-cultura digital,  como pensar a criança sem fazer referência às relações que as elas estabelecem com jovens e adultos, para além das culturas de pares? E diante de uma escolha muito feliz na composiçao da mesa, minha contribuição trouxe alguns pontos que temos trabalhado nas nossas pesquisas mais recentes para refletir sobre “As múltiplas faces da infância na contemporaneidade e as práticas e pertencimentos na cultura digital”. Destacamos algumas passagens  sobre   as práticas culturais das crianças ligadas às mídias, tecnologias e sua relação com as suas aprendizagens e multiletramentos; os dilemas das metodologias de pesquisa com crianças e a questão da  participação, autoria/agência; e os desafios da mediação, para além da naturalização e do  estranhamento das práticas e culturas infanto-juvenis. Em seguida, as reflexões de Zuin sobre “Cultura digital, o professor-criança e o aluno-adulto” ampliaram os olhares sobre o tornar-se adulto nos dias de hoje.  Ao transitar pela tríade disciplina, concentração e aprendizagem na pedagogia humanista tradicional e moderna para chegar no contemporâneo discutindo a questão da autoridade pedagógica e tecnologia, Zuin nos provocou o pensar sobre as transformações radicais das relações professor-aluno, sobfretudo as desencadeadas pelas redes sociais. Por sua vez, ao refletir sobre “Solidão desconectada e a inclusão digital na velhice”, Mirza recuperou Cicero (44 aC) e seus “Diálogos sobre a velhice” para pensar nos entendimentos e conceitos de velhice hoje, os perfis e formas de pertencimento, as práticas sociais e culturais, e as fraturas na temporalidade biológica e digital.  As discussões que foram deseancadeadas no evento foram uma pequena amostra do potencial de tais considereações, que continuaram nas intervalos e tempos livres usufruidos com outros colegas que o encontro propiciou na quente  Cuiabá.

E por falar em encontros e colegas, como  não lembrar do ESUD 2015, XII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância, organizado pela Uneb e realizado em Salvador, nos dias 30/11 a 3/12/2015, que propiciou outra ocasião de encontro entre colegas brasileiros e além-mar e discussões as mais variadas sobre cultura digital e as inovaçoes tecnológicas no contexto da educação superior. Nesse evento, a Mesa redonda que participei com Edmea Santos (UERJ) e Tel Amiel (Unicamp) discutiu os “Dispositivos móveis na educação”. Vale destacar a riqueza e a diversidade da programação, além da beleza inspiradora do lugar e dos encantamentos da cultura baiana.

Para finalizar o passeio por eventos acadêmicos, retornamos à ilha de SC com a organização do V Seminário de Pesquisa em Mídia-Educação e I Seminário Multideas, realizado na UFSC, Florianópolis, nos dias 9 e 10/12/2015. 

Na conferência de abertura do Seminário, “Neurociência e os Episódios de Aprendizagem Situados”, o Prof.  Pier Cesare Rivoltella, da Universidade Catolica de Milão, esclareceu as diversas abordagens, os entendimentos e mitos que envolvem a neurociencia apresentando a perspectiva da neurodidática na dialética da pesqiusa cientifica e na sua relação com os Episódios de Aprendizagem Situados. No encerramento, Rosa M. Bueno Fischer, da UFRGS, compartillhou suas memórias e trajetórias de pesquisa sobre imagem e educação.

Em meio a esse tempo-espaço do evento, aproveitando os últimos sopros de um ano dificil de terminar, recuperamos o fôlego e apresentamos os resultados parciais de nossa pesquisa financiada pelo CNPq, “Multiletramentos e aprendizagens formais e informais: possíveis diálogos entre contextos escolares e culturais”, como I Seminário Multideas. 

Ali apresentamos os contextos e as referências da pesquisa trazendo atores, práticas e cenários em breves fragmentos de nossas aproximações e interpretações da metodologia dos Episódios de Aprendizagem Situados, EAS em diferentes niveis de ensino, bem como em uma proposta de formação de professores que fez parte da pesquisa. Destacamos o fato desta investigação envolver outros subprojetos de pesquisa relacionados ao tema (2 doutorados, 2 mestrados) e a participação da equipe que envolveu as orientandas Lyana de Miranda, Juliana Muller, Karin Orofino, Gabriela Cavicchioli, Barbara Malcut, Karine Joulie, além da Pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida pela graduanda de Pedagogia Francielly Rosa e do TCC da graduanda Lilian Donel, que ainda se encontra em fase de conclusão.

A pesquisa de abordagem qualitativa com intervenção didática na escola envolveu  estudos e acompanhamentos de uma Comunidade de Prática de Professores Italianos em 2014, e em 2015 realizamos a pesquisa empírica com estudantes de diferentes turmas (2, 5, 6, 8 ano) de duas escolas públicas  de Florianópolis (CA/UFSC e EBVM) e na formação inicial do Curso de Pedagogia/UFSC. Também foi realizado um Curso Piloto de Formação com Professores na metodologia EAS envolvendo cerca de 40  professores -da Rede Pública e da Rede Marista de Solidadriedade - que também participaram do evento relatando a experiência com a referida metodologia.

Entre as análises parciais que compartilhamos  e as considerações que emergiram durante a pesquisa, destacamos o entendimento da metodologia EAS como dispositivo de aprendizagem. Ao articular seus fundamentos e sua estrutura à concepção das multiliteracies consideramos que a referida metodologia pode assegurar elementos de continuidade entre experiências cotidianas e os âmbitos educativos/escolares na relação entre aprendizagens formais e informais. Além de propiciar o desenvolvimento de competências em diversos âmbitos e práticas de leitura e escrita na pluralidade de linguagens e canais que envolvam experiência direta com conteúdos, os EAS possibilitam a participação como momento-chave na aprendizagem. As mediações didáticas também podem promover relações significativas com as novas mídias e seus artefatos na perspectiva das multiliteracies. Como inquietação que emerge de tais aproximações desenhando contornos de uma próxima pesquisa, destaco a relação entre tempo e aprendizagem na cultura digital, questão que ficará entre as  “melhores intenções” de 2016…