sábado, 18 de dezembro de 2010

UFSC 50 anos

 Entre as diversas comemorações relacionadas aos 50 anos da UFSC “produzindo conhecimento para um mundo melhor”, esta última semana foi bastante intensa na universidade e algumas atividades foram particularmente significativas , sobretudo por que de certa forma participei de alguns momentos que fizeram parte desta história, seja como estudante ou como professora e pesquisadora. 

A homenagem a uma professora do Centro de Educação que se destacou na pesquisa me encheu de orgulho, tanto pelo motivo de ter sido sua aluna durante minha formação como por ser sua colega hoje no programa de pós-graduação onde atuo. 

A sessão solene do conselho universitário reuniu diversos reitores relembrando suas gestões em diferentes momentos históricos, e isso me fez lembrar o quanto a ousadia de pequenas propostas  "político-administrativas" podem fazer a diferença na formação cultural de estudantes, como por exemplo as “aulas magnas” a todos estudantes da universidade com reconhecidos artistas convidados para se apresentarem numa imensa área do campus, ao ar livre, onde interagimos com o então maestro e diretor artístico da orquestra sinfônica brasileira Isaac Karabtchevsky, com o ator Paulo Autran, com o grupo de música latino-americana Tarancon e tantos outros que fizeram parte daquele projeto. 

O lançamento do portal dos egressos, criou um espaço institucional para os ex-alunos lembrarem os tempos da graduação, pós-graduação, seus aprendizados, suas aulas, assembléias, festas, passeatas, e  também compartilharem a saudade do ambiente da universidade e dos amigos  com quem dividiam aventuras, chateações, surpresas e descobertas de um mundo que se descortinava. Mesmo com as redes sociais cumprindo o seu papel, a grande maioria dos ex-alunos perdeu contato com os colegas de turma, pois afinal, cada um segue seu caminho e nem sempre deixa pistas por onde passa. Assim, foi emocionante ver a homenagem aos egressos formados há 50 anos e foi quase impossível não pensar em tantos que por aqui transitaram.

O lançamento do livro Trajetórias e desafios, resultado de um minucioso trabalho de pesquisa,  é um livro que conta de forma viva as diversas trajetórias percorridas pela universidade para falar da face da UFSC hoje. Aliás, será possível falar de uma única face ? Tem a que se destaca nos rankings de ensino, a das pesquisas de ponta sendo realizadas, a das atividades de extensão que encontra as comunidades, a que comunica todo esse conhecimento que vai sendo produzido e a que se prepara para os novos desafios. 

Ao escrever os textos que compõem esse livro, o objetivo das organizadoras (Roselane Neckel e Alita D. C. Küchler) era evitar que a criação e consolidação da universidade fossem reduzidas à ação pioneira de apenas alguns, muitas vezes apontados como heróis, e sim mostrar uma história que foi construída com a vida e o trabalho de diversos sujeitos, com o entusiasmo e o compromisso de homens e mulheres no dia a dia, em várias gerações que por aqui passaram, como o mosaico colorido do mural da reitoria que também ilustra a capa do livro. 

Diante dessa concepção, ao ter feito parte deste livro compartilhando um pouco de minha trajetória de professora e pesquisadora, só tenho a agradecer... por todas experiências que aqui vivi, pelas marcas que deixei e por aquelas que também ficam em mim

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Faces e movimentos do grupo de pesquisa


 Num momento em que se discute a atualização dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, algumas questões têm orientado a discussão de aspectos que permanecem se impondo aos pesquisadores, o que exige uma avaliação e tomada de decisões.

Afinal, o que é e para que serve um grupo de pesquisa cadastrado no CNPq? Como deve funcionar? O que significa participar efetivamente de um grupo de pesquisa? Qual o perfil do grupo e de seus integrantes? O que o grupo propõe aos seus integrantes e como cada integrante contribui com o grupo?

Considerando que cada grupo tem a sua história, cultura, identidade, alma e personalidade construídas em torno de sua trajetória na confluência de interesses e necessidades pessoais de seus participantes com temas e perspectivas teórico-metodológicas adotadas, grupo de pesquisa implica em movimento. Movimento entre os pesquisadores que permanecem e os que estão de passagem, os mestrandos/doutorandos que chegam, se aproximam e transitam e os que se distanciam. Movimento que implica um processo de continuidades e rupturas, questionamentos e abertura para o novo. Movimento que como na dança, necessita uma sintonia mínima,  um ritmo e um equilíbrio entre os pares.

Nesse processo, busca-se lidar satisfatoriamente com as tensões provocadas pelos desejos internos das pessoas que fazem parte do grupo com demandas externas que regem as instituições a que estão vinculados. Nisso, evidencia-se o desafio de articular e aproveitar o que de melhor tem estas instituições com as identidades do grupo e seu perfil na busca de um trabalho com qualidade e sua necessária socialização e divulgação nos meios acadêmicos, científicos e/ou alternativos, pois  hoje, fazer pesquisa também implica em se comprometer com publicações.

Considerando que um grupo envolve pesquisa, ensino e extensão, é através da pesquisa que se investiga, sistematiza, produz e se faz avançar o conhecimento. Se o grupo de pesquisa tem compromisso com a produção de saberes e práticas, por também envolver orientandos vinculados a um programa de pós-graduação, tem também o compromisso político-pedagógico de produzir com qualidade e socializar suas produções. Ainda que a questão da qualidade seja sempre relativa, a socialização das produções faz parte da pesquisa, além de ser fundamental para estabelecer diálogos e interlocuções com o território e outras fronteiras, para ter visibilidade e dar a sua contribuição para além da pressão das agências de fomento e do programa institucional.

E para que o grupo de pesquisa possa se constituir de fato, esse processo implica a participação efetiva dos envolvidos. Parece óbvio, mas sem isso, fica apenas uma aproximação de pessoas, não necessariamente um grupo, pois não bastar “estar”, há que participar das diferentes atividades de estudo, formação e extensão que qualificam  o grupo e a pesquisa.

Evidentemente cada grupo de pesquisa possui uma dinâmica própria, mas em geral, para que o grupo funcione, além de pesquisas que possam agregar as diferentes pessoas há que se fazer encontros regulares e sistemáticos para discutir tanto os assuntos pertinentes à pesquisa e outros encaminhamentos que envolvem questões de ordem operacional, quanto para realizar estudos temáticos com aprofundamentos teóricos e conceituais constituindo-se em ambiente propício para a formação.Ter pesquisas aprovadas por órgãos competentes e fontes de financiamento permite certa aproximação de novos pesquisadores aos projetos existentes, o que não impede que outras abordagens e perspectivas se desenvolvam. De qualquer forma, para que isso ocorra é necessário organização, disciplina intelectual e compromisso com tal participação, que por mais singular que possa ser, pode ser entendida como uma condição para permanecer no grupo, sejam orientandos, pesquisadores assistentes ou pessoas interessados nos temas de estudo. Ainda que se possa discutir o conceito de participação e suas nuances, estar envolvido em algum projeto de pesquisa, participar de atividades de formação, e/ou de ensino e extensão é também uma condição para formar pesquisadores.

Dessa forma, a organização e o funcionamento do grupo possibilitam a seus participantes não apenas um trabalho de pesquisa em parceria mas também atividades de formação, ensino e extensão, que serão construídas conforme o que  cada um tem para contribuir com o grupo e suas diferentes formas de produção coletiva. Produção que possa ter uma reflexão original, um pensamento próprio e profundo sem perder a generosidade, o reconhecimento aos interlocutores e o compromisso com as dimensões éticas e estéticas da formação.

É mais ou menos isso que buscamos com o NICA, o grupo de pesquisa Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e Arte, grupo que possui linhas de pesquisa articuladas pela ênfase dada na importância da Arte, da Comunicação, da Cultura na Educação. Grupo que é formado por “gente que gosta de inventar, pesquisar, estudar e devolver à comunidade não só de seus pares mas do conjunto da sociedade, o resultado de seu esforço, no momento” como diz uma de suas fundadoras, Telma PiacentiniO mundo caminha e precisamos sempre deixar uma abertura para o novo, o diferente, o que não está ainda integrado aos projetos existentes...E nisto, o NICA pode dar exemplo, pois nasceu sob este signo: gosta do diferente, do que não existe ainda, mas pode existir, pois não tem medo  de desafios”.

Se isso é verdade, resta-nos enfrentar os desafios do momento com leveza e rigor, tanto na coordenação do grupo quanto no desenvolvimento de nossas pesquisas, na escolha e consolidação de parcerias, na ampliação de vínculos com outros grupos de pesquisa, enfim, nos caminhos e estratégias que traçamos para investigar esses e outros sentidos nos processos formativos e nos diferentes itinerários educacionais.

Imagem: Henry Matisse, A dança, 1910