sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Educação da infância, neurociencias e educação: questões e [pseudo] mitos

O papel da educação nos primeiros anos de vida  na construção da personalidade e as perspectivas do que seja um boa escola da infância estava no cento da discussão do Convegno Schole de 2016, realizado nos dias 15 e 16/09/2016, em Brescia. O coordenador do evento, Prof. Luciano Pazzaglia   destaca a relevância desta fase  na idade evolutiva e os novos reconhecimentos que repercutem na economia, que junto com outras áreas tem sublinhado  como na sociedades italiana, cada vez mais urgente garantir a todos uma educação da infância de boa qualidade se se pretende  um crescimento do país.

Na mesa de abertura,  a professora Egle Becchi mediou as conferencias do Prof. Serge Tisseron, Pier Cesare Rivoltella, Anna Maria Bondioli, Monica Amadini. A conferência de Tisseron foi um estímulo para refletir sobre crianças, jovens e mídias a partir das idades e dos tempos educativos em relação ao uso das telas. Fundamentado em diversas pesquisas longitudinais com crianças e famílias sobre os usos das mídias interativas ou não e como repercutem no âmbito da linguagem do ponto de vista educativo e social.  Com uma abordagem crítica e consciente para provocar  a responsabilidade social, sem demonizar nem supervalorizar, destaca o quanto tal questão interpela a todos, e destaca a importância de conhecer, acompanhar, discutir o que acontece, construindo categorias  que permitem falar da própria vida. Uma atitude de falar e construir  narrativas e posturas que promovam essa compreensão, visto que alguns problemas decorrentes não se resolvem individualmente. Egle Becchi pondera o quanto a via da negligencia  por discordar de certos usos nos afasta do mundo das crianças. Essa responsabilidade não seria a excepcionalidade, mas um diálogo necessário com as crianças, visto que entre “adultos e não adultos, a relação é a coisa mais importante. Ao falar sobre os novos paradigmas para repensar a pesquisa e a pedagogia da infância, Anna Bondioli enfatizou  aspectos do paradigma sócio-cultural e da nova sociologia da infância ponderando seus pressupostos e conceitos-chaves. Destacou os desafios no âmbito da pesquisa a fim de superar certas dicotomias que afirmam ou “a criança no centro” ou o “adulto o centro” e que seria importante pensar uma terceira via nessa relação.  Por sua vez, Monica Amadini discutiu os direitos das crianças a partir de pesquisas desenvolvidas no âmbito da pedagogia da família, com crianças e seus  pais.

O tema da neurociências e educação, muito em voga nos últimos anos, foi objeto do Congresso Internacional Neuroscienze ed Educazione, ocorrido no dia 30/9/2016, também em Brescia. Um olhar plural para as contribuições da neurociências e educação, o papel da atenção e da motivação na aprendizagem, a neurodidática, a ética, os modismos e os neuromitos foram alguns dos temas tratados no evento.  Estudiosos da Argentina, Espanha, Itália, Edimburg e outros pesquisadores/profissionais trouxeram abordagens que instigavam o pensar para além de certos argumentos por vezes simplistas e reducionisrtas que acabam se tornando clichês, que  repetidos à exaustão acabam virando pseudo-verdades de uma pseudo-ciência...    
Três pesquisadores da Associacion Educar/Argentina, compartilharam suas experiências desenvolvidas na escola da referida Asociação. Carlo Logatt Grabner, introduziu  as descobertas do nosso cérebro a partir das neuropsicopedagogia enfatizando a importância de saber como funciona nosso cérebro para entender como ele determina nossa vida e permite as mudanças  constantes do conhecimento a partir da unidade corpo-cérebro-mente-meio ambiente. Maria Cristina Castro enfatizou o estado da arte e o avanço das pesquisas sobre atenção e suas repercussões no âmbito da aprendizagem e do estado emocional destacando a importância de manter o foco diante de tantos estímulos típicos da sociedade contemporânea. Lucreia Prat Gay  discutiu algumas atividades com neurociência em sala de aula  no sentido de ativar o nosso cérebro social, nivelar os estados emocionais, de criar um clima favorável ao trabalho, e dos intervalos entre os estados de atenção  e da importância do movimento nesse contexto.
Ao pensar nas linhas de encontros possíveis entre neurociências e didática, Pier Cesare Rivoltella, da UCSC,  ponderou sobre o quanto certos aspectos  que hoje se evidenciam nas pesquisas no referido campo já se anunciavam nas práticas de grandes mestres da educação. Situou o objeto, natureza, problemas e perspectivas que a pesquisa tem se desenvolvido, sobretudo a partir do problema metodológico  e de aproximação entre essas campos na perspectiva de uma equipe multidisciplinar.
Por sua vez, o neurocientista Sergio Salla, da Universidade de Edimburg, trouxe outro olhar para pensar o tema e problematizou as pseudo-neurociências   na sociedade e na escola. Ao questionar o motivo e/ou a importância de educadores entenderem o funcionamento do cérebro, destoou de alguns argumentos anteriores e situando seu olhar da neurociência, e não da pedagogia, disse  “quero liberar um peso a mais que está sendo colocado aos professores: a neurociência não vos serve para nada”. Polêmico, argumentou sobre as hipersimplificações quando se fala de neurociências, como se fosse a resolução de todos os problemas, da banalização do conceito, do mercado que se cria ao redor,  e dos neuromitos que se constroem.
Na continuidade, as professoras Silvia Pradas Montilla e  Pilar Martin-Lobo,  da Universidade de la Rioja/Espanha, contaram sobre experiência do Master que atuam: “Neurotecnologia educativa : estado atual e metodologia” e sobre Neurociencias e Neuropsicologia aplicada à educação, respectivamente. 
A partir da questão: “em que medida as pesquisas em neurociências podem ajudar a educar as crianças para uma sociedade mais justa?”, a professora da UCSC e parlamentar Milena Santerini discutiu a questão ética e as neurociências enfatizando a dimensão intercultural a partir  da relação eu-outro. Com um panorama filosófico cultural buscou superar a narrativa da moda da neuromania contribuindo para pensar a construção de uma neurocultura. Uma bela e importante reflexão!

Como quase toda atividade formativa também implica uma formação cultural, a visita no Museu Santa Giulia, e mais especificamente no roteiro sobre a presença lombarda foi um belo fechamento a após um dia de intenso pensar... Ou seja, após mobilizar circuitos internos corpo-mente-ambiente, uma "viagem através da história, da arte e da espiritualidade de Brescia, da pré-história até os dias de hoje, nada como sentir uma atmosfera que provoca as mais diversas percepções...