terça-feira, 28 de junho de 2011

Filmes e políticas públicas para o audiovisual na Mostra de Cinema Infantil

Entre os dias 23/6 a 10/7/2011 acontece a 10ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis  com uma bela e diversificada programação para crianças e adultos. Para quem se interessa por cinema e pordução audiovisual para crianças, certamente será uma boa ocasião para atualizar o repertório fílmico e discutir a elaboração de políticas públicas para a cultura e para a infância.

A fim de consolidar um espaço de exibição de filmes de diferentes culturas traduzindo aspectos da diversidade e multiplicidade cultural daquilo que tem sido produzido no Brasil e no mundo, a Mostra exibiu em pré-estreia nacional, o filme Uma professora muito maluquinha, de André Alves, que contou com a participação de Ziraldo. Na Mostra Competitiva Diversidade Brasil, teve o lançamento do curta-metragem O Caminho das Gaivotas, de Alexandre Rodrigues, Bárbaro Ortiz, Daniel Herthel e Sergio Glenes, numa co-produção em parceria por meio de um projeto de cooperação cinematográfica entre Brasil e Cuba que em breve estará disponível para o público. Vale destacar a participação de crianças de escolas cubanas e brasileiras na discussão do conteúdo do filme. Após a sessão de lançamento, o público teve a oportunidade de conversar com os diretores e produtores num diálogo que trouxe as vozes das crianças revelando suas curiosidades  e impressoes sobe o filme, inclusive sobre a narração e voz da cantora cubana Omara Portuondo, que deu um brilho especial à poética e complexidade do filme.



 

Além de uma programação com atividades para as crianças, a mostra oferece uma programação para adultos. Aconteceu o 7º Encontro Nacional de Cinema Infantil reunindo produtores, diretores, distribuidores, exibidores, cineclubistas e secretaria do Audiovisual do MINC e coordenador da TV Brasil para discutir questões ligadas ao fomento, à produção e ao mercado para o audiovisual. Nessa discussão tão evidente quanto a importância de políticas públicas para o setor e para a infância, é a necessidade de bons roteiros para qualificar a produção nacional.

No Encontro da Comissão Nacional de Cinema Infantil, especialistas da área, produtores e cineastas - como Luiza Lins, Carla Esmeralda, Marialva Monteiro, Patrícia Duraes, Patrícia Alves Dias – discutiram com Secretária do Audiovisual do MINC, Ana Paula Santana, a importância de parcerias na elaboração de políticas públicas para o audiovisual. A secretária destacou que somente um trabalho coletivo que envolva e agregue os Ministérios da Cultura, da Educação, da Justiça, das Relações Exteriores pode repercutir na construção de uma política para a infância e que se nos últimos anos a infância tem sido das últimas prioridades, ela destacou que pretende inverter isso e assumindo tal compromisso publicamente.

Na continuidade da programação para adultos, vale destacar o Seminário Estadual de Cineclubismo, Cinema e Educação, que além da discussão o tema em questão serão lançados diversos livros sobre cinema e educação, entre eles, o de minha autoria Crianças, Cinema e Educação: além do arco-iris, fruto de uma pesquisa com crianças, realizada no Brasil e na Itália

domingo, 19 de junho de 2011

Produção audiovisual e digital de qualidade para crianças e adolescentes


Nos dias 14 a 16/6/2011 aconteceu a 5ª edição do Festival Prix Jeunesse Iberoamericano, em São Paulo, promovido pela Midiativa  e Fundação Prix Jeunesse  com parceria do SESC/SP, Goethe Institut e AECID/Centro Cultural da Espanha em São Paulo. A construção desse espaço de exibição e premiação de produções de conteúdo audiovisual, digital e interativo para crianças e adolescentes pretende não apenas incentivar a produção mas sobretudo discutir a qualidade de tais produções para a televisão e outros meios. Pensar e criar novos formatos que dialoguem com crianças e jovens de diferentes contextos socioculturais, no caso, latinoamericano, evidencia o desafio de articular as demandas de crianças e jovens com as demandas do universo da mídia, implicando a necessidade de discussão e capacitação a esse respeito.

Ao participar como avaliadora das produções, nesses dois dias, assisti a mais de 83 filmes e animações de diferentes duração e gênero, ficção e não ficção, exibidos em categorias de 10 a 6 anos, 7 a 11 anos e 12 a 15 anos, conforme programação do evento junto a diversos profissionais e especialistas com a tarefa de escolher as produções de destaque provindos de países como Colombia, Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai, Cuba,  Espanha e Brasil. Diante de tal diversidade, alguns temas são recorrentes e tratados de diferentes formas no universo da produção infanto-juvenil. 

Entre tantos, os que mais chamaram a minha atenção foram: 0 a 6 anos : 7 pets El condor pasa (Manuel Roman, Espanha), O caminho das gaivotas (Arbaro Ortiz, Daniel Herthel, Sergio Glenes, Alexandre Rodrigues, Brasil/Cuba), A velha a fiar (Cesar Cabral, Brasil), Cantamonitos Duerme negrito (Vivienne Barry, Chile, ver video abaixo); 7 a 11 anos: Enciclopedia (Bruno Gularte Barreto, Brasil), Com que sueñas (Paula Gomez Vera, Chile) Aqui estoy yo (Cielo Salviolo, Argentina), Centenario: Museo Nacional de Bellas Artes (Álvaro Ceppi, Chile), Pubertad –me gustas tu (Ernesto Piña, Cuba). 

Certamente precisaria muitos posts para comentar a beleza poética de alguns, a ética evidente de outros e a instigante estética presente cada um deles, que em suas formas e conteúdos expressavam uma polifonia de vozes e linguagens para dialogar com os diversos interlocutores. Assisti-los foi uma espécie de deleite, que para um estudioso e curioso do campo, só superado pelo momento da moderação, onde com demais avaliadores, alguns produtores e tantos interessados na questão, tínhamos a possibilidade de discutir aspectos dos indicadores considerados na avaliação (público alvo, idéia, roteiro, realização) e enriquecer nosso olhar com a problematização do olhar do outro. Além de encontrar pessoas conhecidas e conhecer tantas outras, foi um momento de troca muito especial, em que produtores, mediadores, professores e pesquisadores compartilhavam suas idéias e questões a respeito de diversos aspectos das diferentes produções que mais  se destacaram.

Entre as produções digitais e interativas, um aspecto que chama a atenção é a busca de novas possibilidades e caminhos para as produções, evidenciando as apostas ético-estéticas de cada proposta em suas formas e conteúdos. Ali foi possível problematizar a idéia que nem sempre encontra a técnica mais adequada para sua expressão e realização, onde por vezes a qualidade do artefato não vem acompanhada de um conteúdo significativo. Fica evidente o quanto ainda temos que avançar na discussão e produção de audiovisual e nos formatos digitais e interativos, e do quanto esse diálogo entre produtores, educadores e crianças é/pode ser profícuo.

Relacionado a isso, o workshop Is that funny?Humor in children’s TV:what children are really laughing about, (Humor: afinal do que as crianças estão dando risadas), por Maya Götz, foi providencial. A diretora do Instituto Central Internacional para a Juventude e a Televisão Educativa (IZI), de Munique, abordou em 3h, mais de uma década de estudos sobre o humor para crianças na programação televisiva. Ela situou diversos aspectos fundamentais para entender tal relação, não apenas ao endereçamento no que diz respeito à faixa etária e gênero, mas também a importância do contexto cultural na recepção. Entre as informações sobre como produzir para crianças, uma das questões que Maya mais enfatizou foi a necessidade de conhecer o público, ou seja, quem são essas crianças para quem se produz.

A esse respeito, fiquei particularmente satisfeita de ver como diversos aspectos de minha pesquisa (um estudo de recepção sobre um filme desenvolvido com crianças em dois contextos socioculturais no Brasil e na Itália) estão de acordo com o que Maya tem pesquisado em seus estudos .com a intenção de melhorar a qualidade das produções a partir do entendimento do que as crianças gostam.  Parte dos resultados dessa pesquisa será discutida na 10ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis , onde também haverá o lançamento do livro de minha autoria Crianças, Cinema e educação: além do arco-íris, que conta a história de tal pesquisa e traz as vozes das crianças que dela participaram.

Por fim, não poderia deixar de mencionar que tais atividades integraram um evento maior, o Comkids que também envolveu jornadas de negócios e wokshops propiciando um olhar mais amplo para sensibilizar diferentes setores da sociedade civil acerca do direito à produção cultural e da importância da mídia de qualidade comprometida com crianças e adolescentes.


sábado, 11 de junho de 2011

Expressoes geográficas, pedagógicas e comunicacionais



Quando afirmamos que as ferramentas da web 2.0 estão modificando as práticas culturais individuais e coletivas de crianças e jovens, costumamos enfatizara dimensão de autoria e produção, uma vez que cada vez mais se observa tal forma de participação na cultura digital. Crianças e jovens não apenas navegam na internet e participam de redes sociais, mas estão cada vez mais produzindo e compartilhando conteúdos. 

E o 3º Seminário da Revista Discente Expressões Geográficas, com o tema “Práticas Educacionais e Comunicacionais: Contribuições da Geografia para uma Pedagogia Cidadã”, que aconteceu na UFSC, nos dias 7 e 8 de junho, foi uma pequena amostra de tal participação estudantil. A iniciativa de estudantes do curso de Geografia da UFSC em organizar o referido evento e publicar sua Revista Eletrônica Discente é um exemplo concreto de como as tecnologias estão favorecendo certas interações e modificando certas práticas.

Convidada para participar da mesa de abertura abordando uma pesquisa sobre as tecnologias na formação de professores, fiquei feliz de ver o quanto estudantes sensíveis e bem (in)formados podem fazer a diferença no cotidiano universitário, sobretudo com a inquietação e o pensamento crítico que em geral caracterizam os estudantes que têm uma atuação e participação diferenciada na vida acadêmica. E isso certamente interpela e instiga a outras possibilidades de parceria e diálogo entre professores e estudantes.

Mais que compartilhar experiências de pesquisa, tal participação me fez pensar no que estamos propiciando aos nossos alunos da graduação em termos de aprendizagem e em que medida possibilitamos certas mudanças nessas e noutras práticas da relação pedagógica. Afinal, nos encontramos toda semana e permanecemos juntos por cerca de três, quatro horas. Nesse tempo da aula, que seria o espaço do encontro pedagógico, apresentamos e discutimos conteúdos, retomamos questões de leituras e exemplos práticos e enquanto alguns anotam e fazem diversos usos de seus laptops com diferentes janelas abertas, outros se debruçam cansados sobre as carteiras e quando interpelados, dizem “mas eu estava escutando”. E realmente esperamos que estejam...
E me pergunto em que medida conseguimos tocar os estudantes, instigar, alegrar, entristecer, enfim, mexer com suas idéias, reforçar algumas e rejeitar outras. Será que  saem da sala querendo conversar sobre isso e aquilo? Será que ficam com alguma pergunta? Será que aprendem alguma coisa para além do que é possível verificar em nossas insuficientes formas de avaliação?

Enfim, como estamos cumprindo nossa tarefa de criar um espaço de convivência (Maturana) ou uma comunidade de aprendizagem (Bruner) a partir de nossas experiências de ensinar e aprender? E de que maneira estamos desenvolvendo e transformando a nossa própria experiência pedagógica no sentido de criar outros espaços de significação?

De formas diferentes, é claro, porque temos vidas diferentes, espaços de perguntas e experiências distintas, penso que ainda assim é possível transformar juntos... E vendo aquele brilho nos olhos de jovens estudantes que produzem sua revista, fiquei pensando que em algum momento algo diferente foi criado e que eles parecem ter aceitado entrar no jogo e construir outros espaços de aprendizagem, convivência, interação, participação. E com isso, certamente vão construindo outros olhares e expressões “geográficas, pedagógicas e comunicacionais” sobre sua própria formação.


Imagem: site http://www.geograficas.cfh.ufsc.br/

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Encontro: escola e cinema

Iniciar uma discussão sobre cinema escola com a apreciação e análise do filme Onde fica a casa de meu amigo (Abbas Kiarostami, Irã, 1987) com Alain Bergala (Professor de cinema na Universidade de Paris III , diretor, crítico e ensaísta) é um bom começo. O filme segue uma criança e trata de questões da infância, tema que parece recorrente na obra diretor. Num país em que a censura não permite mostrar quase nada, falar com e sobre as crianças pode ser uma maneira para burlar isso e também de dar visibilidade a uma condição de pouca escuta às crianças. E o filme traz momentos de verdadeira poesia mostrando  que para crescer precisamos sair do lugar que conhecemos e enfrentar espaços desconhecidos, reais e simbólicos. E ao fazer isso, parece que a trama retoma aspectos do mito do herói da narrativa clássica, a iniciação, junto com elementos de Antígona, que no fundo, se deve “desobedecer” , o que também remete a uma possível alusão à situação política iraniana.

A acuidade do olhar de Bergala trazia pontos exatos do filme e referências precisas para reconhecer diversos aspectos, pontuando também seu enorme potencial para as crianças pensarem sobre o cinema e fazerem coisas a partir disso.

O segundo momento do encontro trouxe a presença do cinema no contexto escolar, destacando projetos consolidados na França, com princípios válidos para diversos contextos e as especificidades pedagógicas de alguns projetos no Brasil. Uma questão que se evidencia, é que esse processo quase sempre começa com pessoas apaixonadas pela sétima arte e, que quando há troca entre as experiências, é possível enriquecer e fortalecer projetos para buscar formas de legitimação política. E aqui os problemas parecem os mesmos: os professores não são preparados. No entanto, Bergala redimensiona tal questão e afirma que isso não é problema, pois um professor que quer aprender poder fazer a experiência, basta ter um projeto comum e as ferramentas para trabalhar com essa arte. E a esse respeito, aprofundou possibilidades dos dispositivos franceses ao mencionar a experiência do projeto Cinema: 100 anos de juventude  e os princípios pedagógicos para abordar o cinema com crianças e jovens.

Para falar do dispositivo português, a cineasta Teresa Garcia (Cineasta portuguesa) apresentou “Os filhos de Lumiere” http://osfilhosdelumiere.blogspot.com/  e a educação para imagem em movimento, contando a experiência e mostrando filmes feitos por crianças e jovens em parceria com cineastas e profissionais. Para ela, mostrar filmes e falar sobre os filmes é a melhor maneira de aprender sobre cinema.

No quarto ato, Alain Rivals (Administrador do dispositivo francês "Les Enfants de Cinéma") apresentou  um percurso de cinema para a formação de professores e projetos em sala de aula, e retomou aspectos do dispositivo frances com uma série de perguntas e questões ao articular as falas de Bergala e Garcia. Para ele, a relação pessoal de cada um com o cinema pode ser uma primeira questão para se pensar nas razões de trabalhar o cinema com os alunos. E ao retomar a diferenciação entre o processo de iniciação e ensino, Rivals destacou alguns obstáculos que dizem respeito ao significado da obra de arte na escola e ao trabalho de assistir aos filmes para realizar filmes no âmbito de um projeto artístico.

Por fim, se cinema é olhar é necessário auxiliar o trabalho de olhar. Estou certa que esse encontro promovido pela Escola Carlitos, entre os dias 2 a 4 de junho, certamente contribui para não apenas suscitar emoções e reflexões sobre o cinema mas para as diversas formas de olhar o cinema.