domingo, 20 de novembro de 2011

Educar para a mídia na escola segundo a lei municipal n.8623



A partir da aprovação da Lei Municipal n. 8623, de 2/6/2011, de autoria do vereador Marcio de Souza,  que dispõe sobre a implantação da Educação para a mídia nas escolas de Florianópolis, no dia 08/11/2011, participei de um debate promovido pelo Núcleo de Tecnologia Municipal para discutir alguns aspectos dessa lei com o referido vereador, com professores da rede municipal e auxiliares de ensino e tecnologia, a Mesa Redonda: mídia-educação, conceitos, práticas e legislação.

Ao iniciar os trabalhos, a profa. Cláudia, representando o Núcleo de Tecnologia  Municipal, NTM,  lembrou que há exatos 5 anos, discutíamos a elaboração da Carta deFlorianópolis para a Mídia-educação,  no contexto do I Seminário de Pesquisa em Mídia-educação, ocorrido na UFSC no s dias 13 e 14/11/2006, numa promoção do Núcleo Infancia, Comunicação, Cultura eArte, NICA, UFSC/CNPq,.  Entre as ações propostas na Carta, estava a inclusão da mídia-educação nos currículos e na formação inicial de professores e a continuidade das propostas de formação continuada.  

Assim, foi possível perceber que apesar das dificuldades que temos encontrado, muitas propostas de ação da Carta estão sendo viabilizadas por diversas pessoas comprometidas com a mídia-educação, tanto no âmbito  das práticas pedagógicas escolares e da formação continuada de professores, como no âmbito na formação inicial,  das pesquisas e das políticas públicas. 

No entanto, ainda temos muito a construir, sobretudo na busca do diálogo entre tais espaços de ações.

Ao situar o contexto de elaboração da lei, o vereador pontuou algumas repercussões que já vem observando por parte da mídia. No debate, esclareceu que desconhecia o trabalho já desenvolvido nas salas informatizadas da rede pública municipal e as propostas de formação viabilizadas pelo NTE.

Minha participação no debate se deu a partir de 5 pontos:

1)A importância da Lei 8623. No contexto da sociedade multitela, da informação, do conhecimento evidenciamos o protagonismo da mídia entre pessoas e conhecimento e consequentemente nos deparamos com  os desafios da educação contemporânea na formação de crianças, jovens e professores, o que demanda  pesquisas e políticas públicas que dialoguem com seus resultados. 

2) Mídia e formação de professores. Destaquei a realização da pesquisa em parceria desenvolvida com professores da rede municipal “Os usos dos meios, os consumos culturais e a formação de professores em mídia-educação”, entre 2008 e 2010 e seus principais resultados no que diz respeito ao acesso às tecnologias;  aos usos da mídia na escola, aos perfil profissionais em relação às tecnologias (não –usuário, iniciante, praticante, pioneiro); às dificuldades encontradas (formação, infraestrutura e manutenção); às boas práticas (produção midiáticas diversas, audiovisual, blog, radio); os descompassos entre o alto uso pessoal e baixo uso profissional e os consumos culturais: muita navegação na internet no tempo livre e pouca prática cultural de ir ao  cinema, teatro, shows, etc.

3) Ênfases da lei 8623 e a mídia-educação: considerando as perspectivas da Mídia-educação (crítica:educar sobre/para as mídias; metodológica/instrumental: educar com as mídias; e produtiva/expressiva: educar através das mídias) e seu  objetivo de  formar sujeitos críticos e criativo que usem todas as mídia como condição de cidadania instrumental e de pertencimento assegurando a partir dos direitos relacionados aos 3 P: proteção, provisão e participação, percebemos que o  artigo 2 da lei 8623 enfatiza “o objetivo principal orientar e estimular o senso crítico”, ou seja, a dimensão crítica de educar para as mídias.

Importante reconhecer a necessidade do pensamento crítico e reflexivo sobre o que se assiste na televisão e enfatizar o consumo responsável, mas não basta. Há que ir além  e pensar na dimensão da produção responsável. Ainda que o artigo 3 da lei 8623 sugere “forma complementar ações” (leitura de noticias, produção d e conteúdos de alunos, jornal, blog, radio, etc) parece que o desafio é inverter o foco: em vez de enfatizar a “influência das mídias”, pensar nas possibilidades de respostas e mediação.  

Afinal, hoje, crianças e jovens não são apenas espectadores, são também autores que estão produzindo e compartilhando suas produções em rede. E o desafio é como educar para a produção responsável? Nesse aspecto o a Artigo 4 da lei 8623 sugere possibilidade de integração da educação para a mídia na escola  através de palestras/oficinas/conteúdos das disciplinas e o Artigo 5 da lei 8623 indica: Oficinas para professores e pais/responsáveis. Mas a pergunta que fica é como viabilizar? 

4)Cultura digital e a lacuna na lei: a relação de crianças e jovens  com a cultura digital.  Mencionando a pesquisa EUKids on linedestacamos  alguns riscos das atividades online no que diz respeito aos conteúdos, contatos, comércio e condutas que propiciam práticas inadequadas, irresponsáveis  e não éticas sem a devida mediação. Também mencionamos as possibilidades de aprendizagens diversas, colaborativas e participativas que podem ser propiciadas por certas atividades online.

Aqui, destacamos a importância de articular a  lei com a prática pedagógica na perspectiva da mídia-educação no sentido dos novos letramentos e das mediações na perspectiva das múltiplas linguagens, ou multiliteracies, como possibilidades de inclusão digital que ultrapasse a dimensão do acesso ao equipamento e da crítica, implicando a qualidade e mediação cultural significativa. 

5) Leis, políticas públicas e mídia-educação: nesse sentido enfatizamos a importância de leis e políticas públicas - seja  de inserção das TIC nas escolas, seja  de inclusão de conteúdos disciplinares -  articuladas com políticas de formação do professor e suas competências na perspectiva da midia-educacão. Ou seja, defendemos a necessidade de políticas públicas  que sejam participativas e que professores e pesquisadores têm muito a dizer e a contribuir com a consolidação da mídia-educação, que  esta deve ser um  patrimônio de todo professor que se torna também midia-educador.

Imagem: http://mediainfluenceonyoungchildren.blogspot.com/

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