domingo, 13 de novembro de 2011

Seminário UCA Bahia

Após implantação do projeto piloto UCA em diversos estados do país, a equipe que acompanhou o UCA na Bahia organizou um Seminário para avaliar a experiência, analisar os desafios e pensar encaminhamentos possíveis a partir da discussão dos problemas. Compartilho parte das reflexões e discussões que ocorreram no Seminário que participei, nos dias 3 e 4/11/2011, no Instituo Anísio Teixeira, em Salvador, promovido pelo GEC/UFBA.

Entre as dificuldades apontadas, evidenciamos a dificuldade com acesso à internet, uma vez que a maioria das escolas baianas ainda não está conectada. Parece que só entregaram as máquinas sem o servidor para funcionar e nese caso a lógica/filosofia do software livre (SL) não funciona. E quando a a conexão funciona, os acessos são lentos demais. Então a pergunta: qual o caminho da política para realmente implantar a base de funcionamento do projeto?

Ao mesmo tempo em que o CNPq financia projetos para avaliar a implantação e desenvolvimento do Prouca, parece que há a necessidade de um olhar fora do MEC para apontar o dado de realidade: o que se faz com as pesquisas feitas? Como as políticas públicas dialogam com elas?

Ao situar estas e outras questões para o debate, Nelson Pretto (UFBA) relembra os propósitos da reunião de trabalho reafirmando a dimensão ativista, ao lado da dimensão acadêmica e da dimensão política do encontro. Como avançar para que os computadores não fiquem prisioneiros da lógica dos “projetos pedagógicos” no sentido de “ensinar conteúdos curriculares”? Como adequar o modelo de escola na construção do mundo contemporâneo? É possível  envolver outras instâncias em nível macro e micro (prefeitura, pontos de cultura) no sentido do projeto assumir uma dimensão que pode fazer a diferença em termos de bagagem simbólica? É possível incorporar o computador como elemento de formação da cidadania, para além de ensinar disciplinas?

Ao criticar o equívoco da relação entre Estado/Município/Universidade/MEC,a lógica da universidade "global e local", como se uma fosse menor que a outra, acaba por reproduzir a filosofia catedral e não basal, princípio este que orienta a filosofia do SL. Mas o fato de certas políticas públicas nascerem de uma forma equivocada, e por vezes com traços esquizofrênicos, não significa que devemos continuar seguindo a mesma lógica para resolução dos conflitos instalados.

Como ainda não se tem um política de banda larga sem fio, a ação política do Prouca transcende o currículo e demanda ação ativista de cada um dos envolvidos.
É difícil pensar um projeto quando não se sabe ao certo o que está acontecendo e nem que são os responsáveis no MEC, ainda mais quando os discursos oficiais assumem que o momento é o dos tablets. Então, como articular um projeto de formação e uso dos computadores nas escolas como opssibilidade de exercer a cidadania?

Ao situar o histórico das políticas de tecnologia na educação, Paulo Cysneiro (UFPE) destacou  3 iniciativas: Educom (1983); Proinfo (1997); UCA (2005) e situou a importância da capacitação, avaliação e pesquisa. 

A esse respeito, fico pensando como a formação inicial acompanha essa discussão? Se as políticas públicas parecem ser esquizofrênicas, até que ponto não estamos reproduzindo essa lógica, uma vez que grande parte dos professores dos cursos de licenciatura pouco dialogam com as pesquisas feitas nesse campo?

Elisa Quartiero (UDESC) destacou a importância de pensar ações para avaliar o UCA  para além da escola, situando a semelhança dos problemas nos projetos em SC e BA.

Por sua vez, Maria Helena Bonilla(UFBA) ressaltou a dimensão formativa e inclusiva do projeto no sentido de entender o uso da máquina como cultura e comunicação, pois o resto será conseqüência. 
Relacionado a isso, os que entendem que as máquinas "são da educação", esquecem que também são da comunicação, e que transformar o UCA em “computador educacional” é matar o potencial do computador. A esse respeito, Nelson lembrou que no Uruguai, onde houve a implantação do UCA em todas escolas do país, crianças e adolescentes já estão programando e produzindo com o "uquinha" deles. Isso exige repensar não apenas as práticas pedagógicas escolares mas a questão das linguagens, dos currículos, da organização da escola e toda  sua arquitetura.

Nesse sentido, precisamos ir além do entendimento do pedagógico como sinônimo de “controle” para pensar na dimensão da participação e todas as tensões que fazem parte do processo formativo.

A partir de comentários de alguns professores que demonstraram certo descontentamento por não terem sido consultados sobre o projeto, criticando inclusive as propostas de capacitação nele previstas, é importante deixar claro que nós também estamos nos formando nesse processo e em muitas situações vamos aprendendo com os estudantes. “Também criticamos a linearidade das propostas de formação” e “também fomos pegos de surpresa”, destacam Bonilla e Nelson.  E aí deve entrar a nossa sabedoria, em se apropriar desse processo aproveitando a infra na perspectiva de modificar o projeto de formação e o próprio UCA.

Sabedoria também de se apropriar desse processo de formação para construir juntos, nós, que temos certa expertise sobre isso e não abrimos mão dela, junto com os professores das escolas que sabem de fato o que acontece na ponta do processo. “Não vamos chegar onde os alunos estão porque não é nossa função, afinal, não queremos voltar a ser crianças e nem eles vão querer ser mais velhos”.

A escola é isso, encontro entre diferentes gerações e temos que assumir nosso papel de educar. Precisamos discutir a lógica de formação para além da apropriação da máquina. Tem que saber o que se pode fazer com as tecnologas móveis na escola para além do UCA. Isso pode significar uma perspectiva de criar e “integrar um parque tecnológico na escola”, e se possível, integrar as políticas do infocentro e dos pontos de cultura, destaca  Nelson. E para isso, o professor tem que ser liderança, chamar para conversar e se envolver no processo para que possamos juntos apontar alguns caminhos de formação e  integração, e claro, fazer a rede funcionar.

Essa foi uma pequena amostra do começo da nossa mesa de  conversa, pois o Seminário continuou com relatos de experiências nas escolas participantes do projeto: E. E Júlia Montenegro Magalhães(Cícero Dantas), E. E. Mª Antonieta Alfarano (Salvador); E. M.Jesus Bom Pastor (Barro Preto);E. M. Argentina Castelo Branco (Gandu); Escola Duque de Caxias (Irecê); E. E. Lindemberg Cardoso (Salvador);E. M. Edgar Santos (Maracangalha); E. E. Pe. Carlos Salério (Itabuna); E. M. Prof. Dasio J. de Souza (Candeias); Centro  Territorial Educação Profisisonalizante (Feira de Santana).


Apesar da diversidade de experiencias e projetos desenvolvidos, as dificuldades pareciam se repetir. Após trabalho em grupo para discutir os problemas relacionados a infraestrutura, formação de professores, relação família-uca, gestão e logística, e uso do "uquinha" houve o momento de  debate das propostas de encaminhamentos, que seriam sistematizadas com o indicativo de uma petição online exigindo condições e infraestrutura para todas as escolas do UCA Brasil.


                                                        Fonte da imagem: http://recursosmidiaticosnte11.blogspot.com/

Nenhum comentário: