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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Participação e mídias sociais: entre faces e máscaras



Diante dos acontecimentos que estamos acompanhando nos últimos dias, os diferentes tipos de manifestação social que se espalham por diversas cidades brasileiras parece ter algumas questões em comum. Além da diversidade do conteúdo das reivindicações e dos diferentes perfis dos participantes, a indignação demonstrada, as estratégias utilizadas, e a mobilização pelas mídias sociais chamam a nossa atenção, para além do momento político e da crise de credibilidade em diversas instituições.

Muitas são as hipóteses sobre as motivações que movem cada um e seus diferentes modos de se posicionar frente aos acontecimentos: indiferença, curiosidade, dúvida,  perplexidade, indignação, vozes, silêncios, até o desejo de refletir e tomar parte. Foi com essa mistura de sentimentos que participei da manifestação ocorrida na noite de ontem em Florianópolis, que segundo alguns cálculos, apesar da chuva que caía, reuniu em torno de 30 mil pessoas nas ruas da cidade. Certamente seria interessante ter os olhares de quem está diretamente envolvido, mas são tantos e tão diversos, que a aparente falta de liderança e de definição de propostas nos deixa sem saber ao certo o que de fato está acontecendo. 

Uma impressão mais ou menos clara parece ser a de que são muitas as faces e as máscaras destes movimentos.

Olhares de estudiosos, analistas políticos, educadores, jornalistas, e das pessoas em geral têm destacado a complexidade destes movimentos e a dificuldade de identificar o que de fato está acontecendo, como disse Mario Prata em sua crônica “A passeata”, do dia 19/6/2013: “sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância”.

Como um recorte possível desse não-entendimento, é importante pensar o papel das mídias sociais nessa convocação. Muitos atribuem às redes sociais grande parte da organização desse movimento, pois em vez de identificar “nomes” e “líderes” reivindica-se a organização em “redes”. No entanto, ao mesmo tempo em que isso ocorre, é importante não perder de vista que esse movimento “começou nas ruas” e que sua repercussão nas redes assumiu diferentes formas, desde a organização de novas mobilizações, convites e convocações até o compartilhamento das diferentes experiências com imagens e comentários os mais diversos das mais diferentes “tribos”. Ou seja, parece que a proporção que tal movimento foi alcançando nas redes deve-se à ressonância que o mesmo assumiu em outros espaços.

Nesse quadro, é interessante discutir as diversas formas de comunicação e participação que intensificam certas relações e que multiplicam certos espaços de sociabilidade colocando os sujeitos nas redes, seja nas ruas seja nas redes digitais, e como seus dispositivos impactam a vida cotidiana de crianças, jovens e adultos. No caso de tais manifestações sociais, o que pode ser lido como um possível aumento da consciência do outro,  vontade de conhecer, e possibilidade da participação em processos democráticos, também pode ser problematizado como apenas figuração e número, como oportunismo de certos grupos, e muitos outros motivos para além da presença “curiosidade”.

Ao mesmo tempo em que isso ocorre, alguns aspectos críticos também merecem ser discutidos: os níveis de participação considerados de “baixa definição” em que parece ser insuficiente manifestar a opinião, o contágio da multidão, a participação sem envolvimentos verdadeiros nas situações, os reais interesses diante de tanta diversidade de discursos e práticas, da indefinição de propósitos, e certa superficialidade de relações e representações dos movimentos nas redes e nas mídias.

Entre tantas hipóteses e indefinições, percebemos como o atravessamento da mídia e das redes sociais repercute em nosso cotidiano e com isso também possibilita novos modos de participação na sociedade, na cultura e por que não dizer, na escola? E por falar em escola, como será que esse momento está sendo problematizado nas discussões de sala de aula? Será que “as vozes das mídias” e seu princípio informativo ainda assumem seu caráter de “verdade inquestionável” e de “legitimidade” diante dos fatos mostrados e de “construção de realidades” ou também estão sendo entendidos como possíveis “formas de interpretação”? Que mediações desses movimentos, práticas e discursos estão sendo feitas?


Nesse intercruzamento real e simbólico dos acontecimentos, das manifestações, das práticas, dos discursos e das mediações, mais uma vez, evidenciamos a necessidade da mídia-educação como condição de cidadania “real e virtual”. A importância do pensamento crítico-reflexivo para tentar interpretar as facetas desses movimentos e suas formas de empoderamento, tanto na perspectiva de ir além do que nos “é dado a ver” como na possibilidade de construir outras formas de participação. 


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Faces e movimentos do grupo de pesquisa


 Num momento em que se discute a atualização dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, algumas questões têm orientado a discussão de aspectos que permanecem se impondo aos pesquisadores, o que exige uma avaliação e tomada de decisões.

Afinal, o que é e para que serve um grupo de pesquisa cadastrado no CNPq? Como deve funcionar? O que significa participar efetivamente de um grupo de pesquisa? Qual o perfil do grupo e de seus integrantes? O que o grupo propõe aos seus integrantes e como cada integrante contribui com o grupo?

Considerando que cada grupo tem a sua história, cultura, identidade, alma e personalidade construídas em torno de sua trajetória na confluência de interesses e necessidades pessoais de seus participantes com temas e perspectivas teórico-metodológicas adotadas, grupo de pesquisa implica em movimento. Movimento entre os pesquisadores que permanecem e os que estão de passagem, os mestrandos/doutorandos que chegam, se aproximam e transitam e os que se distanciam. Movimento que implica um processo de continuidades e rupturas, questionamentos e abertura para o novo. Movimento que como na dança, necessita uma sintonia mínima,  um ritmo e um equilíbrio entre os pares.

Nesse processo, busca-se lidar satisfatoriamente com as tensões provocadas pelos desejos internos das pessoas que fazem parte do grupo com demandas externas que regem as instituições a que estão vinculados. Nisso, evidencia-se o desafio de articular e aproveitar o que de melhor tem estas instituições com as identidades do grupo e seu perfil na busca de um trabalho com qualidade e sua necessária socialização e divulgação nos meios acadêmicos, científicos e/ou alternativos, pois  hoje, fazer pesquisa também implica em se comprometer com publicações.

Considerando que um grupo envolve pesquisa, ensino e extensão, é através da pesquisa que se investiga, sistematiza, produz e se faz avançar o conhecimento. Se o grupo de pesquisa tem compromisso com a produção de saberes e práticas, por também envolver orientandos vinculados a um programa de pós-graduação, tem também o compromisso político-pedagógico de produzir com qualidade e socializar suas produções. Ainda que a questão da qualidade seja sempre relativa, a socialização das produções faz parte da pesquisa, além de ser fundamental para estabelecer diálogos e interlocuções com o território e outras fronteiras, para ter visibilidade e dar a sua contribuição para além da pressão das agências de fomento e do programa institucional.

E para que o grupo de pesquisa possa se constituir de fato, esse processo implica a participação efetiva dos envolvidos. Parece óbvio, mas sem isso, fica apenas uma aproximação de pessoas, não necessariamente um grupo, pois não bastar “estar”, há que participar das diferentes atividades de estudo, formação e extensão que qualificam  o grupo e a pesquisa.

Evidentemente cada grupo de pesquisa possui uma dinâmica própria, mas em geral, para que o grupo funcione, além de pesquisas que possam agregar as diferentes pessoas há que se fazer encontros regulares e sistemáticos para discutir tanto os assuntos pertinentes à pesquisa e outros encaminhamentos que envolvem questões de ordem operacional, quanto para realizar estudos temáticos com aprofundamentos teóricos e conceituais constituindo-se em ambiente propício para a formação.Ter pesquisas aprovadas por órgãos competentes e fontes de financiamento permite certa aproximação de novos pesquisadores aos projetos existentes, o que não impede que outras abordagens e perspectivas se desenvolvam. De qualquer forma, para que isso ocorra é necessário organização, disciplina intelectual e compromisso com tal participação, que por mais singular que possa ser, pode ser entendida como uma condição para permanecer no grupo, sejam orientandos, pesquisadores assistentes ou pessoas interessados nos temas de estudo. Ainda que se possa discutir o conceito de participação e suas nuances, estar envolvido em algum projeto de pesquisa, participar de atividades de formação, e/ou de ensino e extensão é também uma condição para formar pesquisadores.

Dessa forma, a organização e o funcionamento do grupo possibilitam a seus participantes não apenas um trabalho de pesquisa em parceria mas também atividades de formação, ensino e extensão, que serão construídas conforme o que  cada um tem para contribuir com o grupo e suas diferentes formas de produção coletiva. Produção que possa ter uma reflexão original, um pensamento próprio e profundo sem perder a generosidade, o reconhecimento aos interlocutores e o compromisso com as dimensões éticas e estéticas da formação.

É mais ou menos isso que buscamos com o NICA, o grupo de pesquisa Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e Arte, grupo que possui linhas de pesquisa articuladas pela ênfase dada na importância da Arte, da Comunicação, da Cultura na Educação. Grupo que é formado por “gente que gosta de inventar, pesquisar, estudar e devolver à comunidade não só de seus pares mas do conjunto da sociedade, o resultado de seu esforço, no momento” como diz uma de suas fundadoras, Telma PiacentiniO mundo caminha e precisamos sempre deixar uma abertura para o novo, o diferente, o que não está ainda integrado aos projetos existentes...E nisto, o NICA pode dar exemplo, pois nasceu sob este signo: gosta do diferente, do que não existe ainda, mas pode existir, pois não tem medo  de desafios”.

Se isso é verdade, resta-nos enfrentar os desafios do momento com leveza e rigor, tanto na coordenação do grupo quanto no desenvolvimento de nossas pesquisas, na escolha e consolidação de parcerias, na ampliação de vínculos com outros grupos de pesquisa, enfim, nos caminhos e estratégias que traçamos para investigar esses e outros sentidos nos processos formativos e nos diferentes itinerários educacionais.

Imagem: Henry Matisse, A dança, 1910