segunda-feira, 30 de maio de 2016

O poder da imagem



No contexto de um Seminário sobre Mídia e Aprendizagem realizado nos dias 23 e 24/5/2016 na Università Degli Studi di Foggia, UNIFG, o tema Cinema e Formação foi discutido na Mesa Redonda “O poder da imagem”, com participação dos Professores Roberto Diodato e Pier Cesare Rivoltella, ambos da Università Cattolica del Sacro Cuore di Milano. Como mediadora da mesa, a convite do Prof. Pierpaolo Limone, diretor do ERID Lab “Educational Research and Interaction Design”, destaco alguns pontos interessantes desse encontro tão inspirador:

1. Um primeiro aspecto a destacar é a proposta de pensar o olhar da Filosofia/Estética sobre a imagem cinematográfica ao lado do olhar da Educação/Didática.  Na busca de um diálogo a partir de tantas possibilidades que a relação com a imagem coloca em jogo, o desafio de um olhar multidisciplinar e multimodal que implica certo deslocamento e com isso amplia o olhar do lugar da educação.

2. Na perspectiva da filosofia, Diodato destaca a imagem e seu valor de representação de um “ausente presente em outra substância”, enriquecido pela mediação. Ao analisar o dispositivo de mediação, retoma Morin e o estupor diante desse universo imaginário que constitui tal realidade para pensar o universo cinematográfico como lugar tecnológico contemporâneo na construção do imaginário, que no seu duplo também revela a projeção de nós mesmos. O destaque para alguns conceitos filosóficos elaborados através do cinema - como por exemplo, tempo e movimento em Deleuze – ajuda a entender “o devir da imagem em movimento como fluxo da imersão do visível no tempo.” Um devir narrrado de uma história que se transforma em visão, como imagem que escreve o mundo e que é substancialmente relação.

2. Relação que também foi enfatizada por Rivoltella, ao trazer o poder da imagem  e seus usos educativos a partir de uma narração autobiográfica de suas experiências com o cinema. A retomada de sua experiência na construção do gosto pelo cinema ainda como estudante, me lembrou a importância da “experiência de iniciação” que fala Bergala. Iniciação que nesse caso se transformou em estudos posteriores sobre o tema e sobre os usos possíveis do cinema na educação: pré-textual (educar com o cinema – a imagem como suporte), textual (educar ao cinema – imagem como objeto de reflexão), processual (educar através do cinema – imagem como espaços de encontro, como dispositivos de processos suscitados no grupo para elaboração).  Reflexões atualizadas pelos estudos no campo da neurociência e neuro-estética, que problematizam e esclarecem como a imagem opera a mediação entre sujeito/cérebro e mundo bem como as possibilidades educativas do cinema nessa relação. Possibilidades de uso de imagem que podem fechar ou abrir o sentido, que podem produzir certos “choques visuais” diante da ambiguidade da imagem e assim favorecer a discussão, e que podem ainda problematizar a simulação incorporada,  a ação ativada a partir da imagem/visão, nesse caso o cinema entendido como dispositivo vicariante.

3. Nessa reflexão, o espaço da didática e o ponto de vista pedagógico que interessa diante das possíveis identidades projetivas que as imagens em geral e o cinema  em particular oferecem, seja como retorno do sujeito sobre si mesmo, seja como possibilidade de motivação. Desafio de trabalhar as ambiguidades da imagem, perceber o que mostram e escondem e como nos envolvem, para abrir a discussão sobre como nos relacionamos com elas e com outros textos da cultura.


4. Por fim, a discussão sobre o “bombardeio e a banalização do uso de imagens na escola”, por vezes sem sentido e sem contexto, que parecem anestesiar e que pouco sensibilizam os estudantes [nessa sociedade do espetáculo, da informação, da imagem e da retórica da inovação]. Necessária discussão sobre a escolha e seleção das imagens que usamos, e que certamente transcende o espaço da escola para ser problematizada também nos espaços da formação universitária e no trabalho docente em geral. Enfim a reflexão sobre a cultura didática e a cultura da imagem  de modo a problematizar a tradição didática que trabalha com a imagem residual e com o uso da imagem sem cultura, sem reflexão sobre a relação imagem-texto, nem sobre a representação visual do conhecimento e suas possibilidades para construir, de fato, um espaço semiótico de aprendizagem significativa.

Imagem: Girl with a Pearl Earring (Jan Vermeer, 1665-1667)
http://www.essentialvermeer.com/catalogue/girl_with_a_pearl_earring.html#.V0wLUyN946g

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