Diante
dos acontecimentos que estamos acompanhando nos últimos dias, os diferentes
tipos de manifestação social que se espalham por diversas cidades brasileiras
parece ter algumas questões em comum. Além da diversidade do conteúdo das
reivindicações e dos diferentes perfis dos participantes, a indignação
demonstrada, as estratégias utilizadas, e a mobilização pelas mídias sociais
chamam a nossa atenção, para além do momento político e da crise de
credibilidade em diversas instituições.
Muitas são as hipóteses sobre
as motivações que movem cada um e seus diferentes modos de se posicionar frente aos acontecimentos:
indiferença, curiosidade, dúvida, perplexidade, indignação, vozes, silêncios, até o desejo de refletir
e tomar parte. Foi com essa mistura de sentimentos que participei da
manifestação ocorrida na noite de ontem em Florianópolis, que segundo alguns
cálculos, apesar da chuva que caía, reuniu em torno de 30 mil pessoas nas ruas
da cidade. Certamente seria interessante ter os olhares de quem está
diretamente envolvido, mas são tantos e tão diversos, que a aparente falta de liderança e de definição de propostas nos deixa sem saber ao certo o que de fato está acontecendo.
Uma impressão mais ou menos clara parece ser a de que são muitas as faces e as máscaras destes movimentos.
Uma impressão mais ou menos clara parece ser a de que são muitas as faces e as máscaras destes movimentos.
Olhares
de estudiosos, analistas políticos, educadores, jornalistas, e das pessoas em
geral têm destacado a complexidade destes movimentos e a dificuldade de
identificar o que de fato está acontecendo, como disse Mario Prata em sua crônica “A passeata”, do dia 19/6/2013: “sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo
nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este
que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e
ignorância”.
Como um recorte possível desse não-entendimento,
é importante pensar o papel das mídias sociais nessa convocação. Muitos atribuem
às redes sociais grande parte da organização desse movimento, pois em vez de identificar “nomes” e
“líderes” reivindica-se a organização em “redes”. No entanto, ao mesmo tempo em
que isso ocorre, é importante não perder de vista que esse movimento “começou
nas ruas” e que sua repercussão nas redes assumiu diferentes formas, desde a organização
de novas mobilizações, convites e convocações até o compartilhamento das
diferentes experiências com imagens e comentários os mais diversos das mais
diferentes “tribos”. Ou seja, parece que a proporção que tal movimento foi
alcançando nas redes deve-se à ressonância que o mesmo assumiu em outros
espaços.
Nesse quadro, é interessante discutir
as diversas formas de comunicação e participação que intensificam certas relações e que multiplicam certos espaços
de sociabilidade colocando os sujeitos nas redes, seja nas ruas seja nas redes
digitais, e como seus dispositivos impactam a vida cotidiana de crianças, jovens
e adultos. No caso de tais manifestações sociais, o que pode ser lido como um possível
aumento da consciência do outro, vontade
de conhecer, e possibilidade da participação em processos democráticos, também
pode ser problematizado como apenas figuração e número, como oportunismo de
certos grupos, e muitos outros motivos para além da presença “curiosidade”.
Ao mesmo tempo em que isso ocorre, alguns aspectos
críticos também merecem ser discutidos: os níveis de participação considerados de “baixa definição” em
que parece ser insuficiente manifestar a opinião, o contágio da multidão, a
participação sem envolvimentos verdadeiros nas situações, os reais interesses
diante de tanta diversidade de discursos e práticas, da indefinição de
propósitos, e certa superficialidade de relações e representações dos
movimentos nas redes e nas mídias.
Entre
tantas hipóteses e indefinições, percebemos como o atravessamento da mídia e
das redes sociais repercute em nosso cotidiano e com isso também possibilita novos
modos de participação na sociedade, na cultura e por que não dizer, na escola?
E por falar em escola, como será que esse momento está sendo problematizado nas
discussões de sala de aula? Será que “as vozes das mídias” e seu princípio informativo
ainda assumem seu caráter de “verdade inquestionável” e de “legitimidade”
diante dos fatos mostrados e de “construção de realidades” ou também estão
sendo entendidos como possíveis “formas de interpretação”? Que mediações desses
movimentos, práticas e discursos estão sendo feitas?
PS:grande parte das ideias deste post também foi publicado em http://www.gazetadopovo.com.br/blog/educacao-midia/?id=1384180&tit=midias-sociais-e-outras-possibilidades-de-participacao