sábado, 3 de dezembro de 2011

Um olhar para educação, mídia e vida cotidiana


A disciplina  Educação, Mídia e Vida Cotidiana - ministrada pela Profa. Dra. Lynn Alves  e pelo Prof. Dr. Augusto Cesar Rios Leiro  no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual da Bahia, PPGEduc da UNEB, em Salvador - trata da relação entre as categorias teóricas educação e mídia sob o olhar da vida cotidiana, estuda as diversas possibilidades midiáticas e analisa criticamente as experiências nesse campo. Como o diálogo com diversos professores e pesquisadores de áreas afins faz parte da proposta do plano de atividades da disciplina, fui convidada para participar do encerramento do semestre, no dia 2/12/2011, com a palestra Educação e Mídia: olhares e desafios.

O início do trabalhos começou com uma breve performance teatral para divulgar o espetáculo Quem é ela , que tem no elenco uma estudante da disciplina. Ao trazer fragmentos do universo feminino sobre a condição de muitas mulheres, a intenção era trazer um pouco do teatro à universidade como convite ao debate de temas como: preconceito, submissão, violência, assédio, agressão, poder e força feminina, enfatizando aspectos da Lei Maria da Penha. E isso foi feito com arte, humor, música, poesia, informação e grande presença de cena. 

Ao assistir e me divertir com certas cenas do cotidiano, representadas naquela performance artística no espaço de uma sala de aula, fiquei pensando no quanto a arte e a cultura podem qualificar nosso trabalho em educação. Nesse caso, a disciplina poderia ter sido lindamente encerrada com a leveza deste divertido momento.

No entanto, tinha que fazer a minha parte, e como planejado, iniciei minha fala  trazendo também alguns elementos de outra arte, o documentário Janela da alma (de Joao Jardim e Walter Carvalho), para pensar educação, mídia e cultura a partir da dimensão do olhar e do fazer na cultura digital. Calvino e a visibilidade como valor literário, o fotógrafo cego Bavcar e a cegueira generalizada, o diretor cinematográfico Wenders e a questão do enquadramento das imagens que devem servir às histórias, e o escritor Saramago sintetizando a possibilidade desse nosso jeito de ver que é único foram a inspiração para o estranhamento no pensar as diferentes enunciações, os diversos modos de ver e atuar na complexidade desses espaços plurais em que nos constituímos. Entre visibilidades e cegueiras, imagens, enquadramentos e possibilidades de ver, a intenção era problematizar o atravessamento da mídia na vida cotidiana buscando elementos para pensar a mediação pedagógica entre público-privado e aprendizagem formal-informal num momento em que crianças e jovens são cada vez menos espectadores e cada vez mais atores e produtores de imagens e mídias que compartilham nas redes sociais. 

Essas novas formas de práticas culturais e de consumo situam-se no contexto da sociedade multitela, onde certas tecnologias entendidas como objetos sociais podem ser vistas como verdadeiros atores sociais no entendimento de E. Goffmann. Para ele, o mundo digital é um  cenário de ação e nesse cenário,  por exemplo, o celular pode ser visto como um ator social, uma vez que também atua no espaço, faz coisas e nos faz fazer coisas também, sendo mais que uma simples ferramenta. E a partir desse exemplo, os usos de outras tecnologias também estão modificando a relação entre esfera pública, mídia digitais e educação, fazendo-nos pensar em outras relações entre a ordem da visão, ação e participação na cultura. 

O entendimento da mídia como cultura, para além da dimensão ferramenta, implica perceber também outras possibilidades em relação aos direitos civis e à construção da cidadania política, social e cultural. Entre as diversas possibilidades, estão as que a cultura digital promove sobretudo a partir das tecnologias móveis, e isso traz outros elementos para pensar a mídia-educação. Afinal, as formas da cidadania desafiada pelas novas mídias sugerem que o paradigma da leitura crítica parece ser insuficiente para pensar uma produção ética-estética responsável, levando alguns estudiosos da área a falar em new media education.

Na direção de uma abordagem ecológica e culturalista da mídia-educação, podemos redimensionar seu o entendimento para além de um campo em construção pensando em posturas mídia-educativas. Afinal, o contexto da cultura da convergencia de tecnologias e linguagens traz outras demandas para entendermos as diferentes formas e apropriação das múltiplas linguagens ou multiliteracies, dos novos letramentos e suas produções escritas, visuais, audiovisuais, musicais, teatrais, corporais, digitais, etc.  E nessa perspectiva de entender a mídia-educação também como linguagem e postura, a mídia-educação pode tornar-se a própria educação, como defende Rivoltella.

Em tal abordagem, as possibilidades de pesquisa no campo da mídia-educação nos desafiam a pensar crianças, jovens e professores e suas relações com a cultura, tais como algumas investigações sobre crianças e cinema; usos das mídias, consumos culturais e competências digitais dos professores; tecnologias móveis e seus desafios teórico-metodológicos. Aliado a isso, o desafio das dimensões educativa, política e ativista para configurar a escola como lugar de educar  sobre, com e através das mídias como possibilidade de formação de si, devir, descoberta e construção de novas formas de participação. 

No momento da discussão de algumas destas questões, a evidência de diversas inquietações de projetos de pesquisas que aproximam pessoas, e que por sua vez realizam estudos afins e configuram outras possibilidades fechar um trabalho e de fazer um outro começo de conversa...

Por fim, não posso deixar de mencionar a gentileza na acolhida, na hospitalidade do grupo e na deliciosa companhia às atividades gastronômicas e culturais, que afetivamente trazem mais sabor ao saber e aos nossos modos de ser.

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