sexta-feira, 27 de maio de 2011

Outros olhares sobre as crianças


Ao abordar os diferentes aspectos epistemológicos do conhecimento que tem fundamentado as pesquisas sobre criança, infância e educação, o desafio lançado ao grupo de estudantes que fazem a disciplina Educação e Infância II no Curso de Pedagogia era identificar as contribuições das diversas áreas no estudo e na pesquisa em torno da infância. Para tal estamos na companhia de diversos autores que tem pesquisado a esse respeito. Ultimamente temos discutido: infância, pesquisa e relatos orais; questões éticas e teórico-metodológicas da pesquisa com crianças e mídia; significados de escola e saber para crianças de área rural; crianças entre a sedução e o perigo das cidades; concepções de infância em diferentes grupos indígenas; crianças e suas produções escolares; crianças, mídia e cotidiano; crianças e os repertórios lúdicos contemporâneos.
Uma pesquisa dialogando com a outra numa verdadeira polifonia onde os sujeitos de pesquisa eram na maioria das vezes, crianças. No entanto, uma das questões que mais chamou a atenção das estudantes foi a respeito da concepção de infância entre diferentes grupos indígenas.

Para além do estudo e discussão do texto, convidei uma ex-aluna do curso, Joana Mongelo, que é indígena, e que em 2008.1 eu tive a felicidade e o desafio de ser sua professora e acompanhar seu estágio na escola do ensino fundamental em uma Escola Indígena e bilíngüe, da Aldeia Guarani de Morro dos Cavalos, distante cerca de 40km de Florianópolis. Experiência sem igual. Na semana passada Joana gentilmente conversou com o grupo esclarecendo uma série de questões a respeito do lugar que a criança ocupa naquela cultura e a respeito de uma série de perguntas que as alunas haviam ficado intrigadas: questões sobre liberdade, respeito, autonomia, aprendizagens, brinquedo, arte, trabalho, tradição oral, acolhimento, relação com a natureza, vida e morte, sagrado e profano.

Entre tantas lições que aprendi com Joana quando acompanhava seu trabalho na escola,  sempre  tentando controlar o tempo para poder acompanhar o estágio das outras estudantes nem  uma escola pública da ilha, lembro que ela dizia: "a professora está sempre com pressa e que quem está apressado não ouve Deus". Aliás, ainda hoje ela fala que o “o juruá (forma de se referir aos brancos) é muito rápido e não presta atenção...”. Na verdade, Joana tem razão: tem tantas coisas que verdadeiramente não prestamos atenção, sobretudo a respeito da criança na escola.. Haja pesquisa para decifrar os enigmas da infância e tantas faltas de atenção!

Para compensar, nada como uma discussão sobre a importância da brincadeira na educação da criança, sobretudo quando pretendemos contribuir para a construção de uma “infância feliz e saudável”. Um bom começo foi visitar o acervo do Museu do Brinquedo da Ilha de Santa Catarina, em exposição permanente no hall da Biblioteca Central da UFSC, tanto para recuperar a magia de certos brinquedos de nossa infância quanto para entender os repertórios lúdicos atuais.

Fotos: Crianças brincando na Escola da Aldeia Guarani de Morro dos Cavalos;  Crianças visitando o  Museu do Brinquedo da Ilha de Santa Catarina (acervo da autora)

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