O título acima é um fragmento do evento que
participei na UCSC de Piacenza, no dia 3/11/16, “Quando dire è dare forma: la parola che educa”, uma espécie de aula inaugural do Curso de Ciências da
Formação. A composição da mesa inicial envolveu diferentes olhares sobre o tema
da palavra: literatura, pedagogia, comunicação e filosofia. Em comum, a
centralidade da palavra dita e não-dita nas relações pedagógicas.
Na dimensão literária, a metáfora a
partir da história de Pinóquio (Carlo Collodi) e seus personagens Grilo Falante,
Lucignolo/Pavio e Gepeto, a Professora Paola Ponti enfatizou os sentidos da
palavra como consciência, sedução e mediação. Por fim um olhar à humanidade de Pinóquio construída/obtida
também a partir de suas narrativa, sobretudo a partir da pergunta sem
julgamento de Gepeto, como por exemplo: “o que aconteceu”, que propicia um novo
modo de falar e redimensiona o sentido do “dar a palavra”.
“Dar a palavra” que também pode ser
entendido no processo educativo de
alfabetização cultural e na promoção do
diálogo, como enfatizou o Prof. Pierpaolo Triani. Para ele, somos formados e
plasmados de uma pluralidade de fatores: ambiente, relações, escolhas e das
palavras que encontramos, ouvimos, dizemos, e entendemos. Para ele, “dar a palavra” é diferente de dar
a voz, porque essa todos temos”, e é essa condição de entender a palavra do
outro e de dizer a própria palavra que assegura a construção e expressão de
subjetividades, de interpretação de mundos e do diálogo no sentido proposto por
Paulo Freire, em referência ao educador brasileiro. E continuou sua fala trazendo grandes
educadores e seus domínios das palavras, com ênfase ao desafio de hoje, quando
nossas palavras estão sob controle das
mais diversas naturezas construindo nossa comunicação.
Na continuidade, o olhar da
comunicação trazido pelo Prof. Piermarco Aroldi problematizou a palavra em rede
e como as formas de conversação produzem
a sociedade. A partir de uma breve síntese histórica, desde a etimologia da palavra
até uma fenomenologia da conversação, a evidencia do quanto as palavras que
usamos criam condições para viver em comum.
Aliás, a arte da conversação é uma forma cultural que foi se construindo
conforme o contexto sociocultural, com as mais diversas conotações de seus discursos sociáveis e suas regras convesacionais que constroem formas sociais, como por exemplo, as conversações: civil, agradável, polida,
cortes, sempre buscando expressar “a arte de estar juntos”, o que não exclui os conflitos. Para Aroldi, hoje, a
conversação online assume uma configuração muito diferente que tece a trama
social, e de um lugar que não é público nem privado. Ele pergunta: que regra conversacional
estamos criando? A que tipo de sociedade estamos dando forma com nossa conversação
social mediada pela web? Nesse exercício de convivência civil que depende
certamente da tecnologia, mas sobretudo de nossa perspectiva ética, Aroldi nos
convoca a pensar nas formas de nossa conversação e sua qualidade social, visto que somos
responsáveis pelas palavras que usamos.
Diante de tal responsabilidade,
Elena Colombetti destacou a relação entre palavra e identidade a partir do “eu
narrável” e ponderou a dificuldade de expressar e dizer quem somos. Os limites
do nome, das escolhas, do que fazemos, de nossa história e das relações que
estabelecemos. Fotografias e retratos para olhar o instantâneo e buscar o mais
profundo. Para dizer quem somos com palavras, temos que narrar um vida em
relação com o outro e com a pluralidade das histórias que ouvimos e contamos na
temporalidade do ser no tempo. Contradição de saber que o ser é mais amplo que
a palavra que o constitui.
Em meio a tantas palavras e
sentidos, como não pensar nos usos que fazemos ou que deixamos de fazer de
nossas palavras nos mais diferentes espaços e ambientes? Afinal, num contexto
de “pós-verdade” com que nos deparamos nesse momento, o quanto tais palavras
estão nos (des)construindo e consequentemente (des)construindo realidades?