quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sobre representações de infâncias no cinema



Em junho de 2012 tive o prazer de participar da banca examinadora da tese  Representações da infância no cinema: ficção e realidade, de Francisca Rodrigues Lopes, defendida no Curso de Doutorado em Comunicação e Semiótica, PUC/SP, sob orientação da Profa. Dra. Leda Tenório  da Motta. E ao encaminhar algumas discussões no Núcleo de Aperfeiçoamento e Diversificação de Estudos, NADE, sobre Cinema, Infância e Educação, em uma turma da Pedagogia da UFSC, lembrei desse trabalho e sua temática.  

Cruzando as fronteiras entre infância e cinema,  Francisca tece suas reflexões teóricas sobre representações da infância no cinema  de uma forma inteligente e original, em que a abordagem dos estudos da infância a partir da filosofia de  Comenius, Montaigne, Rosseau coloca-se ao lado dos estudos do cinema (Metz, Aumont) da semiótica (Pierce, Greimas), transitando pela psicanálise e por outros cenários da cultura.

O corpus analisado envolve os 5 filmes considerados renomados (diretor e crítica) e clássicos com narrativa do tipo realístico (drama e melodrama) que foram selecionados para análise e descrição: Cinema Paradiso, (Giuseppe Tornatore, Itália , 1988), As cinzas de Angela (Alan Parker, EUA, 1999), O brinquedo proibido(René Clement, França, 1952), A vida é bela(Roberto Benigni, 1997) e  O balão branco (Jafar Panahi, Irã, 1995). O diálogo entre cinema, infância e representações vai se construindo com densidade sem perder a leveza, revelando as sensibilidades que o cinema pode criar..

A infância escolhida na maioria dos filmes não é a da fantasia e tal como instiga o Prof. José Paulo Fiks, poderíamos nos perguntar o que esses filmes representam no campo da pedagogia.

Aliás, será que os filmes hoje representam a criança?  Muitos trazem uma infância que não é mais infantil, e se por outro lado, o cinema de certo modo se infantilizou, a noção de agência da criança foi se modificando. E talvez o cinema tenha uma nova representação de infância ou uma nova fantasia... Mas se a infância está mudando, até que ponto o cinema consegue representar as tantas condições de infâncias que vivem as crianças hoje?

Entre distração, contemplação e reflexão, Benjamin diz que o valor do culto e exposição da obra de arte na era da reprodutibilidade técnica se desloca, mas não desaparece. Assim, a relação do cinema com a realidade pode ser considerada a mesma que a do cinema com a criança, e apesar de o cinema também incluir uma visão idealizada, o modo como representamos o mundo também é a realidade.

O cinema e a infância criam demandas, vontade de ver, curiosidade que nasce e satisfaz. O cinema satisfaz, mas satisfaz por que, pergunta o Prof. Oscar Cesarotto, que responde pelo viés da  psicanálise: porque aponta para o coletivo, sonhos e fantasias, produções do inconsciente e histórias. A narrativa do cinema cria histórias como uma maquinaria de sentido. Ou seja, o cinema satisfaz porque as histórias que ele conta se referem a algo em torno do aqui e agora. Um signo que desperta algo.

E entre tantos despertares, qual seria o limite do representável? Há algo que deve ser preservado das crianças? O que se pode ou não mostrar dessas representações de infância e criança no cinema? 

Imagem: cena do filme O brinquedo proibido (René Clement, França, 1952)

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