domingo, 19 de junho de 2011

Produção audiovisual e digital de qualidade para crianças e adolescentes


Nos dias 14 a 16/6/2011 aconteceu a 5ª edição do Festival Prix Jeunesse Iberoamericano, em São Paulo, promovido pela Midiativa  e Fundação Prix Jeunesse  com parceria do SESC/SP, Goethe Institut e AECID/Centro Cultural da Espanha em São Paulo. A construção desse espaço de exibição e premiação de produções de conteúdo audiovisual, digital e interativo para crianças e adolescentes pretende não apenas incentivar a produção mas sobretudo discutir a qualidade de tais produções para a televisão e outros meios. Pensar e criar novos formatos que dialoguem com crianças e jovens de diferentes contextos socioculturais, no caso, latinoamericano, evidencia o desafio de articular as demandas de crianças e jovens com as demandas do universo da mídia, implicando a necessidade de discussão e capacitação a esse respeito.

Ao participar como avaliadora das produções, nesses dois dias, assisti a mais de 83 filmes e animações de diferentes duração e gênero, ficção e não ficção, exibidos em categorias de 10 a 6 anos, 7 a 11 anos e 12 a 15 anos, conforme programação do evento junto a diversos profissionais e especialistas com a tarefa de escolher as produções de destaque provindos de países como Colombia, Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai, Cuba,  Espanha e Brasil. Diante de tal diversidade, alguns temas são recorrentes e tratados de diferentes formas no universo da produção infanto-juvenil. 

Entre tantos, os que mais chamaram a minha atenção foram: 0 a 6 anos : 7 pets El condor pasa (Manuel Roman, Espanha), O caminho das gaivotas (Arbaro Ortiz, Daniel Herthel, Sergio Glenes, Alexandre Rodrigues, Brasil/Cuba), A velha a fiar (Cesar Cabral, Brasil), Cantamonitos Duerme negrito (Vivienne Barry, Chile, ver video abaixo); 7 a 11 anos: Enciclopedia (Bruno Gularte Barreto, Brasil), Com que sueñas (Paula Gomez Vera, Chile) Aqui estoy yo (Cielo Salviolo, Argentina), Centenario: Museo Nacional de Bellas Artes (Álvaro Ceppi, Chile), Pubertad –me gustas tu (Ernesto Piña, Cuba). 

Certamente precisaria muitos posts para comentar a beleza poética de alguns, a ética evidente de outros e a instigante estética presente cada um deles, que em suas formas e conteúdos expressavam uma polifonia de vozes e linguagens para dialogar com os diversos interlocutores. Assisti-los foi uma espécie de deleite, que para um estudioso e curioso do campo, só superado pelo momento da moderação, onde com demais avaliadores, alguns produtores e tantos interessados na questão, tínhamos a possibilidade de discutir aspectos dos indicadores considerados na avaliação (público alvo, idéia, roteiro, realização) e enriquecer nosso olhar com a problematização do olhar do outro. Além de encontrar pessoas conhecidas e conhecer tantas outras, foi um momento de troca muito especial, em que produtores, mediadores, professores e pesquisadores compartilhavam suas idéias e questões a respeito de diversos aspectos das diferentes produções que mais  se destacaram.

Entre as produções digitais e interativas, um aspecto que chama a atenção é a busca de novas possibilidades e caminhos para as produções, evidenciando as apostas ético-estéticas de cada proposta em suas formas e conteúdos. Ali foi possível problematizar a idéia que nem sempre encontra a técnica mais adequada para sua expressão e realização, onde por vezes a qualidade do artefato não vem acompanhada de um conteúdo significativo. Fica evidente o quanto ainda temos que avançar na discussão e produção de audiovisual e nos formatos digitais e interativos, e do quanto esse diálogo entre produtores, educadores e crianças é/pode ser profícuo.

Relacionado a isso, o workshop Is that funny?Humor in children’s TV:what children are really laughing about, (Humor: afinal do que as crianças estão dando risadas), por Maya Götz, foi providencial. A diretora do Instituto Central Internacional para a Juventude e a Televisão Educativa (IZI), de Munique, abordou em 3h, mais de uma década de estudos sobre o humor para crianças na programação televisiva. Ela situou diversos aspectos fundamentais para entender tal relação, não apenas ao endereçamento no que diz respeito à faixa etária e gênero, mas também a importância do contexto cultural na recepção. Entre as informações sobre como produzir para crianças, uma das questões que Maya mais enfatizou foi a necessidade de conhecer o público, ou seja, quem são essas crianças para quem se produz.

A esse respeito, fiquei particularmente satisfeita de ver como diversos aspectos de minha pesquisa (um estudo de recepção sobre um filme desenvolvido com crianças em dois contextos socioculturais no Brasil e na Itália) estão de acordo com o que Maya tem pesquisado em seus estudos .com a intenção de melhorar a qualidade das produções a partir do entendimento do que as crianças gostam.  Parte dos resultados dessa pesquisa será discutida na 10ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis , onde também haverá o lançamento do livro de minha autoria Crianças, Cinema e educação: além do arco-íris, que conta a história de tal pesquisa e traz as vozes das crianças que dela participaram.

Por fim, não poderia deixar de mencionar que tais atividades integraram um evento maior, o Comkids que também envolveu jornadas de negócios e wokshops propiciando um olhar mais amplo para sensibilizar diferentes setores da sociedade civil acerca do direito à produção cultural e da importância da mídia de qualidade comprometida com crianças e adolescentes.


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