Nesta semana começou o ciclo de
conferências sobre atualidade de Bruno Munari, promovido pelo MUBA e dedicado a temas munarianos, como: criança,
imagem, palavras, arte, design, livros com os convidados: Alberto Munari (Munari e a
pedagogia), Giorgio Lucini (Munari e os livros), Giovanni
Anceschi (Munari e a arte), Stefano Salis (Munari e as
imagens), Stefano Bartezzaghi (Munari e as palavras). No
primeiro encontro realizado no dia 18/10/2016,
Alberto Munari
iniciou algumas reflexões sobre o pensamento e a obra de Bruno Munari a partir
de um olhar autobiográfico. Ele chamou a atenção para o quanto seu pai era
observador/observado, e citou pequenas
passagens de sua infância que demonstravam o quanto seu pai estava atento ao
olhar infantil, que por vezes se construía como fulgurações a partir de suas
provocações sobre a natureza e sobre o mundo. Falou do percurso criador e das
inspirações fortuitas do cotidiano que se tornaram livros, poesia e tantas
outras obras Munari que acompanhava desde pequeno. “Observar para entender ou
entender para observar?”, provocou ele,
argumentando sobre os processos diferentes mas indissoluvelmente ligados e com isso reafirmou a importância da
prática da observação para promover a
“consciência da existência de um universo de escolhas possíveis”, objetivo que
Munari perseguiu ao longo de sua vida.
Pode parecer óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito, pois entre
tantas escolhas que fazemos no dia-a-dia e na pesquisa, perguntar se não é
possível fazer de outro modo, é uma pergunta da ciência mas que as crianças também nos fazem... e
podemos reaprender a perguntar com elas, com toda transversalidade do seu
pensamento.
Das perguntas e observações à
análise semântica das relações sociais foi um salto propiciado pelo VII Seminario Nazionale di Sociologia Relazionale, no dia 20/10/2016, na UCSC. O seminário foi uma forma de
homenagem ao Prof. Pierpaolo Donati, professor da Università degli Studi di
Bologna, que acabou de se aposentar. O sociólogo e filósofo italiano é figura
central da epistemologia relacional das ciências sociais, que reinterpretou a
sociologia e filosofia moderna à luz das virada relacional. No contexto desse
novo paradigma relacional, o tema do encontro foi a metodologia de pesquisa,
que entre outros, transitou pela
superação da contraposição entre realismo e construtivismo, entre individual e
holístico, na perspectiva de operar com os novos conceitos propostos e entender
o “espaço relacional como espaço semântico”. Em relação às pesquisas sobre
sociologia relacional e análise do social network análise semântica, Donati
pontuou o desafio da tentativa de
“medir” o emergente. Também ponderou a importância de irmos além da análise
qualitativa que é descritiva, e se isolada não leva a lugar algum, o que nos
leva a pensar na quali-quanti, pois na análise relacional precisamos entender o
que aconteceu e por que, entender que os
mecanismos relacionais não são causais
para poder se aproximar do emergente. Em seguida, diversos pesquisadores
e debatedores que discutiam a importância obra de Donati na pesquisa em geral, não apenas na pesquisa
sociológica, também comentaram o livro lançado naquela ocasião “Lessico della
sociologia relazionale”. Por fim, o próprio Donati concluiu os trabalhos com chave de ouro, “o léxico da sociologia
relacional italiana no panorama internacional: originalidade e
desafios futuros. Ao me aproximar desse paradigma que me parece
de uma força extraordinária e chave de leitura para qualquer área, fiquei
pensando na bela homenagem de uma obra que é fundamento tanto para o uso
científico como para o âmbito didático, ou seja, que diz respeito aos aspectos
de uma ontologia relacional como aos aspectos estruturais da pesquisa educativa
em geral. Sem dúvida um belo material para se debruçar futuramente.
Do método de análise relacional à
metodologia EAS para compreender o currículo, foi um dia. Na terceira edição do EAS DAY, ocorrida no dia 21/10/2016, em Brescia, com o
tema "EAS, educação para compreender o currículo", aliás, como tenho acompanhado o evento ano a ano, vale registrar o quanto aumenta o n. de participantes e de professores que tem adotado a referida metodologia nos diferentes níveis de ensino. A partir de uma
síntese sobre aspectos históricos do currículo na escola italiana para chegar
na fase atual, o destaque para as necessidades didáticas e culturais que o
currículo hoje deve atender. Rivoltella destacou a função cultural do currículo
para favorecer a necessidade de “dar
ordem aos caos”, em referência ao pensamento de Deleuze e Guattari. Para estes
autores, as três grandes formas de pensamento – arte, ciência e filosofia – se
distinguem pela natureza do plano traçado e daquilo que o ocupa. A filosofia
traça um plano consistente; a ciência define o estado de coisas, as funções ou
proposições referencias e conceituais; e a arte compõe sobre ação de figuras
estéticas. Ou seja, para Rivoltella isso tudo também se faz no currículo e
especificamente no EAS: ao articular o macro-micro do planejamento, o EAS
desenha um plano, fixa conceitos e povoa o plano com personagens. E ao
esclarecer cada aspecto, destacou as implicações de trabalhar o currículo com EAS: o currículo
breve e a possibilidade de selecionar os conteúdos do currículo a partir de sua
disponibilidade e transferência, ou seja, a partir da validade e adequação e de
sua possibilidade de transferir e aplicar o que se aprende em outras situações.
Essa transferência de saber constrói e desenvolve o pensamento analógico, a
capacidade intelectiva e as competências. Em síntese, os EAS promove a educação
lenta, produz conhecimentos, desenvolve o pensamento e as competências, sempre
considerando professores e estudantes protagonistas de tais processos... Em
seguida, os workshops que possibilitaram operar tais ideias.
Enfim, uma semana
e tanto!!!
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