Pensar a História em Quadrinho, HQ,
como arte que nasceu no contexto de um jornal e com forte característica
caricatural há mais de cem anos é, de certa forma, fazer uma viagem no tempo,
de 25/10/1896 até o dia de hoje. Foi mais ou menos isso que aconteceu no
Encontro “Imaggini&Parole:il fumetto come esperienza estética”, com
Mariagrazia Portera, no contexto de um Curso de “Experiência Estética na
Formação de Crianças”, ministrado pelo Prof. Roberto Diodato, na UCSC de
Piacenza.
Ao percorrer as diferentes etapas da história do HQ (o surgimento com
Yellow Kid, a fase mais realista, o endereçamento diferenciado, a crise do pos-guerra e com a difusão das novas mídias, a
crítica por certas temáticas e a humanização de super-heróis, até a passagem do
comic book ao graphic novel, que revolucionou a HQ. Com isso, começa a se ver a
HQ de autores, a especialização autoral e o longo tempo de produção foi construindo outro estatuto para esse híbrido
de textos e imagens e seus processos de leitura, tanto como experiência
unitária como multissensorial.
Mas o que significa pensar a HQ como experiência estética? Para alguns estudiosos, a HQ faz emergir diante de nossos olhos diferentes aspectos que fazem parte da interação leitor-autor no processo de fruição de uma história no espaço e tempo. E esse paradoxo do tempo na HQ envolve o congelar o tempo no instante singular para narrar e deixar fluir, completando os espaços brancos entre os quadros com a imaginação criativa do leitor.
Entre as diferentes estratégias de endereçamento que solicitam atitude
ativa do leitor, os diferentes tipos de balões bem como a disposição dos quadros que modifica o ritmo
da leitura. Além disso, o ato de virar a página também pode ser considerado
como uma surpresa que se apresenta nesse tempo próprio de fruição.
Nas possíveis analogias e diferenças entre HQ e cinema, destaca-se a
percepção da simultaneidade. Aliás, é interessante perceber como o filme e a HQ
representam a simultaneidade com diferentes formas de percepção. Como exemplo,
Meta-Maus, de Art Spiegelman, e a justaposição entre passado e futuro que torna
o presente e passado sempre presente; o
HQ Watchmen e sua adaptação cinematográfica solicitando diferentes formas de
captar a simultaneidade no tempo; e também Here, de Richard Mcguire e sua verso
digital em que o leitor decide o que e em que tempo quer ver a história na possibilidade
de captar a ordem e simultaneidade dos planos que se sobrepõem. Como isso, mais uma vez em questão a ideia do autor e do leitor-autor.
Por fim, entre diversas modalidades que expressam essa obra de arte, o
lembrete de que se aprende a ler/olhar/construir nexo na HQ, processo que
envolve imaginação, habilidade lógica, atenção, paciência e satisfação que deriva dessa feliz interação com o mundo.
Diante disso, como não lembrar dos gibis de nossa infância? Das coleções
dos nossos amigos, das trocas, de certos personagens que nos acompanham até
hoje? Experiências estéticas, intuições e paixões que revelam um potencial a
explorar com outros olhos e que na educação pode ser uma forma de participar da
experiência.
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