Em junho de 2012 tive o prazer de participar da banca examinadora da tese Representações da infância no cinema: ficção e realidade, de Francisca Rodrigues Lopes, defendida no Curso de Doutorado em Comunicação e Semiótica, PUC/SP, sob orientação da Profa. Dra. Leda Tenório da Motta. E ao encaminhar algumas discussões no Núcleo de Aperfeiçoamento
e Diversificação de Estudos, NADE, sobre Cinema, Infância e Educação, em uma
turma da Pedagogia da UFSC, lembrei desse trabalho e sua
temática.
Cruzando as fronteiras
entre infância e cinema, Francisca tece
suas reflexões teóricas sobre
representações da infância no cinema de uma
forma inteligente e original, em que a abordagem dos estudos da infância a
partir da filosofia de Comenius, Montaigne, Rosseau coloca-se
ao lado dos estudos do cinema (Metz, Aumont)
da semiótica (Pierce, Greimas),
transitando pela psicanálise e por outros cenários da cultura.
O corpus analisado
envolve os 5 filmes considerados renomados
(diretor e crítica) e clássicos com narrativa do tipo realístico (drama e
melodrama) que foram selecionados para análise
e descrição: Cinema Paradiso, (Giuseppe
Tornatore, Itália , 1988), As cinzas de
Angela (Alan Parker, EUA, 1999), O brinquedo
proibido(René Clement, França, 1952),
A vida é bela(Roberto Benigni, 1997)
e O balão branco (Jafar Panahi, Irã,
1995). O diálogo entre cinema, infância
e representações vai se construindo com densidade sem perder a leveza,
revelando as sensibilidades que o cinema pode criar..
A infância escolhida
na maioria dos filmes não é a da
fantasia e tal como instiga o Prof. José Paulo Fiks, poderíamos nos perguntar o que esses filmes
representam no campo da pedagogia.
Aliás, será
que os filmes hoje representam a criança? Muitos trazem uma infância que não é mais
infantil, e se por outro lado, o cinema de certo modo se infantilizou, a noção
de agência da criança foi se modificando. E talvez o cinema tenha uma nova
representação de infância ou uma nova fantasia... Mas se a infância está mudando,
até que ponto o cinema consegue representar as tantas condições de infâncias
que vivem as crianças hoje?
Entre distração,
contemplação e reflexão, Benjamin diz que o valor do culto e exposição da obra
de arte na era da reprodutibilidade técnica se desloca, mas não desaparece. Assim,
a relação do cinema com a realidade pode ser considerada a mesma que a do
cinema com a criança, e apesar de o cinema também incluir uma visão idealizada,
o modo como representamos o mundo também é a realidade.
O cinema e a
infância criam demandas,
vontade de ver, curiosidade que nasce e satisfaz. O cinema satisfaz, mas
satisfaz por que, pergunta o Prof. Oscar Cesarotto, que responde pelo viés da psicanálise:
porque aponta para o coletivo, sonhos e fantasias, produções do inconsciente e histórias.
A narrativa do cinema cria histórias como uma maquinaria de sentido. Ou seja, o
cinema satisfaz porque as histórias que ele conta se referem a algo em
torno do aqui e agora.
Um signo que desperta algo.
E entre tantos despertares, qual seria
o limite do representável? Há algo que deve ser preservado das crianças? O que
se pode ou não mostrar dessas representações de infância e criança no cinema?
Imagem: cena do filme O brinquedo proibido (René Clement, França, 1952)
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