O céu ainda é azul, você sabe... é o título da mostra de um conjunto de trabalhos de Yoko Ono, que ficou em
exposição de 01/4 a 28/5/2107 no Instituto Tomie
Ohtake, em São Paulo. Com trabalhos realizados
desde o início da carreira da artista, ainda na década de 1950, as obras de
caráter experimental enfatizam a participação do público que atravessa obras
visuais, música, vídeo, instalações, performances e outras ações multimídias percorrendo
temas de movimentos pacifistas, feministas e muitos outros em torno da cultura
pop e da arte contemporânea.
Instruções é simplesmente instigante, um convite ao ver-pensar-sentir-tocar-ouvir-pintar-escrever-interagir
das mais diversas formas. Aliás, a arte pioneira de Yoko criou um novo tipo de
relação com o espectador/público, que é solicitado a exercer papel ativo
diante de suas produções, o que propicia outras formas de diálogo entre arte,
artista, público, num espaço que atua como dispositivo desencadeando interações
que modificam a obra, o espaço e nos modificam.
As propostas
das instruções na mostra oscilam entre sugestões sucintas, breves e abertas que
podem se realizar após a leitura, como por exemplo: Imagine (1962), Sinta
(1963), Sonhe (1964); entre sequências de ações que podem ser realizadas por
quem se interessar, como por exemplo: Pintura para colorir. Acrescente cor
(1966), Peça de Toque (1963), “toquem
uns aos outros”; Mapa Imagine a Paz (2003), “peça o carimbo e cubra o mundo de
paz”; e entre sugestões que transitam
entre o racional, poético ou imaginário, como por exemplo: Peça Terra V. “Assista
ao por do sol. Sinta a terra se movendo” (1996); Peça cidade I. “Encontre um
lugar confortável para você. Mantenha o lugar limpo. Pense sobre o lugar quando
estiver longe” (1996). Entre as
proposições, “escreva suas memórias sobre a sua mãe” e muitas outras. Difícil resistir. Não é à toa que alguns sugerem que
seu trabalho foi inspiração para a composição de Imagine, de John Lennon.
Embora já conhecesse parte da proposta da
artista em outra ocasião, nesta mostra, a “Àrvore dos pedidos para o mundo”,
assumiu outro sentido para mim, sobretudo ao lado de outras tantas instruções em que crianças, jovens e adultos interagiam tão à vontade. Entrei no jogo,
empilhei pedras, vi o invisível, escrevi pedidos, pintei as cores, o vento,
colei peças de louças quebradas, martelei pregos, vi, ouvi, senti, comuniquei,
e sobretudo, aprendi e me emocionei... Uma oportunidade ímpar e marcante, para
além da contemplação visual e sonora, em que a fugacidade de cada gesto
permanece e deixa marcas, interpela e também inspira. Travessias entre palavras, ideias, participação
"criativa", provocações que só a arte contemporânea faz...
Nesse sentido, a arquitetura do lugar assume destaque,
sobretudo por ser no prédio do Instituto Tomie Otake. Aliado a isso, outro
aspecto que compõe as cenas é a disposição dos objetos, que ficam expostos no
museu e também são difundidos na internet e nas redes, disseminando as instruções,
fotos, filmes, e outros que, impulsionados por diversas tecnologias contribuem
para espalhar a natureza efêmera da obra e de nossa experiência com ela.
Vale destacar que a proposta de atuação do
Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Othake. realiza um belo e importante trabalho visando
a promoção do acesso e da experimentação do público em atividades artísticas e culturais, seja
por meio de visitas mediadas, práticas
em ateliês, seja por meio de atividades de formação, grupos de estudos, seminários,
oficinas, mostras, e intervenções poéticas na cidade e uma imensa diversidade de projetos socioculturais. Sem dúvidas, uma riqueza de
oportunidades que unem arte, cultura e educação a partir de diferentes
perspectivas, vivências e experiências com arte. O céu ainda é azul, você sabe...
é apenas uma delas.
Para o curador da mostra, Gunnar B.
Kvaran, a arte de Yoko Ono lida com a própria natureza da arte e, também, com
sua crença de que existe um futuro melhor, “se assim quisermos". E parece que queremos, ainda mais diante de
uma semana tão intensa e da urgência de pintar esse mundo com outras palavras e
gestos para quem sabe, criar outras realidades…
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