Por uma nova consciência do espaço público. Esse foi o tema do 4.Congresso Literacia, Media e Cidadania, que aconteceu em Porto nos dias 5 e 6 de maio
de 2017. Desde o início do evento foi possível perceber uma programação
diversificada, com olhares de vários lugares para o tema, como por exemplo, a
Rede de Bibliotecas Escolares, o Plano Nacional de Leitura, a Comissão Nacional
da Unesco, Jornalistas, Políticos, Ativistas, Educadores e obviamente, Professores
e Pesquisadores da Universidade. Aliás, vale destacar a primorosa atuação da
Profa. Sara Pereira na coordenação do Congresso e a peculiaridade do Grupo Informal de Literacia para os Media, GILM, que além de organizador do evento, tem
como objetivo trazer para o espaço público a educação para a mídia, e junto com
ela, discutir essa nova consciência, seus desafios, potencialidades e riscos
com profissionais de diversos campos e áreas de atuação A esse respeito, a ênfase em padrões éticos, de respeito pela dignidade
e pelos direitos humanos, bem como pelas liberdades de expressão e de
participação foi uma constante no evento.
Na conferência
inicial, La consciência publica en la
nueva esfera midiática: el riesgo de la desigualdade creciente en
alfabetización mediática, José
Manuel Perez Tornero, da Universidade Autônoma de Barcelona, destacou tanto o
horizonte da alfabetização midiática – em que Portugal está sendo exemplo de
diálogo, concentração e mudança ao unir a competência midiática com aspiração
de cidadania como direito nos espaços de
comunicação. Ao mencionar a crise da esfera pública, da conversação pública e
maquinaria do engano, da conversação social, bem como a vigilância massiva e o controle dos espaços públicos com
a ilusão de que somos livres, também discutiu o contexto da pós-verdade e suas
implicações. A esse respeito, Tornero enfatizou que os modelos de alfabetização
midiática não bastam, que precisamos mais para empoderar as instituições
sociais e reinventar a esfera pública.
O tema da Sessão Plenária 1 foi sobre “Literacia da Imagem e
do Cinema”, com ênfase na cidadania visual e em diversos projetos do Instituto
do Cinema e do Audiovisual, com Filomena S. Pereira, e do Plano Nacional de
Cinema, com Elsa Mendes, além do Prof. da UCP e Crítico de Televisão Eduardo
Cintra Torres. A Sessão Plenária 2 foi sobre
“Formação e Boas Experiências em Educação para os Media”, a qual tive a honra de participar como
convidada apresentando um pouco de nossas práticas de pesquisa e formação no
âmbito da mídia-educação e das multiliteracias na cultura digital. Vale
destacar a participação do Prof. José Azevedo, da Universidade do Porto, sobre
os primeiros passos para uma convergência da literacia midiática e literacia
digital, que conclui com uma provocação que afeta a todos nós, destacando que
“há muita participação, pouca ação e nenhuma mudança significativa”. Por sua
vez, entre as diversas experiências e reflexões, a Profa. Isabel Nina, da Rede
de Bibliotecas Escolares - inspirada em Saramago “se podes olhar, vê. Se podes
ver, repara” -destacou as oportunidades e os desafios formativos para promover
níveis de educação para os media nas bibliotecas escolares. E por fim, Margarida
Saco falou sobre a Campanha Nacional contra o Discurso do Ódio, que tem como
objetivo promover educação para os direitos humanos on e off line a partir da
cidadania digital dos jovens. A esse respeito, ela destacou a construção de
outros discursos e práticas e um vídeo feito por jovens que faz parte da
campanha, Uma história sobre gatos, unicórnios e discurso do ódio . Na Sessão Plenária 3, Por uma consciência do espaço público, o Prof. de
Filosofia da Universidade de Lisboa, Viriato S. Marques, falou sobre Verdade Felicidade, Eficácia Política: O
Desafio Triangular da Cidadania Pletórica (Des) Ordem Mediática em Curso. Entre
a diversidade presente nas comunicações e nas demais atividades foi possível
circular e conhecer diversas pesquisas e
um discurso que chamou a atenção foi a desmistificação em torno dos
“nativos digitais” e A educação para os Media na era Trump,
em que Manuel Pinto discutiu o desafio dos educadores diante dos caminhos ou da
ausência de caminhos, e o processo de mudança e os novos sinais que se mostram
necessários.
O encerramento do evento, com apresentação da Associação Cultural
Gambozinhos, foi um tributo ao Prof. Paquete de Oliveira, com depoimentos
emocionantes que me fizeram admirá-lo mesmo sem tê-lo conhecido! Enfim, um congresso
que se destacou pela pluralidade de ideias e de lugares da reflexão ao reunir
professores e pesquisadores do campo da comunicação e educação, bibliotecários,
jornalistas, políticos, filósofos e muitos outros estudiosos e ativistas que
atuam em espaços da cultura, como cinema, museu e outras instituições. Essa
riqueza e diversidade que caracterizou o congresso está muito coerente com os
propósitos da GILM, além de ser um belo exemplo de trabalho em rede que pode
inspirar muitas outras experiências.
Como num intensivo, um dia depois iniciava o Challenges 2017 com o tema Aprender
nas Nuvens, evento que aconteceu entre os dias 8 e 10 /5/2107, na Universidade do Minho, em Braga, onde também apresentei trabalho. A 10. edição do evento,
é fruto de um trabalho que foi se consolidando ao longo de vinte anos, e que costuma
reunir pesquisadores portugueses, brasileiros e de muitos outros países que tem
discutido as tecnologias na educação em suas mais diversas abordagens. Paulo
Dias, Bento Silva, Cristina Ponte, Edmea
Santos foram alguns dos nomes presentes no evento, que teve como conferência
principal, What we're learning about teaching computing,
proferida pelo Prof. Miles Berry, University of Roehampton (UK). Nessa
fala, o professor enfatizou o pensamento computacional e sua presença
curricular nos mais diversos níveis de ensino na Inglaterra, ou seja, a
importância de ensinar programação desde os 5 anos de idade. Grande parte dos
argumentos utilizados ressaltavam quase
os mesmos aspectos elencados em apresentação da SIREM 2016, que discuti em post
de março de 2016. Uma evidência da importância de Papert, da elaboração e
resolução de problemas, das estratégias utilizadas, a peer instruction, do conectivismo
e do uso de códigos para prever comportamentos em programação. Os desafios da
pesquisa a esse respeito estão só no início, mas já contamos com muitos
elementos para pensar e problematizar diversas questões.
Enfim,
eventos científicos e acadêmicos que são ocasião de formação, atualização e
encontros entre colegas e amigos que reencontramos e outros que fazemos. Desse
modo, não poderia deixar de registrar a generosidade do Prof. Manuel Pinto e a
carinhosa acolhida portuguesa. Afinal, estar em Portugal é quase como sentir-se
em casa...
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