A sustentabilidade dos blogs em geral tem
sido uma questão que me fez pensar ultimamente. Afinal, depois de um ano sem
atualizar esse espaço, a vontade de compartilhar alguns momentos vividos, experiências e espaços conhecidos por meio de pesquisas e parcerias se fez mais forte.
A viagem de estudo à Itália
propiciou conhecer de perto a
experiência de uma comunidade de prática sobre a metodologia Episódios de Aprendizagem Situada (Rivoltella, 2013), uma proposta para integrara dispositivos
móveis na didática. Inspirada nos princípios da lição a posteriori de Freinet
que hoje pode ser atualizada na flipped lesson de Mazur, na neurodidática de
Rivoltella e na teoria da simplexidade de
Berthoz, o conceito
de Episódio de Aprendizagem Situada origina-se no Mobile Learning e nas
atividades de microlearning, entendido
como um processo de aprendizagem informal que relaciona os fenômenos das
culturas de mídias atuais, suas fragmentações e recombinações a partir dos usos
das tecnologias em diferentes formatos e textos transmídiáticos. A estrutura de um EAS envolve três momentos da
atividade: 1) momento prévio, com um quadro conceitual e/ou uma
situação-estímulo que encaminha uma atividade preparatória aos estudantes; 2)
momento operativo com uma microatividade de produção do grupo e/ou resolução de
problemas; 3) momento resestruturador que sistematiza o que aconteceu nos
momentos anteriores - processos e conceitos ativados - para sustentar a (meta)reflexão
sobre a produçao desenvolvida e fixar aspectos a serem destacados.
A partir do contato com tal proposta
metodológica, um grupo de professores de diferentes regiões da Itália decide estudar
a metodologia e aplicá-la em seu cotidiano juntamente com um trabalho de
formação e acompanhamento do Cremit. Neste ano, a socialização de tal
experiência aconteceu em dois momentos. Em março, o encontro discutiu as
diferentes experiências desenvolvidas com a metodologia e suas especificidades
conforme cada contexto, o que indicava a possibilidade de aprofundar alguns
temas: a lógica experimental do método; a rigidez e/ou flexibilização do método
em função de uma experiência significativa para adoção com crianças dos anos
iniciais; e a discussão sobre como restituir a experiência didática em
contextos pobres em tecnologia. E em outubro, com o EAS Day: experiências de
formação com os Episódios de Aprendizagem Situada, em que após uma introdução do Prof. Pier Cesare Rivoltella os próprios
professores que participam da comunidade de práticas sobre o EAS compartilharam
suas experiências em workshop que
tratavam de diferentes aspectos da metodologia. Tal experiência foi muito interessante pois
além de acompanhar a discussão nos diferentes momentos propiciou um contato mais
de perto com os professores a fim de agendar visitas às escolas e entrevistas,
visto que meu atual projeto de pesquisa envolve tal metodologia no contexto da
discussão sobre multiliteracies e aprendizagens formais e informais.
Outra experiência a compartilhar foi
a visita guiada ao Centro Internacional Loris Malaguzzi e a entrevista com a coordenadora da Reggio Children, na Reggio Emília. Além de ver de perto o trabalho, que ficou
conhecido com as Cem Linguagens, as exposições dos trabalhos das crianças são
absolutamente encantadoras, e tem atraído a atenção de inúmeros professores e
pesquisadores do mundo todo, há muitos anos. No breve momento em que estava lá,
pude ver de perto o interesse e a curiosidade em três grupos: estudantes de
pedagogia de Virgínia, professores de escolas básicas do Texas, e professores e
alunos de uma escola de ensino médio de Londres. Além das exposições que são fruto de uma
proposta de trabalho de mais de 40 anos,
a valorização da infância e das crianças se revela também no acervo da
biblioteca, que reúne as publicações as mais diversas, nos cursos de formação e
nas parcerias com escolas, instituições culturais e universidades de diversos
países. Entre tantas questões instigantes, a tranquilidade de perceber que a metodologia
de pesquisa com crianças que temos construído nos últimos anos está em consonância
com o que tem sido discutido em diversos cenários do campo dos estudos da infância,
e que também foi objeto de nossa apresentação no II Simpósio Luso-Brasileiro de Estudos da Criança: desafios éticos e metodológicos, ocorrido em agosto, em
Porto Alegre.
A terceira experiência a destacar
foi a possibilidade de conhecer de perto o trabalho da Nordicom/Clearinghouse, na Suécia, propiciada por outra viagem
de estudo. Com um trabalho coordenado por uma referencia internacional da
mídia-educação, Ulla Carlson, a organização se destaca por seu pioneirismo nos
estudos da infância e na defesa dos direitos das crianças. Nos últimos anos tem
atuado em três áreas: infância, mídia, e comunicação. Parceira da Unesco e da
Universidade de Gothemburg, a Nordicon/Clearinghouse tem divulgado diferentes
pesquisas sobre boas práticas e políticas para a infância em diferentes lugares
do mundo bem como experiências diversas nas áreas acima mencionadas. Além de
conhecer a maravilhosa "palheta de cores" de Estocolmo, a entrevista com a coordenadora cientifica da
Nordicon, Ilana Eleá, possibilitou conhecer de perto esse importante trabalho,
bem como conhecer o anuário de suas publicações, cujo yearbook deste ano traz
as experiências em mídia-educação desenvolvidas no Brasil, em Portugal e
Espanha, do qual tive o imenso prazer de fazer parte e que foi lançado no 4 CEPEM,
em dezembro, na Unirio, Rio de Janeiro. Entre práticas, políticas, conceitos e
fronteiras da media education, media literacy e informational literacy,
evidencia-se a importância da construção de redes.
E por falar em rede, não
poderia deixar de mencionar a Red Interuniversitaria Euroamericana
de Investigación, «Alfamed»
, Competencias
Mediáticas de la Ciudadanía, coordenada pelo Prof. Ignacio Aguaded, da
Universidad de Huelva, Espanha. Fruto da participação em uma pesquisa internacional (que
atualmente envolve pesquisadores de mais de 12 países) e interinstitucional
(com pesquisadores de 6 universidades brasileiras), coordenada pela Professora
Gabriela Borges, da UFJF, o desafio de
pesquisar as “Competências midiáticas em
cenários brasileiros e euroamericanos” de forma a articular significativamente diferentes
subprojetos de pesquisa, ficou evidente no I Simpósio Internacional deLiteracia Midiática, realizado em Juiz de Fora, em setembro.
Enfim, o enfrentamento de diferentes questões que se relacionam com
alguns dos fragmentos acima compartilhados requer um tipo de envolvimento que não
parece ser pouca coisa para dar continuidade na perspectiva da sustentabilidade
de projetos, desejos e também de posts num blog, demonstrando que o silêncio,
às vezes, pode ser um indicativo de outros processos em curso…
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