O
que o Programa Um Computador por Aluno promoveu de mudanças na escola na
prática pedagógica? Após dois anos de trabalho a respeito do PROUCA na Bahia e
em SC, os resultados da pesquisa desenvolvida em parceria interinstitucional
entre UFSC, UDESC e UFBA foram apresentados no II Seminário UCABASC, (Des)caminhos
de uma Política Pública?, evento que aconteceu na UFBA, Salvador, nos
dias 3 e 4/12/2103. O evento contou com a participação dos coordenadores da
pesquisa, Elisa M. Quartiero/UDESC, Maria Helena Bonilla e Nelson Pretto/UFBA, Monica
Fantin/UFSC, de interlocutores como Tania
Hetkowski/UNEB, Adriana Bruno/UFJF, Tel Amiel/UNICAMP, Lindomar Boneti/UFPR, e
Paulo Cysneiro/UFPE, além do consultor internacional da pesquisa, Pier Cesare Rivoltella,
da Università Cattolica di Milano, e de professores e diretores das escolas
participantes da pesquisa.
Durante
o evento, foram discutidos os diversos olhares sobre o Programa, com análises
sobre a gestão macro e micro(como o programa foi criado e implantado entre as
instâncias do governo federal, estadual e municipal até chegar às escolas), sobre
a prática pedagógica (olhares de professores e alunos sobre o latpop na sala de
aula) e sobre a possibilidade das redes de trabalho colaborativo. Além de
observação participante para acompanhar o cotidiano escolar, durante a pesquisa
foram desenvolvidas algumas intervenções didáticas em determinadas escolas
envolvidas no programa, tanto com formação de professores quanto com propostas
pedagógicas em sala de aula. Também foram realizados questionários, entrevistas
e grupos focais envolvendo gestores, professores e alunos.
O
evento também inaugura uma proposta de apresentação de resultados da pesquisa pouco
comum na área da educação em nosso país ao discutir as análises com colegas professores
e pesquisadores convidados a fazer comentários e também com professores que
participaram da pesquisa nas escolas. A diversidade de práticas encontradas revela
singularidades e também certas regularidades presente nos diferentes cenários
investigados, diluindo certas fronteiras por um lado e destacando as diferenças
sócio-econômicas e culturais por outro.
Entre
algumas constatações, evidenciamos problemas infraestruturais com os
equipamentos/laptop (pouca memória, tela pequena), falta de manutenção e
reposição de laptop, precária banda larga nas escolas. Nos depoimentos dos
professores, destacamos a dificuldade inicial com a máquina, o modelo de
formação adotado no programa e os desafios da inserção da tecnologia na sala de
aula para que realmente se configure em mudança e inovação na perspectiva de uma
inclusão digital que seja também social e cultural. A maioria dos usos do
laptop em sala de aula se refere à pesquisa e produção textual em múltiplas
linguagens (escrita, imagética, audiovisual), blogs e outras atividades. Para
alguns professores, a prática pedagógica continua a mesma que antes se fazia com
computadores na sala informatizada, para outros, houve uma mudança na
metodologia de trabalho e para outros ainda, faz pensar diferente.
Para
a maioria dos alunos que participaram da pesquisa, a escola com o UCA ficou
mais divertida e a preferência de usos do laptop se evidencia nas motivações
que a tecnologia promove nos jogos e nas interações em redes sociais. Além da
dimensão de acesso e inclusão pela posse do laptop para levar para casa,
verificamos que em contextos de exclusão e privação econômica, o “uquinha” -
como é chamado por alguns - pode fazer a diferença no sentido de pertencimento.
Em outras situações, a exigência é por uma máquina “de verdade” e “moderna” com
acesso à rede e com velocidade. Entre algumas sugestões dadas, a dica para que
o programa se amplie para outras escolas e que os professores utilizem mais o
laptop em suas aulas.
Algumas
tensões nas falas de professores e alunos evidenciam certas dificuldades diante
dos limites da máquina, e certos dilemas sobre os usos do laptop e das redes
sociais em sala de aula com o argumento da perda de foco, da falta de atenção
dos alunos e do uso ou não de filtros ou bloqueios. Também destacamos o desafio da articulação
entre os saberes e as práticas culturais dentro e fora da escola com o uso do
laptop no contexto da cultura digital.
Entre
tantas questões a serem aprofundadas, observamos que tais considerações não são
exclusivas desta realidade investigada e referendam resultados encontrados em
outras pesquisas desenvolvidas no país e no exterior, o que nos leva a
problematizar as políticas públicas que seguem o mesmo formato há anos e anos ...
e o que é ainda mais preocupante, sem considerar os resultados das pesquisas feitas.
Nesse sentido, visando contribuir com tal discussão, o II Seminário produziu a Carta de Salvador para a sociedade brasileira
e para o Ministério da Educação.
E para tentar responder a pergunta do início do post, uma pérola que sintetiza diversas análises na singela fala de um menino que quando perguntado sobre o que havia mudado na escola com o UCA, respondeu algo mais ou menos assim: “continua igual, só está mais tecnológica”. Sem comentários!!!
Mas como nem só de análises e discussões formais se
constrói um evento científico, não poderia deixar de registrar a importância
dos momentos informais e dos encontros que fortalecem os vínculos e outros
olhares para a diversidade de questões em pauta. Entre as luzes, as cores e as boas energias da baía de todos os santos e dos orixás, os encontros em confrarias, acquas,
pós-tudos e paraísos tropicais com seus inusitados sabores e sotaques que certamente permanecem na “memória coletiva” do evento e que anunciam outras continuidades possíveis...
Por fim, minha gratidão pelos belos momentos vividos junto a este e outros grupos que fizeram parte dessa história.
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