PROUCA: pesquisas sobre as políticas
educacionais no Brasil e America Latina, esse
foi o tema do trabalho encomendado para o GT Educação e Comunicação da 36ª
Reunião Anped, entre os dias 29/9 e
2/10/2013 na Universidade Federal de Goiania. Apesar de inicialmente prever a participação de pesquisadores do
Brasil e de países vizinhos, a Mesa Redonda aconteceu com a participação de
Lucila Pesce, sobre pesquisa desenvolvida em escolas de SP, com a minha
participação, a partir da pesquisa interinstitucional “Gestão e
práticas pedagógicas no âmbito do Programa UCA: desafios e estratégias à
consolidação de uma política pública para a educação básica”, UCABASC, desenvolvida em SC e na BA em parceria
entre UFSC, UDESC e UFBA. Compartilho
algumas considerações sobre a discussão desse tema no evento.
Ao contextualizar este momento de avaliação do ProUCA, não podemos perder
de vista que se trata de um piloto a respeito uma política pública de implantação
de tecnologias na escola no modelo 1:1, ou seja, um computador por aluno, que envolve em
torno de 320 Escolas de Ensino Fundamental, 113.385 alunos e 7.025 professores
em nosso país. Entre os princípios anunciados,
consta a “inclusão
digital de aluno e professor na sociedade do conhecimento” e o “uso pedagógico
do laptop pautado na mobilidade, conectividade e imersão a partir do modelo 1:1
melhora a aprendizagem e construção do conhecimento”.
Entre
confrontos e avanços evidenciados por Lucila, o destaque para a realidade plural
e suas múltiplas variáveis, em que experiências exitosas não representam a
totalidade das escolas investigadas. Interessante observar certas aproximações
com o que observamos em nossa pesquisa em outros contextos socioculturais sugerindo
que as dimensões sociais, econômicas e culturais, a questão da formação e a especificidade
das escolas podem fazer toda a diferença, tanto em relação aos “resultados
esperados” como ao que se entende por “inclusão digital”.
Uma
questão que apareceu no debate e que se evidencia também na maioria das
pesquisas sobre o tema é o problema da qualidade do equipamento, a falta de
manutenção e a precária infraestrutura em termos de conexão nas escolas. Isso demonstra
que grande parte das escolas pesquisadas não estão conectadas e que os laptops
não estão sendo usados (apesar de certos dados estatísticos oficiais). Nesse
quadro, o modelo 1:1 está em cheque, visto que sem a manutenção e/ou reposição
dos equipamentos, em alguns casos os alunos dividem o uso do laptop
configurando modelos como 1:3, 1:4, 1:5. Além disso, sem entrar no mérito dos
usos e na qualidade do trabalho desenvolvido, percebe-se uma ênfase na
tecnologia que por vezes desconsidera a
aprendizagem, como se a tecnologia por si só assegurasse formas de apropriação e
participação crítica e criativa na cultura digital.
Enfim,
muito temos a discutir sobre essas e outras questões, a partir de diversos
pontos de vista, político-pedagógico-econômico-cultural, suas articulações e
implicações. Neste momento chamamos a atenção para o risco e o “equívoco” de se
repetir políticas públicas de inserção de tecnologias nas escolas e seus
modelos de formação, tal como está acontecendo com os tablets, quando se muda
apenas o nome dos programas e as tecnologias, repetindo a conhecida frase “muda
a tecnologia mas as práticas continuam as mesmas”. E isso nos leva a perguntar como as políticas públicas tem dialogado com as
produções acadêmicas e/ou resultados de pesquisas para contribuir de fato e/ou
repercutir em “avanços” nos futuros projetos?
Diante de certas visões deterministas da tecnologia
e da naturalização dos processos, parece
difícil perceber o que de fato está acontecendo na perspectiva da transformação
das práticas políticas e pedagógicas. O que realmente o ProUCA avançou nas transformações
escolares, curriculares, metodológicas? O desafio de explorar o potencial
pedagógico do artefato implica considerar o trabalho com as diferentes
linguagens e mídias dentro e fora da escola na perspectiva cultural da
mídia-educação e da cidadania, e isso nos leva a pensar o ProUCA e sua possível continuidade articulada com
outras discussões que tem interpelado nossa atuação, tais como o marco civil da
internet, as leis do direito autoral, o software livre, a valorização do
trabalho docente, e tantas outras questões que também foram objeto de discussão
na Anped. Tanto nos momentos das reuniões formais, como nos encontros casuais...
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