Tenho acompanhado a polêmica sobre o Parecer do CNE que sinaliza a possível exclusão de Monteiro Lobato das listas de literatura infantil dos livros nas escolas brasileiras por seu "conteúdo racista". Em jornais, listas, redes sociais, escolas e conversas de corredor diferentes pessoas que atuam ou não no campo da educação, literatura, formação de professores e infância têm se manifestado de diferentes formas.
A princípio a notícia causou-me espanto e aos poucos foi se transformando em indignação: como pode termos representantes de um Conselho Nacional de Educação com um raciocínio tão estreito sobre uma obra que pode ser considerada um clássico da literatura infantil? Evidentemente toda obra de arte e, nesse caso, todo livro deve ser analisado no contexto histórico de sua produção e recepção (e se quisermos ir além, no contexto de mediação em que a obra circula e produz os mais diferentes significados a partir das interações que propicia). Assim, me pergunto o que pode significar proibir a circulação de determinados clássicos da literatura nas escolas por seu pretenso “conteúdo racista”? Que concepção de leitura, intertextualidade, dialogia, polifonia, e sobretudo, de agência do sujeito estaria por trás dessa representação?
Como contribuição ao debate, o texto de Marisa Lajolo, uma das maiores especialistas em Monteiro Lobato, Quem paga a música escolhe a dança? explica do que trata Caçadas de Pedrinho. Ela opina sobre o imenso equívoco que a seu ver “incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso. O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa ? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?), assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que “Caçadas de Pedrinho” é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?”
Além desse argumento, tem também a carta da escritora Ana Maria Machado posicionando-se contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística, pois em vez de proibir "seria melhor que os responsáveis pela educação estimulassem uma leitura crítica por parte dos alunos. Mostrassem como nascem e se constroem preconceitos, se acharem que é o caso. Sugerissem que se pesquise a herança dessas atitudes na sociedade contemporânea, se quiserem. Propusessem que se analise a legislação que busca coibir tais práticas. Ou o que mais a criatividade pedagógica indicar. Mas para tal, é necessário que os professores e os formuladores de políticas educacionais tenham lido a obra infantil de Lobato e estejam familiarizados com ela. Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura. E que muito poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emília ou de sua independência de pensamento. Raros autores estimulam tanto os leitores a pensar por conta própria quanto Lobato, inclusive para discordar dele. Dispensá-lo sumariamente é um desperdício". Enfim, teriam muitos outros artigos, como Monteiro Lobato no tribunal literário, de Aldo Rabelo, e diversas outras manifestações nesse sentido, como a da Academia Brasileira de Letras e da OAB, além de um abaixo assinado contra tal parecer circulando pelas listas e redes.
Além desse argumento, tem também a carta da escritora Ana Maria Machado posicionando-se contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística, pois em vez de proibir "seria melhor que os responsáveis pela educação estimulassem uma leitura crítica por parte dos alunos. Mostrassem como nascem e se constroem preconceitos, se acharem que é o caso. Sugerissem que se pesquise a herança dessas atitudes na sociedade contemporânea, se quiserem. Propusessem que se analise a legislação que busca coibir tais práticas. Ou o que mais a criatividade pedagógica indicar. Mas para tal, é necessário que os professores e os formuladores de políticas educacionais tenham lido a obra infantil de Lobato e estejam familiarizados com ela. Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura. E que muito poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emília ou de sua independência de pensamento. Raros autores estimulam tanto os leitores a pensar por conta própria quanto Lobato, inclusive para discordar dele. Dispensá-lo sumariamente é um desperdício". Enfim, teriam muitos outros artigos, como Monteiro Lobato no tribunal literário, de Aldo Rabelo, e diversas outras manifestações nesse sentido, como a da Academia Brasileira de Letras e da OAB, além de um abaixo assinado contra tal parecer circulando pelas listas e redes.
Afinal, seguindo a lógica da proibição, podemos perguntar se seria apenas uma questão de tempo para que outros “clássicos da literatura universal” sejam igualmente excluídos das listas de livros das escolas por seus conteúdos considerados “politicamente incorretos”? Será que a proibição é a forma mais educativa de trabalhar com diferentes facetas da produção cultural?
Imagem: Reprodução de foto de Monteiro Lobato
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u647895.shtml
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