No contexto de um Seminário sobre Mídia e Aprendizagem realizado nos
dias 23 e 24/5/2016 na Università Degli Studi di Foggia, UNIFG, o tema Cinema e
Formação foi discutido na Mesa Redonda “O poder da imagem”, com participação
dos Professores Roberto Diodato e Pier Cesare Rivoltella, ambos da Università
Cattolica del Sacro Cuore di Milano. Como mediadora da mesa, a convite do Prof.
Pierpaolo Limone, diretor do ERID Lab “Educational Research and
Interaction Design”, destaco alguns pontos interessantes desse encontro tão inspirador:
1. Um primeiro aspecto a destacar é a proposta de pensar o olhar da
Filosofia/Estética sobre a imagem cinematográfica ao lado do olhar da
Educação/Didática. Na busca de um
diálogo a partir de tantas possibilidades que a relação com a imagem coloca em
jogo, o desafio de um olhar multidisciplinar e multimodal que implica certo deslocamento
e com isso amplia o olhar do lugar da educação.
2. Na perspectiva da filosofia, Diodato destaca a imagem e seu valor de
representação de um “ausente presente em outra substância”, enriquecido pela
mediação. Ao analisar o dispositivo de mediação, retoma Morin e o estupor
diante desse universo imaginário que constitui tal realidade para pensar o
universo cinematográfico como lugar tecnológico contemporâneo na construção do
imaginário, que no seu duplo também revela a projeção de nós mesmos. O destaque
para alguns conceitos filosóficos elaborados através do cinema - como por
exemplo, tempo e movimento em Deleuze – ajuda a entender “o devir da imagem em
movimento como fluxo da imersão do visível no tempo.” Um devir narrrado de uma
história que se transforma em visão, como imagem que escreve o mundo e que é
substancialmente relação.
2. Relação que também foi enfatizada por Rivoltella, ao trazer o poder
da imagem e seus usos educativos a
partir de uma narração autobiográfica de suas experiências com o cinema. A
retomada de sua experiência na construção do gosto pelo cinema ainda como
estudante, me lembrou a importância da “experiência de iniciação” que fala
Bergala. Iniciação que nesse caso se transformou em estudos posteriores sobre o
tema e sobre os usos possíveis do cinema na educação: pré-textual (educar com o
cinema – a imagem como suporte), textual (educar ao cinema – imagem como objeto
de reflexão), processual (educar através do cinema – imagem como espaços de
encontro, como dispositivos de processos suscitados no grupo para elaboração). Reflexões atualizadas pelos estudos no campo
da neurociência e neuro-estética, que problematizam e esclarecem como a imagem
opera a mediação entre sujeito/cérebro e mundo bem como as possibilidades
educativas do cinema nessa relação. Possibilidades de uso de imagem que podem
fechar ou abrir o sentido, que podem produzir certos “choques visuais” diante
da ambiguidade da imagem e assim favorecer a discussão, e que podem ainda problematizar
a simulação incorporada, a ação ativada
a partir da imagem/visão, nesse caso o cinema entendido como dispositivo vicariante.
3. Nessa reflexão, o espaço da didática e o ponto de vista pedagógico
que interessa diante das possíveis identidades projetivas que as imagens em
geral e o cinema em particular oferecem,
seja como retorno do sujeito sobre si mesmo, seja como possibilidade de
motivação. Desafio de trabalhar as ambiguidades da imagem, perceber o que
mostram e escondem e como nos envolvem, para abrir a discussão sobre como nos
relacionamos com elas e com outros textos da cultura.
4. Por fim, a discussão sobre o “bombardeio e a banalização do uso de
imagens na escola”, por vezes sem sentido e sem contexto, que parecem
anestesiar e que pouco sensibilizam os estudantes [nessa sociedade do
espetáculo, da informação, da imagem e da retórica da inovação]. Necessária
discussão sobre a escolha e seleção das imagens que usamos, e que certamente transcende
o espaço da escola para ser problematizada também nos espaços da formação
universitária e no trabalho docente em geral. Enfim a reflexão sobre a cultura
didática e a cultura da imagem de modo a
problematizar a tradição didática que trabalha com a imagem residual e com o
uso da imagem sem cultura, sem reflexão sobre a relação imagem-texto, nem sobre
a representação visual do conhecimento e suas possibilidades para construir, de
fato, um espaço semiótico de aprendizagem significativa.
Imagem: Girl with a Pearl Earring (Jan Vermeer,
1665-1667)
http://www.essentialvermeer.com/catalogue/girl_with_a_pearl_earring.html#.V0wLUyN946g
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