“Video como instrumento de pesquisa reflexiva para a
formação”. Esse foi o tema do Summer School da SIREM, realizado em Cagliari, na Sardegna, entre os dias 29/6 a 01/7/2016.
A “Análise de vídeo” foi o foco da proposta da Profa. Rossella Santagata, University of California, Irvine (USA),
com intenção de pensar a formação o mais próxima possível da prática, de modo a
“aprender a partir do próprio trabalho em sala de aula”. Ou seja, refletir
sobre a profissionalidade docente que se constrói a partir da análise e
reflexão das práticas. A professora destacou o uso do vídeo como um
interessante instrumento de formação, visto que a partir dos registros
audiovisuais das situações de ensino-aprendizagem é possível se perguntar sobre
a aula, como foi planejada, como os estudantes participaram e construíram suas
aprendizagens para reestruturar a continuidade. O interessante nessa proposta é
a possibilidade : identificar os objetivos, analisar as aprendizagens
demonstradas pelos estudantes e como expressam seu pensar, analisar as escolhas
didáticas, e como fazer diferente do que foi feito (outra forma de perguntar,
de pensar, de organizar o grupo) como alternativas para que novas escolhas
possam repercutir na aprendizagem. Desse modo, a profa. Santagata adota um
modelo global da análise, Lesson Analysis
Framework, como um guia para a visão
(a partir do registro audiovisual da aula) de modo a permitir um trabalho sobre
as evidencias para identificar o que os alunos dizem/sabem/demonstram, o que
não sabem e o que falta. Ou seja, a análise facilita o trabalho de tornar a
compreensão dos alunos visíveis para o professor . Aliado a isso, se faz uma
análise das escolhas didáticas: quais escolhas parecem ter favorecido a
aprendizagem? Quais escolhas não foram adequadas? Sobre o que baseamos nossas
reflexões? Para desenvolver tal olhar, há outro modelo de análise de vídeo, a Classroom Video Analysis, que
possibilita identificar e problematizar como os professores raciocinam a partir
do que veem em suas práticas. Como as práticas não são estanques, há uma série
de perguntas como ideias-chave que o professor pode se fazer de modo a melhorar
sua prática pedagógica, ancorado não apenas em hipóteses e intuições mas
sobretudo em evidências como indicadores para ajudar na (auto)formação.
“O uso do vídeo na formação
inicial e continuada” foi o tema do Prof. Pier Giuseppe Rossi, Università di
Macerata. Ele discutiu uma experiência desenvolvida no curso de formação baseado no principio da alternância (no
trabalho na escola e no mundo universitário),
na teoria da ação a partir do diálogo entre sujeito e situação em que o
vídeo é uma possibilidade para evidenciar as intencionalidades da ação, e as
capacidades de interpretar as situações de sala de aula. o olhar profissional.
Nesse sentido, ele apresentou sua experiência com o uso do vídeo no currículo
da formação a partir de laboratórios propostos na Didática, no planejamento e desenvolvimento
do estágio e na auto-observação e reflexão na ação. Isso me lembrou uma
experiência que desenvolvi com uma turma de Pedagogia na UFSC, na disciplina de
Estágio nos Anos Iniciais, quando trabalhamos com o vídeo de modo a registrar
as performances das estudantes em sala de aula para que posteriormente pudessem
“se ver no exercício da docência ” e discutir sobre a experiência, na
perspectiva da vídeo-pesquisa. Sem dúvidas, um importante instrumento para
alicerçar a reflexão e pensar nas escolhas didáticas.
“O vídeo visto pelo sujeito”,
foi o tema da profa. Patrizia Magnoler, Università di Macerata, que enfatizou a
importância de quem faz a ação poder se ver nela. A partir de uma pesquisa
sobre as possibilidades da formação continuada incidir na transformação de suas
práticas, ela discutiu a cultura profissional do professor a partir de um
percurso de pesquisa-formação, desenvolvida de forma colaborativa.
Identificando os espaços de mudança dos atores da pesquisa no próprio percurso
da investigação, ela destacou o papel do vídeo no registro das práticas como
possibilidade de guiar o olhar para identificar os próprios “nós”, simular um
replanejamento de modo a possibilitar mudanças articuladas no ambiente. O
percurso da ação envolve: perceber, significar, antever, planejar, agir, avaliar.
E mais uma vez o vídeo é entendido como um instrumento que ajuda a refletir
sobre a prática, e consequentemente, aprender com ela.
Por fim, a participação da
Profa Marguerite Altet, Université de Nantes, França, e seus “Aportes de
pesquisa sobre Ensino-Aprendizagem a partir da observação de práticas de ensino
e alunos”. O ponto de partida da reflexão foi a articulação dos três campos:
relacional, pedagógico e didático na proposta de uma tabela de observação de
uma sequencia de sala de aula, em que os indicadores sugerem as “dimensões
de bom professor” . Ela destaca que
embora seja utilizado como instrumento de pesquisa, também pode ser usado pelo
próprio professor e na formação, pois para ela, “o professor pode se
auto-avaliar e assim mudar sua prática”.
Por fim, o Congresso Internacional “Video digital e formação de professores”, coordenado pelos Professores Giovanni Bonaiuti e Giuliano Vivanet, ambos da
Università di Cagliari. Nesse dia, uma amostra de diversas pesquisas
desenvolvidas em diferentes universidades do país sobre o tema vídeo, com a
presença dos professores acima mencionados, Alberto Cattaneo, Istituto
Universitario Federale per la Formazione Professionale (CH), Pier Cesare
Rivoltella, Università Cattolica del Sacro Cuore di Milano, Laura Menichetti,
Università di Firenze, Ettore Felisatti e Pietro Tonegato, Università di
Padova, Giuseppe Tacconi e Maurizio Gentile, Università di Verona, Ira Vannini,
Università di Bologna, Maria Chiara Pettenati, INDIRE – Firenze, professores
que têm participado das pesquisas com/sobre vídeo na formação e outros profissionais.
Uma bela possibilidade de construção de redes.
Como não poderia deixar de
mencionar, os encontros informais durante o evento asseguraram não apenas uma
maior possibilidade de interação com colegas como agradáveis momentos de
descontração num cenário marcado pela beleza, pelos sabores e outras peculiaridades que fazem da Sardegna
um lugar tão acolhedor...