A começar pela 38a ReuniãoAnual da ANPED, ocorrida entre os dias 01 e 05/10/17, em São Luís do Maranhão,
o trabalho encomendado pelo GT 16/Educação e Comunicação contou com a presença
de Paula Sibília discutindo a condição pós-humana na era das tecnologias
digitais. A partir do olhar da antropologia, filosofia e comunicação, ela pretende
pensar a escola no âmbito das
transformações a partir de uma perspectiva genealógica, destacando a
dimensão do corpo e das subjetividades
compatíveis com certas tecnologias e com os modos de vida históricos. Com o
foco nos modos de vida propostos pelas tecnologias ao longo do tempo – livro,
papel, caneta, computador, celular, telas – no destaque às diversas interações
que se estabelecem e as relações consigo, com o outro e com o espaço, Sibília
colocou em questão a noção de continuidades destacando as rupturas e seus
contrastes a partir de imagens e metáforas que evidenciam a crise na escola,
situando premissas, horizontes, modelos e estruturas. Para ela, a escola pode
ser entendida como tecnologia de uma época que a seu ver hoje é incompatível
com a subjetividade e corpos contemporâneos. As questões provocadas na
discussão foram muito ricas e revelaram inquietações necessárias para continuar
o debate. Aliás, muitas dessas questões puderam ser ressignificadas no “Elogia
da escola” a partir do olhar de Jorge Larrossa, que também participava do
evento. Ao retomar o elogio usado no sentido clássico, para Larrossa hoje
estamos vivendo de criticar a escola e,
na lógica da defesa proposta por Masschelein,
buscou fazer o seu elogio em defesa da escola ao compartilhar uma
experiência com uma oficina de cinema desenvolvida com professores e
alunos de uma escola de Barcelona, no
contexto do projeto Cinema en Curs, que teve a escola como tema de estudo. Para
ele, ao assumir a escola como objeto de estudo e projeto dos alunos, a escola pode
ser entendida como forma, singularidades e objetos que tomam vida, e pelo
cinema, tal como diz Tarkovsky, é possível singularizar o ordinário e esculpir
o tempo. Obviamente, muitas são as possibilidades de ressignificar a escola e o
cinema de modo a promover outros olhares ao debate, mas no momento fiquemos por
aqui.
No V Seminário de WEB Currículo, que aconteceu nos dias 17 e 18/10/2017, na
PUC-SP, resistir e reinventar foram palavras que sintetizaram grande parte dos
trabalhos. Professores e pesquisadores de diferentes países trouxeram as mais
diversas considerações sobre o tema em questão, como se pode ver na riqueza da
programação. Tive a honra de participar da mesa Cultura Digital, Currículo e Inovação,
juntamente com Alexandra Okada (Open University) e Rojane Rojo (Unicamp) em que
foi discutido sobre Pesquisa e a Inovação Responsável (Responsible Research and
Innovation) e a abertura de horizontes para educação emancipatória na era
digital; Novos letramentos e ensino de Língua Portuguesa; Currículo, entornos
tecnológicos, didáticos e culturais. Após apresentação, a discussão estava
empolgada a como a perspectiva de continuidade da conversa sempre é muito animadora,
nesse ciclo dialógico da educação e cultura digital vamos construindo outras possibilidades
para pensar o currículo como prática cultural. Entre os dilemas da prática
pedagógica, dos usos das tecnologias nas aprendizagens e da formação de
professores, seria desejável pensar um web currículo que pudesse recuperar o
processo de produção do conhecimento perguntando pelo que está sendo de fato
aprendido, como enfatizaram José Armando Valente e Beth Almeida. Nesse sentido,
para além da associação de tecnologia e inovação, Beth argumenta que só há
inovação se há impregnação disso no contexto, e tal processo deve sempre vir
acompanhado da capacidade de fazer perguntas. Assim, perguntar “Para que?” “E daí?” “O que significa essa
cultura da indignação nesse movimento e nessa formação que entende o currículo
como tecnologia?” pode desenhar algumas pistas interessantes para o que estamos
construindo. E junto a essas e outras
questões, a mirada na América Latina e Caribe ainda expõe a velha questão do desafio da qualidade e
equidade num contexto de tecnologias emergentes em ambientes de aprendizagem em
rede, o que evidencia os gaps de acesso, de competências midiáticas e digitais
e do desenvolvimento potencial para aprender e ensinar neste contexto.
Por sua vez, no II CongressoInternacional sobre Competências Midiáticas, ocorrido entre os dias 23 a 25 de outubro de
2017, na Universidade Federal de Juiz de Fora, o cenário euro-latino-americano foi
o palco para pensar a relação entre educação e comunicação e os paradigmas de sua
integração. A partir de uma pesquisa desenvolvida em rede que envolveu cerca de
13 países, tendo seis universidades brasileiras entre seus participantes e da
qual também participamos, o colorido da diversidade sociocultural foi dando as
tintas nas diferentes dimensões das competências midiáticas na infância,
adolescência e juventude assim como na formação de professores e comunicadores.
Diálogos (im)pertinentes entre os desafios apresentados pela Unesco, OCDE, BNCC
colocam a pesquisa em debate. A partir de uma perspectiva ecológica das mídias
destaca-se a potência de certas práticas multimodais e multissensoriais para
facilitar aprendizagens nas mais diversas redes. Perceber experiências aqui, lá
e acolá que nos une em alguns aspectos e nos distancia noutros é também se
deparar com a riqueza da diversidade e o desafio da constante negociação de
sentidos que envolvem os mais diversos conceitos, ritmos, cores e sabores e que
também constroem a oportunidade de socializar as generosidades, que para mim
também foi um sentido desse evento.
A esse respeito, sobre o VI Seminário de Pesquisa em Mídia-Educação, que aconteceu nos dias 23 a 25 de novembro de 2017 em Florianópolis, gostaria
de destacar a Mesa Mídia-Educação: pesquisa e parcerias, que compartilhou
experiências com pesquisadores parceiros do grupo que coordeno junto com Gilka
Girardello, o Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e Arte, NICA, UFSC/CNPq. A
conversa dessa mesa girou em torno de questões sobre: a) Principais
pesquisas que o grupo vem desenvolvendo nos últimos anos e suas ênfases
teórico-metodológicas; b) Questão urgente e/ou desafios para os pesquisadores
do campo da Mídia-Educação e/ou Educação
e Comunicação; c) Outro aspecto que considerar importante. Composta
por Andrea
Lapa (Comunic/UFSC), Leandro Belinaso (Tecendo/ UFSC), Dulce Cruz (Edumídia/
UFSC), Rogério Pereira (Labomídia/UFSC) Gabriela Borges (Laboratório de
Audiovisual/UFJF) também contou com a participação on
line de Nelson
Pretto e Maria Helena Bonilla (GEC/UFBA), Cesar Leiro (MEL/UFBA), além de
depoimentos em audiovisual de Rosa B. Fischer (Nemes/UFRGS), Ines Vitorino e Andrea Pinheiro (GRIM/UFC). Com a intenção de que a tecnologia
cumprisse o papel de aproximar as pessoas impossibilitadas de estarem conosco
presencialmente, alguns “ruídos tecnológicos” dificultaram parte do debate, mas
a ousadia foi compensada com possibilidade de reflexão que certas participações
promoveram. Por exemplo, quando Nelson fala da dificuldade e dissonância
coletiva num grupo de pesquisa, pois é muito difícil trabalhar de forma
colaborativa, ainda mais em uma sociedade tão individualista como a nossa, nos
mostra que não estamos sós, e que certos dilemas e desafios que enfrentamos em
nossos grupos também se fazem presente em muitos outros. Bonilla também
ressalta a colaboração como desafio, desprendimento de egos, vaidades e
vínculos também, pois cada um que chega/sai nos obriga a reorganizar o grupo,
ideia também enfatizada no depoimento de Rosa. E se isso já é difícil no grupo,
na pesquisa em parceria é ainda mais. Inclusive porque trabalhar em rede também
exige afinidades, como destacou Gabriela, e como sabemos, nem sempre as
afinidades são eletivas...
Foi nesse movimento de compartilhar
um pensar profundo, de tentar ver cada um no grupo e a pesquisa nessa
construção que muitas outras generosidades foram socializadas.
E são essas generosidades
compartilhadas que ficam para mim nesse ano que termina e que se emenda no
próximo que começa...