domingo, 25 de setembro de 2011

Primavera de ideias


Cada estação tem a sua beleza e embora elas se manifestem em períodos do ano específicos, não é raro vivermos as 4 estações num momento, dia, mês ou de várias outras maneiras.

Simbolicamente, este setembro está marcando um momento muito fértil de ideias, encontros e parceiras que florescem de diversas formas. O mês começou com a participação no XXIV Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, INTERCOM, que aconteceu nos dias 2 a 6/09, em Recife, tendo como tema “Quem tem medo da pesquisa empírica”, onde apresentamos um trabalho sobre telejornalismo e crianças

Na conferencia de abertura “O novo ecossistema midiático torna a pesquisa mais importante que nunca”, Rosenthal Calmon Alves, destacou que o momento em que estamos vivendo é considerado tão revolucionário como raramente se viu nas diversas passagens e transformações da história da humanidade. Nessas rupturas que estamos vivendo a partir da cultura digital, é comum sentirmos dúvidas sobre os riscos que tais mudanças promovem na passagem do analógico ao digital. Embora o foco da atenção de Alves tenha sido o jornalismo, ele enfatizou a possibilidade de entender este momento histórico e as tecnologias digitais como um processo de mediamorphosis  (descrito por Fidler)  ou como mediacide   para se referir à morte da mídia industrial e surgimento de outra lógica comunicacional.

Embora saibamos que os  processos de transformação não ocorrem apenas pela lógica da substituição, o novo ecossistema comunicacional interpela aos que atuam na educação  de diferentes maneiras, pois diante de tantas transformações que estão acontecendo em nossa volta, parece ser difícil continuar a ensinar/aprender apenas da forma como fazíamos antes. Entre entusiasmo/utopia e resistências/reticências, ficamos, provisoriamente, com a dúvida. Mas uma dúvida que mobiliza, inquieta e desafia, não a que paralisa...

Dúvida que também faz sentir que nossas questões podem ser tão pequenas diante da grandiosidade de certas obras de arte, como a do escultor e artista plástico Francisco Brennand  e seu espaço de criação e exposição com mais de 3000 peças. 

Ali, as esculturas a céu aberto integradas à natureza do lugar, juntamente com desenhos e pinturas que instigam nosso olhar, conhecer e conversar com o artista foi uma dessas raras ocasiões que a vida nos presenteia e faz lembrar o valor da sensibilidade, da poesia e da sabedoria que mistura histórias de vida com literatura e arte.


Outro momento de encontros e inspiração foi no XV Encontro Internacional da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, SOCINE, nos dias 20 a 23/09/11, no Rio de Janeiro, com o tema Imaginários Invisíveis. Pensar a relação entre cinema e educação a partir do pré e pós cinema pode ser muito instigante, ainda mais quando permite circular por outras possibilidades para entender os imaginários do cinema como espaço de transformação; performances de imersão diante de imagens cinematográficas que se desdobram em várias mídias, na relação entre cinema e arte, de André Parente; no ser invisível que se pode vislumbrar nas paisagens afetivas de Denílson Lopes; nas narrativas transmidiáticas que redefinem as formas de audiovisual e o papel do espectador, de Arlindo Machado; nos encontros com livros inusitados que nos captam, como o organizado por José Gatti e Fernando M. Penteado, Masculinidades teoria, crítica e artes ; e nas redes diversas entre pessoas e projetos que são promovidos a partir de histórias com educação e cinema, como por exemplo a registrada no livro Crianças, Cinema e Educação:além do arco-iris , lançado no respectivo evento.
   
Enfim, compartilhar estudos, projetos e pesquisas com pessoas queridas é um belo começo de primavera que certamente vai inspirar outros encontros geradores de ideias-presentes em cada estação...
 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Objetos da infância e caixas de brinquedos

Entre tantas formas possíveis de começar uma disciplina num curso de Pedagogia, ao lado da apresentação da ementa, por que não começar com uma apresentação da turma pedindo para cada um trazer um objeto de sua infância e contar o motivo de tal escolha? Foi assim que fizemos em Educação e Infância VI: conhecimento, jogo, interação, linguagens, onde na materialidade de cada objeto, brinquedo, livro, caderno de desenho, elástico, outras imaterialidades foram surgindo através de histórias e depoimentos da vida de criança junto a natureza, em árvores e balanços revelando pequenas apresentações de cada um no grupo.

Como as múltiplas linguagens serão objetos de nosso estudo, assistimos a um curta  feito com celular para o “Nokia 2011 Shorts", The Adventures of a Cardboard Box (As aventuras de uma caixa de papelão). Conta a história de um garoto e sua caixa de papelão que se transforma em brinquedo e companheira fiel de suas aventuras. Um filme doce, poético e cheio de imaginação que nos lembram passagens de histórias semelhantes. Então surge uma pergunta: o que cabe na nossa caixa de papelão e no que ela pode se transformar ao longo do curso?





No Canteiro de obras, Benjamin tem um texto lindo que diz: “As crianças sentem-se irresistivelmente atraídas pelos destroços que surgem da construção, do trabalho no jardim ou em casa, da atividade do alfaiate ou do marceneiro. Nestes restos que sobram elas reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e só para elas. Nesses restos elas estão menos empenhadas em imitar as obras dos adultos do que em estabelecer entre os mais diferentes materiais, através daquilo que criam em suas brincadeiras, uma nova e incoerente relação. Com isso, as crianças formam seu próprio mundo de coisas, mundo pequeno inserido em um maior”.

Resguardadas as devidas especificidades históricas do tempo em que o texto foi escrito, por volta da década de 30, e embora muitas crianças hoje nem saibam o que faz um alfaiate, elas continuam atraídas por brincar nas mais diversas construções, criando suas brincadeiras e estabelecendo os sentidos mais inusitados aos olhos dos adultos.

E entender a importância do brincar é um dos desafios para quem trabalha com crianças, pois se elas “fazem história a partir do lixo da história”, como Benjamin diz e o filme mostra, como se relacionar com esse universo? As múltiplas linguagens podem ser uma pista... (além de ser tarefa do próximo encontro!)



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Em busca de outras linguagens para expressar a infância


Ao longo do último mês da disciplina Educação e Infância II, estudamos o texto Ressignificando a Psicologia no Desenvolvimento: uma contribuição crítica à pesquisa da infância, de Solange Jobim e Souza, que trouxe outros olhares da Psicologia para pensar a temporalidade humana e o desenvolvimento da criança. Discutimos a importância do jogo e das linguagens na constituição do sujeito e também visitamos o museu do brinquedo da Ilha de Santa Catarina e a brinquedoteca do Colégio de Aplicação.

Ao recuperar aspectos da vivência do “nosso tempo de infância”, foi inevitável pensar no que brincam as crianças hoje: as eternas brincadeiras com bolas, bonecas, carrinhos e aventuras juntos à natureza convivem com heróis e personagens de filmes e programas de TV, videogame, jogos de computadores e outras atividades das crianças em rede. Vimos que pensar as práticas culturais das crianças hoje implica situar a complexidade de relações que as crianças hoje estabelecem com as mídias e tecnologias.

Nesse sentido, o texto Crianças na era digital: desafios da comunicação e educação, de Monica Fantin e Pier Cesare Rivoltella, foi a referência para discutirmos o olhar da comunicação à infância. A partir das considerações teóricas, das experiências pessoais, familiares e profissionais, discutimos os riscos e as possibilidades das atividades on line das crianças. Destacamos os direitos de proteção, provisão e participação das crianças em relação às mídias e a necessidade de mediações educativas, uma questão que precisa ser refletida nos cursos de formação também para entender o processo de socialização das crianças hoje.

Em busca de diálogo com algumas formas contemporâneas de produção e socialização de conhecimentos, realizamos oficinas sobre blog http://filosomidia.blogspot.com/  e audiovisual, que buscaram oferecer algum subsídio para a expressão e comunicação em outras linguagens. Como tarefa e síntese, uma produção autoral e audiovisual a partir de uma pesquisa sobre aspectos da própria infância.

Na socialização de tais produções, os temas variavam com cenas da infância, retratando com imagens e sons momentos especiais juntos a familiares, amigos, cenas de percursos  escolares, ingresso na universidade, com algumas imagens que também pareciam um book de auto-retratos. Além de se emocionar com tais produções pelo olhar do outro, quando cada estudante explicava como tinha feito o audiovisual, as dificuldades/facilidades que sentiram, a escolha das imagens, da música, etc. o grupo foi percebendo o quanto aquilo foi significativo para cada. Sobretudo a importância de se aventurar em outras possibilidades expressivas para contar a sua história.

Na avaliação final, fragmentos que recuperaram parte do que foi visto e aprendido na disciplina durante o semestre: diferentes modos de olhar a criança, o respeito na pesquisa, as peculiaridades da infância em outros contextos socioculturais, a importância do brincar e alguns desafios da educação hoje. Por fim, concluímos que não apenas encerramos a disciplina mas também deixamos nossas marcas...


terça-feira, 28 de junho de 2011

Filmes e políticas públicas para o audiovisual na Mostra de Cinema Infantil

Entre os dias 23/6 a 10/7/2011 acontece a 10ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis  com uma bela e diversificada programação para crianças e adultos. Para quem se interessa por cinema e pordução audiovisual para crianças, certamente será uma boa ocasião para atualizar o repertório fílmico e discutir a elaboração de políticas públicas para a cultura e para a infância.

A fim de consolidar um espaço de exibição de filmes de diferentes culturas traduzindo aspectos da diversidade e multiplicidade cultural daquilo que tem sido produzido no Brasil e no mundo, a Mostra exibiu em pré-estreia nacional, o filme Uma professora muito maluquinha, de André Alves, que contou com a participação de Ziraldo. Na Mostra Competitiva Diversidade Brasil, teve o lançamento do curta-metragem O Caminho das Gaivotas, de Alexandre Rodrigues, Bárbaro Ortiz, Daniel Herthel e Sergio Glenes, numa co-produção em parceria por meio de um projeto de cooperação cinematográfica entre Brasil e Cuba que em breve estará disponível para o público. Vale destacar a participação de crianças de escolas cubanas e brasileiras na discussão do conteúdo do filme. Após a sessão de lançamento, o público teve a oportunidade de conversar com os diretores e produtores num diálogo que trouxe as vozes das crianças revelando suas curiosidades  e impressoes sobe o filme, inclusive sobre a narração e voz da cantora cubana Omara Portuondo, que deu um brilho especial à poética e complexidade do filme.



 

Além de uma programação com atividades para as crianças, a mostra oferece uma programação para adultos. Aconteceu o 7º Encontro Nacional de Cinema Infantil reunindo produtores, diretores, distribuidores, exibidores, cineclubistas e secretaria do Audiovisual do MINC e coordenador da TV Brasil para discutir questões ligadas ao fomento, à produção e ao mercado para o audiovisual. Nessa discussão tão evidente quanto a importância de políticas públicas para o setor e para a infância, é a necessidade de bons roteiros para qualificar a produção nacional.

No Encontro da Comissão Nacional de Cinema Infantil, especialistas da área, produtores e cineastas - como Luiza Lins, Carla Esmeralda, Marialva Monteiro, Patrícia Duraes, Patrícia Alves Dias – discutiram com Secretária do Audiovisual do MINC, Ana Paula Santana, a importância de parcerias na elaboração de políticas públicas para o audiovisual. A secretária destacou que somente um trabalho coletivo que envolva e agregue os Ministérios da Cultura, da Educação, da Justiça, das Relações Exteriores pode repercutir na construção de uma política para a infância e que se nos últimos anos a infância tem sido das últimas prioridades, ela destacou que pretende inverter isso e assumindo tal compromisso publicamente.

Na continuidade da programação para adultos, vale destacar o Seminário Estadual de Cineclubismo, Cinema e Educação, que além da discussão o tema em questão serão lançados diversos livros sobre cinema e educação, entre eles, o de minha autoria Crianças, Cinema e Educação: além do arco-iris, fruto de uma pesquisa com crianças, realizada no Brasil e na Itália

domingo, 19 de junho de 2011

Produção audiovisual e digital de qualidade para crianças e adolescentes


Nos dias 14 a 16/6/2011 aconteceu a 5ª edição do Festival Prix Jeunesse Iberoamericano, em São Paulo, promovido pela Midiativa  e Fundação Prix Jeunesse  com parceria do SESC/SP, Goethe Institut e AECID/Centro Cultural da Espanha em São Paulo. A construção desse espaço de exibição e premiação de produções de conteúdo audiovisual, digital e interativo para crianças e adolescentes pretende não apenas incentivar a produção mas sobretudo discutir a qualidade de tais produções para a televisão e outros meios. Pensar e criar novos formatos que dialoguem com crianças e jovens de diferentes contextos socioculturais, no caso, latinoamericano, evidencia o desafio de articular as demandas de crianças e jovens com as demandas do universo da mídia, implicando a necessidade de discussão e capacitação a esse respeito.

Ao participar como avaliadora das produções, nesses dois dias, assisti a mais de 83 filmes e animações de diferentes duração e gênero, ficção e não ficção, exibidos em categorias de 10 a 6 anos, 7 a 11 anos e 12 a 15 anos, conforme programação do evento junto a diversos profissionais e especialistas com a tarefa de escolher as produções de destaque provindos de países como Colombia, Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai, Cuba,  Espanha e Brasil. Diante de tal diversidade, alguns temas são recorrentes e tratados de diferentes formas no universo da produção infanto-juvenil. 

Entre tantos, os que mais chamaram a minha atenção foram: 0 a 6 anos : 7 pets El condor pasa (Manuel Roman, Espanha), O caminho das gaivotas (Arbaro Ortiz, Daniel Herthel, Sergio Glenes, Alexandre Rodrigues, Brasil/Cuba), A velha a fiar (Cesar Cabral, Brasil), Cantamonitos Duerme negrito (Vivienne Barry, Chile, ver video abaixo); 7 a 11 anos: Enciclopedia (Bruno Gularte Barreto, Brasil), Com que sueñas (Paula Gomez Vera, Chile) Aqui estoy yo (Cielo Salviolo, Argentina), Centenario: Museo Nacional de Bellas Artes (Álvaro Ceppi, Chile), Pubertad –me gustas tu (Ernesto Piña, Cuba). 

Certamente precisaria muitos posts para comentar a beleza poética de alguns, a ética evidente de outros e a instigante estética presente cada um deles, que em suas formas e conteúdos expressavam uma polifonia de vozes e linguagens para dialogar com os diversos interlocutores. Assisti-los foi uma espécie de deleite, que para um estudioso e curioso do campo, só superado pelo momento da moderação, onde com demais avaliadores, alguns produtores e tantos interessados na questão, tínhamos a possibilidade de discutir aspectos dos indicadores considerados na avaliação (público alvo, idéia, roteiro, realização) e enriquecer nosso olhar com a problematização do olhar do outro. Além de encontrar pessoas conhecidas e conhecer tantas outras, foi um momento de troca muito especial, em que produtores, mediadores, professores e pesquisadores compartilhavam suas idéias e questões a respeito de diversos aspectos das diferentes produções que mais  se destacaram.

Entre as produções digitais e interativas, um aspecto que chama a atenção é a busca de novas possibilidades e caminhos para as produções, evidenciando as apostas ético-estéticas de cada proposta em suas formas e conteúdos. Ali foi possível problematizar a idéia que nem sempre encontra a técnica mais adequada para sua expressão e realização, onde por vezes a qualidade do artefato não vem acompanhada de um conteúdo significativo. Fica evidente o quanto ainda temos que avançar na discussão e produção de audiovisual e nos formatos digitais e interativos, e do quanto esse diálogo entre produtores, educadores e crianças é/pode ser profícuo.

Relacionado a isso, o workshop Is that funny?Humor in children’s TV:what children are really laughing about, (Humor: afinal do que as crianças estão dando risadas), por Maya Götz, foi providencial. A diretora do Instituto Central Internacional para a Juventude e a Televisão Educativa (IZI), de Munique, abordou em 3h, mais de uma década de estudos sobre o humor para crianças na programação televisiva. Ela situou diversos aspectos fundamentais para entender tal relação, não apenas ao endereçamento no que diz respeito à faixa etária e gênero, mas também a importância do contexto cultural na recepção. Entre as informações sobre como produzir para crianças, uma das questões que Maya mais enfatizou foi a necessidade de conhecer o público, ou seja, quem são essas crianças para quem se produz.

A esse respeito, fiquei particularmente satisfeita de ver como diversos aspectos de minha pesquisa (um estudo de recepção sobre um filme desenvolvido com crianças em dois contextos socioculturais no Brasil e na Itália) estão de acordo com o que Maya tem pesquisado em seus estudos .com a intenção de melhorar a qualidade das produções a partir do entendimento do que as crianças gostam.  Parte dos resultados dessa pesquisa será discutida na 10ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis , onde também haverá o lançamento do livro de minha autoria Crianças, Cinema e educação: além do arco-íris, que conta a história de tal pesquisa e traz as vozes das crianças que dela participaram.

Por fim, não poderia deixar de mencionar que tais atividades integraram um evento maior, o Comkids que também envolveu jornadas de negócios e wokshops propiciando um olhar mais amplo para sensibilizar diferentes setores da sociedade civil acerca do direito à produção cultural e da importância da mídia de qualidade comprometida com crianças e adolescentes.


sábado, 11 de junho de 2011

Expressoes geográficas, pedagógicas e comunicacionais



Quando afirmamos que as ferramentas da web 2.0 estão modificando as práticas culturais individuais e coletivas de crianças e jovens, costumamos enfatizara dimensão de autoria e produção, uma vez que cada vez mais se observa tal forma de participação na cultura digital. Crianças e jovens não apenas navegam na internet e participam de redes sociais, mas estão cada vez mais produzindo e compartilhando conteúdos. 

E o 3º Seminário da Revista Discente Expressões Geográficas, com o tema “Práticas Educacionais e Comunicacionais: Contribuições da Geografia para uma Pedagogia Cidadã”, que aconteceu na UFSC, nos dias 7 e 8 de junho, foi uma pequena amostra de tal participação estudantil. A iniciativa de estudantes do curso de Geografia da UFSC em organizar o referido evento e publicar sua Revista Eletrônica Discente é um exemplo concreto de como as tecnologias estão favorecendo certas interações e modificando certas práticas.

Convidada para participar da mesa de abertura abordando uma pesquisa sobre as tecnologias na formação de professores, fiquei feliz de ver o quanto estudantes sensíveis e bem (in)formados podem fazer a diferença no cotidiano universitário, sobretudo com a inquietação e o pensamento crítico que em geral caracterizam os estudantes que têm uma atuação e participação diferenciada na vida acadêmica. E isso certamente interpela e instiga a outras possibilidades de parceria e diálogo entre professores e estudantes.

Mais que compartilhar experiências de pesquisa, tal participação me fez pensar no que estamos propiciando aos nossos alunos da graduação em termos de aprendizagem e em que medida possibilitamos certas mudanças nessas e noutras práticas da relação pedagógica. Afinal, nos encontramos toda semana e permanecemos juntos por cerca de três, quatro horas. Nesse tempo da aula, que seria o espaço do encontro pedagógico, apresentamos e discutimos conteúdos, retomamos questões de leituras e exemplos práticos e enquanto alguns anotam e fazem diversos usos de seus laptops com diferentes janelas abertas, outros se debruçam cansados sobre as carteiras e quando interpelados, dizem “mas eu estava escutando”. E realmente esperamos que estejam...
E me pergunto em que medida conseguimos tocar os estudantes, instigar, alegrar, entristecer, enfim, mexer com suas idéias, reforçar algumas e rejeitar outras. Será que  saem da sala querendo conversar sobre isso e aquilo? Será que ficam com alguma pergunta? Será que aprendem alguma coisa para além do que é possível verificar em nossas insuficientes formas de avaliação?

Enfim, como estamos cumprindo nossa tarefa de criar um espaço de convivência (Maturana) ou uma comunidade de aprendizagem (Bruner) a partir de nossas experiências de ensinar e aprender? E de que maneira estamos desenvolvendo e transformando a nossa própria experiência pedagógica no sentido de criar outros espaços de significação?

De formas diferentes, é claro, porque temos vidas diferentes, espaços de perguntas e experiências distintas, penso que ainda assim é possível transformar juntos... E vendo aquele brilho nos olhos de jovens estudantes que produzem sua revista, fiquei pensando que em algum momento algo diferente foi criado e que eles parecem ter aceitado entrar no jogo e construir outros espaços de aprendizagem, convivência, interação, participação. E com isso, certamente vão construindo outros olhares e expressões “geográficas, pedagógicas e comunicacionais” sobre sua própria formação.


Imagem: site http://www.geograficas.cfh.ufsc.br/

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Encontro: escola e cinema

Iniciar uma discussão sobre cinema escola com a apreciação e análise do filme Onde fica a casa de meu amigo (Abbas Kiarostami, Irã, 1987) com Alain Bergala (Professor de cinema na Universidade de Paris III , diretor, crítico e ensaísta) é um bom começo. O filme segue uma criança e trata de questões da infância, tema que parece recorrente na obra diretor. Num país em que a censura não permite mostrar quase nada, falar com e sobre as crianças pode ser uma maneira para burlar isso e também de dar visibilidade a uma condição de pouca escuta às crianças. E o filme traz momentos de verdadeira poesia mostrando  que para crescer precisamos sair do lugar que conhecemos e enfrentar espaços desconhecidos, reais e simbólicos. E ao fazer isso, parece que a trama retoma aspectos do mito do herói da narrativa clássica, a iniciação, junto com elementos de Antígona, que no fundo, se deve “desobedecer” , o que também remete a uma possível alusão à situação política iraniana.

A acuidade do olhar de Bergala trazia pontos exatos do filme e referências precisas para reconhecer diversos aspectos, pontuando também seu enorme potencial para as crianças pensarem sobre o cinema e fazerem coisas a partir disso.

O segundo momento do encontro trouxe a presença do cinema no contexto escolar, destacando projetos consolidados na França, com princípios válidos para diversos contextos e as especificidades pedagógicas de alguns projetos no Brasil. Uma questão que se evidencia, é que esse processo quase sempre começa com pessoas apaixonadas pela sétima arte e, que quando há troca entre as experiências, é possível enriquecer e fortalecer projetos para buscar formas de legitimação política. E aqui os problemas parecem os mesmos: os professores não são preparados. No entanto, Bergala redimensiona tal questão e afirma que isso não é problema, pois um professor que quer aprender poder fazer a experiência, basta ter um projeto comum e as ferramentas para trabalhar com essa arte. E a esse respeito, aprofundou possibilidades dos dispositivos franceses ao mencionar a experiência do projeto Cinema: 100 anos de juventude  e os princípios pedagógicos para abordar o cinema com crianças e jovens.

Para falar do dispositivo português, a cineasta Teresa Garcia (Cineasta portuguesa) apresentou “Os filhos de Lumiere” http://osfilhosdelumiere.blogspot.com/  e a educação para imagem em movimento, contando a experiência e mostrando filmes feitos por crianças e jovens em parceria com cineastas e profissionais. Para ela, mostrar filmes e falar sobre os filmes é a melhor maneira de aprender sobre cinema.

No quarto ato, Alain Rivals (Administrador do dispositivo francês "Les Enfants de Cinéma") apresentou  um percurso de cinema para a formação de professores e projetos em sala de aula, e retomou aspectos do dispositivo frances com uma série de perguntas e questões ao articular as falas de Bergala e Garcia. Para ele, a relação pessoal de cada um com o cinema pode ser uma primeira questão para se pensar nas razões de trabalhar o cinema com os alunos. E ao retomar a diferenciação entre o processo de iniciação e ensino, Rivals destacou alguns obstáculos que dizem respeito ao significado da obra de arte na escola e ao trabalho de assistir aos filmes para realizar filmes no âmbito de um projeto artístico.

Por fim, se cinema é olhar é necessário auxiliar o trabalho de olhar. Estou certa que esse encontro promovido pela Escola Carlitos, entre os dias 2 a 4 de junho, certamente contribui para não apenas suscitar emoções e reflexões sobre o cinema mas para as diversas formas de olhar o cinema.



terça-feira, 31 de maio de 2011

Educação, museu e memória



Ao participar da Mesa-Redonda “Museu, Educação e Memória: perspectivas de acesso ao patrimônio cultural”, no dia 30/05/2011 no Palácio Cruz e Souza, promovido pela Rede Educadores em Museus de Santa Catarina, ficou evidente a necessidade e a urgência do diálogo entre educação, cultura e museu. Diálogo este que, por mais óbvio que possa parecer, ainda precisa ser construído.

Nessa aproximação dos campos, surge a pergunta: como os museus estão se mostrando nessa sociedade complexa e plural? Que histórias e registros da memória cultural estão proporcionando às pessoas, e que possibilidades de estudo de identificação do universo pessoal e social da existência humana têm oferecido? Que cultura material e imaterial estão sendo expostas? Por outro lado, como a educação e mais especificamente, a formação inicial de professores, tem usufruído de tais espaços? Eles são entendidos como espaços importantes da formação cultural dos professores e estão contemplados na formação acadêmica e nos currículos dos cursos das diferentes licenciaturas?

Se mais importante que falar em espaço museal é discutir o processo museal num campo fluido, diversas pesquisas apontam que tanto o processo quanto o espaço museal ainda parecem estar distantes do cotidiano do professor. E mais, uma pesquisa  recentemente desenvolvida com professores da rede municipal sugere que entre os consumos culturais e as atividades do tempo livre, a ida aos museus é das menos escolhidas pelos professores, que em nosso contexto, raramente freqüentam tal espaço. 

Diante disso, os desafios para aproximar o museu da educação parecem ser imensos e mais do que mediações e pontes a serem construídas, há necessidade de políticas explícitas a esse respeito. Parece que eventos como esses são fundamentais para tal viabilizar tais aproximações e perguntar por quais caminhos, de que forma e com que parcerias é possível repensar os museus e obviamente, a formação de crianças, jovens e professores.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Outros olhares sobre as crianças


Ao abordar os diferentes aspectos epistemológicos do conhecimento que tem fundamentado as pesquisas sobre criança, infância e educação, o desafio lançado ao grupo de estudantes que fazem a disciplina Educação e Infância II no Curso de Pedagogia era identificar as contribuições das diversas áreas no estudo e na pesquisa em torno da infância. Para tal estamos na companhia de diversos autores que tem pesquisado a esse respeito. Ultimamente temos discutido: infância, pesquisa e relatos orais; questões éticas e teórico-metodológicas da pesquisa com crianças e mídia; significados de escola e saber para crianças de área rural; crianças entre a sedução e o perigo das cidades; concepções de infância em diferentes grupos indígenas; crianças e suas produções escolares; crianças, mídia e cotidiano; crianças e os repertórios lúdicos contemporâneos.
Uma pesquisa dialogando com a outra numa verdadeira polifonia onde os sujeitos de pesquisa eram na maioria das vezes, crianças. No entanto, uma das questões que mais chamou a atenção das estudantes foi a respeito da concepção de infância entre diferentes grupos indígenas.

Para além do estudo e discussão do texto, convidei uma ex-aluna do curso, Joana Mongelo, que é indígena, e que em 2008.1 eu tive a felicidade e o desafio de ser sua professora e acompanhar seu estágio na escola do ensino fundamental em uma Escola Indígena e bilíngüe, da Aldeia Guarani de Morro dos Cavalos, distante cerca de 40km de Florianópolis. Experiência sem igual. Na semana passada Joana gentilmente conversou com o grupo esclarecendo uma série de questões a respeito do lugar que a criança ocupa naquela cultura e a respeito de uma série de perguntas que as alunas haviam ficado intrigadas: questões sobre liberdade, respeito, autonomia, aprendizagens, brinquedo, arte, trabalho, tradição oral, acolhimento, relação com a natureza, vida e morte, sagrado e profano.

Entre tantas lições que aprendi com Joana quando acompanhava seu trabalho na escola,  sempre  tentando controlar o tempo para poder acompanhar o estágio das outras estudantes nem  uma escola pública da ilha, lembro que ela dizia: "a professora está sempre com pressa e que quem está apressado não ouve Deus". Aliás, ainda hoje ela fala que o “o juruá (forma de se referir aos brancos) é muito rápido e não presta atenção...”. Na verdade, Joana tem razão: tem tantas coisas que verdadeiramente não prestamos atenção, sobretudo a respeito da criança na escola.. Haja pesquisa para decifrar os enigmas da infância e tantas faltas de atenção!

Para compensar, nada como uma discussão sobre a importância da brincadeira na educação da criança, sobretudo quando pretendemos contribuir para a construção de uma “infância feliz e saudável”. Um bom começo foi visitar o acervo do Museu do Brinquedo da Ilha de Santa Catarina, em exposição permanente no hall da Biblioteca Central da UFSC, tanto para recuperar a magia de certos brinquedos de nossa infância quanto para entender os repertórios lúdicos atuais.

Fotos: Crianças brincando na Escola da Aldeia Guarani de Morro dos Cavalos;  Crianças visitando o  Museu do Brinquedo da Ilha de Santa Catarina (acervo da autora)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Criação de redes entre pesquisadores


Nos dias 28 e 29 de abril de 2011, Juana M. Sancho e Fernando Hernandez, professores e pesquisadores da Universidade de Barcelona, estiveram na UFSC para conversar com professores, pesquisadores e estudantes da graduação e pós-graduação do Centro de Educação. A conversa foi muito estimulante e altamente inspiradora. Tentarei sintetizar alguns aspectos que chamaram minha atenção.

Ao situar o contexto da reestruturação da universidade espanhola, Juana apresentou a trajetória do grupo de pesquisa que eles coordenam, o Esbrina - Subjectivitats i entorns educatius contemporanis, a equipe de pesquisadores, os princípios orientadores do grupo e a dinâmica de trabalho que eles vêm construindo e consolidando nos últimos anos.

Diante de um cenário em que as demandas e exigências de diferentes instituições e agências de fomento têm imposto um viés cada vez mais competitivo entre os grupos, fazer pesquisa e divulgá-la no mundo torna-se uma atividade mais que necessária, vital para o cientista e pesquisador. E a forma que o ESBRINA encontrou para ser um grupo consolitat na Espanha, validado e certificado a partir de rigorosos critérios de avaliação, foi a construção de parcerias.

“As redes importantes são as pessoas que você conhece”, disse Juana, destacando uma condição para o trabalho de pesquisa e existência de grupos consolidados no contexto atual. “Ou estamos em rede ou não estamos. Ou aplicamos projetos coletivos ou não somos pesquisadores hoje”. No entanto, não basta apenas juntar grupos, sendo necessário interrogar a força de pesquisa dos grupos de cada universidade. Se for só um, dificilmente se sustenta.  E isso de certa forma referenda o que temos buscado construir no grupo de pesquisa que coordeno, pois parece que estamos no caminho certo quando buscamos diálogo e parceria com outros pesquisadores.

E assim fomos conhecendo um pouco do processo de construção coletiva do grupo Esbrina, que em catalão significa indagar, mirar. É formado por 37 professores e pesquisadores de diferentes grupos e instituições em que o trabalho de liderança pedagógica é muito importante para autorizar a todos aprender e ensinar. Aliás, uma característica do grupo que ficou evidente é a atuação de cada um a partir de uma decisão coletiva, fundamental para implicar a todos no trabalho.

O grupo se reúne periodicamente com reuniões de formação em que as pessoas se comprometem a participar de projetos coletivos e colaborativos a partir de estudos desenvolvidos no grupo. “Se as pessoas não produzem ‘produção científica’, não participam do grupo Esbrina”, enfatiza Juana. E continua: “para estar no grupo e ser membro participante é necessário se comprometer em publicar pelo menos 2 artigos por anos em revistas indexadas”, esclarecendo que “se a pessoa não quiser ser participante, pode ser apenas colaborador”. Afinal, “o grupo tem que produzir não só projetos, mas produção científica”, pois sabemos que é pesado carregar quem  não produz. E com todas as críticas que se possa fazer em torno da questão dos tipos de produção e avaliação, um contraponto é a possibilidade de “ficar feliz em ser avaliado porque pelo menos alguém te olha... “

Mas por que destacar esses detalhes de participação se cada grupo tem sua história, identidade e  especificidade? Justamente pela possibilidade de troca e de aprendizagem, uma vez que essa questão tem sido muito discutida entre nós, sobretudo nos últimos meses, e diante da dificuldade que certos grupos de pesquisa encontram para organizar seus trabalhos e assegurar uma participação efetiva de seus membros e realmente comprometida com os interesses do grupo.

Outro aspecto que chamou minha a atenção é o belo trabalho de divulgação e socialização  dos projetos e da produção acadêmica que o Esbrina faz em seu repositório digital, construído  no site do grupo mantido por um funcionário altamente capacitado, um engenheiro de informática que também se interessa por temas da educação. Isso nos faz pensar na dificuldade  que enfrentamos diante de condições tão precárias de trabalho, quando por vezes nem é possível assegurar a presença de bolsistas para manter o site do grupo atualizado.

Movendo-se em diversos projetos nacionais e internacionais e com a perspectiva de uma  Rede e Criação de Centro de Excelência em Pesquisa e Inovação Educativa,  é importante  destacar que o Esbrina atua a partir de 3 Linhas de pesquisa: Aspectos institucionales, organizativos y simbólicos de los entornos educativos en contextos de cambio y complejidad;  Subjetividades emergentes, lenguajes y sistemas de inclusión y exclusión en la sociedad contemporânea;  Cultura visual y tecnologías del aprendizaje en la sociedad del conocimiento.

Diante do que foi brevemente exposto, parece inevitável inúmeros pedidos de pesquisadores para trabalhar junto a esse grupo. E para acolher dignamente Prof. Convidados, Prof. Visitantes, Pós-doc e Bolsistas com estágio no exterior, o grupo decidiu não receber mais de 2 pesquisadores por vez em cada campo de trabalho, a fim de assegurar boas condições a cada um. 

Por fim, aliado ao trabalho do Esbrina, Juana e Fernando destacaram a articulação do trabalho de pesquisa com o Centro de Estudios sobre el Cambio en la Cultura y la Educación, CECACE, e com o INDAGA-T. Afavoriment de l’aprenentatge autònom i col·laboratiu a través de la indagació i la utilització de tecnologies digitals. A respeito desse projeto, ao explicitar a filosofia e seus princípios de trabalho no contexto da inovação docente, Fernando finalizou com a pergunta: “Que estratégias de mudanças estamos desenvolvendo em nossa experiência pedagógica?”  

Sem dúvidas, uma boa indagação...